tag:blogger.com,1999:blog-37758145.post6593509667145059498..comments2024-02-27T12:02:36.300-03:00Comments on nota na pauta: ensaio sobre a visãojoêzerhttp://www.blogger.com/profile/10176017886370231964noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-37758145.post-86631247839456845022009-07-29T09:25:28.727-03:002009-07-29T09:25:28.727-03:00"além de ver, reparar". grande comentári..."além de ver, reparar". grande comentário, jayme.joêzerhttps://www.blogger.com/profile/10176017886370231964noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37758145.post-42732646263340295702009-07-28T17:32:27.570-03:002009-07-28T17:32:27.570-03:00Saramago é um ateu notório e diversas passagens da...Saramago é um ateu notório e diversas passagens das suas obras trazem a marca da descrença (basta ler, por exemplo, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"), mas é impressionante como, ao percorrermos as páginas do "Ensaio Sobre a Cegueira", saltam aos olhos algumas das implicações cristãs da narrativa (ou da parábola?). <br /><br />Um desses momentos, infelizmente não aproveitado no filme (aliás, algumas das passagens mais marcantes do romance não foram contempladas no filme e, talvez por isso, este não nos atinja com o impacto daquele), é um diálogo entre a mulher do médico, a única que vê, e a "rapariga de óculos escuros", ocorrido no apartamento da última (na peculiar grafia de Saramago, é a maiúscula, e não o tradicional travessão, que indica que fala uma nova voz, sendo que a primeira é a da rapariga):<br /><br />“Escuta, tu sabes muito mais do que eu... mas o que penso é que já estamos mortos, estamos cegos porque estamos mortos, ou então, se preferes que diga isto doutra maneira, estamos mortos porque estamos cegos, dá no mesmo, Eu continuo a ver, Felizmente para o teu marido, para mim, para os outros, mas não sabes se continuarás a ver... Hoje é hoje, amanhã será amanhã, é hoje que tenho a responsabilidade, não amanhã... Responsabilidade de quê, A responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam...”<br /><br />Ensaio Sobre a Cegueira, p. 241<br /><br />"A responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam" é lançada sobre os ombros daquela que continua a ver (de todo aquele que vê) - e é uma responsabilidade que pesa muito (“Se tu pudesses ver o que eu sou obrigada a ver, quererias estar cego...”, p. 115, ela diz num momento), mas que precisa ser carregada a todo custo. Ao considerar isso, não consigo deixar de pensar nas famosas palavras de Cristo em Mateus 5:14-16 ("Vós sois a luz do mundo...").<br /><br />Nesse sentido, a epígrafe do romance é lapidar:<br /><br />"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."<br /><br />Se a luz do evangelho nos permite olhar, que possamos ir além e ver; e se vemos, que possamos ir além e reparar (verbo que carrega o notável duplo sentido de "contemplar, atentar para" e de "consertar").Jayme Alveshttps://www.blogger.com/profile/07553810460214720889noreply@blogger.com