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Mostrando postagens de junho, 2011

a expansão evangélica e a retração intelectual do cristianismo

O cristianismo evangélico é um fenômeno que cresce a largos passos. Números do IBGE e da FGV dão conta de que os evangélicos já compõem 18% da população brasileira. Isso quer dizer, então, que a cultura do país está sendo impactada, certo? Errado. Por que a cultura evangélica não tem abalado as estruturas da cultura da mídia, do pensamento universitário, da cosmovisão secular humanista, do modo de fazer política? Em No place for truth , David Wells lamenta o fato de que “todo esse inchaço de crescimento evangélico não fez qualquer impacto cultural. [...] A presença de evangélicos na cultura norte-americana apenas causou uma marolinha”. No Brasil, o cristianismo evangélico avança. Há uma bancada evangélica no Congresso, músicos cristãos em programas de TV, milhares de pessoas marchando por avenidas. Tudo isso é importante e dá visibilidade ao cristianismo. Mas isso tudo nos dá credibilidade? Quanto disso tudo tem feito com que os descrentes nos vejam como uma alternativa séria ao sec

a música do mundo melhor, mas sem paraíso

Um repórter americano embarca de volta para os EUA quando o regime sanguinário do ditador Pol Pot passa a perseguir e matar todos os opositores. Seu amigo cambojano é preso e forçado a entrar no sistema de reeducação do novo governo. Esse é o enredo do filme Os Gritos do Silêncio (1984), no qual há uma cena que comoveu meio mundo. É quando o filme quer passar a mensagem de que a insanidade bélica pode ser curada por meio da fraternidade entre as pessoas. Parece um sonho, mas se todos se unirem, o mundo poderá viver sem divisões, como se fosse realmente um. Eu também gostaria que fosse assim. E o John Lennon também. É dele a bonita canção que o filme faz tocar: “Imagine” . Só há um problema. Não com a tocante melodia da música. Não com as boas intenções do filme ou do compositor. A questão é outra e talvez tenha passado despercebida para o diretor do filme, para o responsável pela trilha sonora e para nós espectadores. A letra de Lennon almeja um mundo sem ambição, cobiça, egoísmo.

os irmãos Arrais e a introdução atualizada

As histórias bíblicas parecem não mais fazer sentido para boa parte da juventude urbana contemporânea. Essas narrativas passaram a ser entendidas somente como alegorias cujos temas (pecado, redenção) são recodificados de acordo com as situações particulares de cada indivíduo. Essa é a análise certeira do sociólogo Fredric Jameson.  Não há dúvida de que as gerações se sucedem desenvolvendo sempre uma nova sensibilidade cultural e estética. É certo, porém, que adentramos o século 21 com o aumento do número de cristãos e também de céticos quanto ao cristianismo. Razões para a juventude questionar as instituições religiosas, há de sobra e desde sempre. Mas o CD Introdução , dos jovens irmãos André e Tiago Arrais, não está interessado em questionar a igreja enquanto instituição oficial. Este é um trabalho preocupado em reafirmar valores e doutrinas e encorajar a fé em Deus. Sua linguagem musical, mais próxima do idioma rítmico-melódico contemporâneo, é o veículo utilizado para apresentar

música, mitos, verdades

Talvez já exista uma certa fadiga do público quanto a palestras que envolvem música sacra e música popular. Principalmente, se considerarmos que alguns palestrantes abusam de chavões, historinhas sensacionalistas e, o pior, uma apresentação que não distingue entre fato histórico-social e lenda urbana. Vou comentar alguns pontos abordados nessas palestras, que povoam a internet na forma acessível do mp3 e do power point. Meu interesse é expandir esses pontos um pouco além do simplismo habitual e da falta de acuidade histórica e musicológica.  1) A música religiosa e secular dos negros nos EUA do século XIX : há palestrantes que ignoram o contexto histórico do surgimento do pentecostalismo e do desenvolvimento da música afro-americana. Segundo George Marsden (Religion and American Culture) , as comunidades negras eram intensamente religiosas e intensamente seculares. Essa vida sem a divisória entre atividades seculares e espirituais era uma herança das sociedades mais antigas. A conver

quem é o "mundo"?

"Mundo" não são pessoas. São ações e valores imorais, amorais e egoístas, são atitudes contrárias ao reino  de amor e justiça de Deus. Cristãos, dos mais simples aos mais eruditos, convivem diariamente com pessoas não-cristãs e sabem que, entre estas, existem pessoas de grande caráter e nobreza de alma.  Se perguntarem a um pastor ou a minha vó Maria  se não existem pessoas boas fora da igreja, é provável que ambos digam que pessoas boas e más existem em todo lugar. Minha vó acrescentará, com sua fé simples e sem maiores digressões metafísicas, que é bem capaz, meu filho, que existam mais pessoas realmente boas fora da igreja do que dentro (mas ela de forma alguma recomendará que alguém abandone a fé, a igreja por causa disso). Claro que tem gente que não sabe externar um pensamento mais equilibrado e acaba criando um apartheid espiritual mesmo. Lutar contra essa forma de segregação tem sido um engajamento de muito bom cristão. Quantas vezes ouvi sermões que apontavam para