Corre na internet o vídeo em que um segurança impede que um cliente pague um almoço para uma criança que vendia chiclete no shopping. Nele, vemos duas formas de violência em estado bruto.
1) Uma criança pedindo (e não comprando, como é regra dos nossos shoppings) comida. E numa situação de viver da caridade de quem lhe detesta, uma criança com fome é a primeira violentada.
2) Um segurança que obedece cegamente ao manual de conduta dos nossos shoppings. E sob a condição de perder o emprego caso não cumpra zelosamente o manual, ele se obriga a perder a compaixão, a compostura, a humanidade.
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Quanta violência já não foi cometida por pessoas que não hesitam em dizer "estou apenas cumprindo o meu dever"?
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Quanta violência já não foi cometida por pessoas que não hesitam em dizer "estou apenas cumprindo o meu dever"?
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Mas nesse mesmo vídeo, "tanta violência, mas tanta ternura", como nos versos de Mário Faustino. O cliente resiste e vai "cometer" ali um "crime de generosidade". Oferecer um prato de comida a quem pede é uma violação do manual do shopping. Vai ver os proprietários temem que a generosidade se espalhe e uma horda de famélicos invada seu latifúndio.
Antes invadissem mesmo. E nos esfregassem no rosto nossa insensibilidade, nossa má vontade, nossas vis prioridades, já que os filmes, os bestsellers, as canções populares e os púlpitos, meu Deus, até os púlpitos não nos transtornam nem transformam, mas apenas nos contam histórias antes de irmos passear nos nossos shoppings enquanto o sono não vem.
Mas, divago.
Minha admiração por todos aqueles que vão além do manual, além do seu dever, e doam, pagam, partilham, adotam. São esses que diminuem o clamor de crianças violentadas.
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