O ano recém-passou e conveniente-mente é hora de eleger novos objetivos e metas. É isso mesmo. Objetivos e metas, como num chato mas funcional plano de ação de uma empresa capitalista. Esqueça seus sonhos. Aquilo de“sonhar não custa nada” é uma meia-verdade, o que na visão de Millôr, não deixa de ser uma mentira inteira. Sonhar não custa nada porque não sai do domínio da fantasia, do reino encantado da imaginação. Um objetivo traçado e metas a cumprir, essas sim, custam alguma (ou muita) coisa, porque com uma chance na mão e um plano na cabeça chega-se a construir algo de sólido: uma carreira, um livro, um cd, uma tese.
Em 2007, tive acesso a discos, livros e filmes que sempre quis conhecer. Selecionei alguns que me proporcionaram um despertamento para novas formas de pensar o de sempre: o homem, sua arte, sua vida; e outros que me deixaram com um sorriso agradecido pelos bons momentos de entretenimento. Também importa que muitos dos selecionados não foram lançados nesse ano que se foi.
Discos:
Beethoven Piano Sonatas – Nelson Freire
Cláudio Santoro, Sinfonias nº 5 e 9 – Osesp
Haydn, As 7 Últimas Palavras de Cristo na Cruz
Schumann e Shubert – Antonio Meneses e Gerard Wyss
Que Estranho Belo Dia pra se Ter Alegria – Roberta Sá
Careless Love – Madeleine Peyroux
River, the Joni Letters – Herbie Hancock e convidados
Bach & Pixinguinha – Mário Sève e Marcelo Fagerlande
Livros:
O Mal-Estar da Pós-Modernidade – Zygmunt Bauman
Music Matters: a new philosophy of music education – David Elliott
Apocalípticos e Integrados – Umberto Eco
Dois Irmãos – Milton Hatoum
Lendo Música – Arthur Nestrovski
Música Sacra, Cultura e Adoração – Wolfgang Stefani
A Cultura da Mídia - Douglas Kellner
O Século da Canção – Luiz Tatit
Filmes:
O ano em que meus pais saíram de férias (Brasil) – Cao Hamburger
A vida dos outros (Alemanha) – Florian von Donnersmarck
Volver (Espanha) – Pedro Almodóvar
A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima (EUA) – Clint Eastwood
Maria (EUA) – Abel Ferrara
Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004) – Michel Gondry
Andrei Rublev (Rússia, 1966) – Andrei Tarkovski
A regra do jogo (França, 1939) – Jean Renoir
Vi, li, ouvi. Com novos olhos e ouvidos é que posso dizer alea jacta est – a sorte está lançada – para este ano que se inicia. Talvez melhor que "a sorte está lançada", seja a semente está plantada. No decorrer do estudo venho semeando novos grãos, colhendo de tudo e joeirando o que convém, o que é apropriado, o que deve ser feito.
Seguindo Murray Schafer, pedagogo da música, deixemos pra trás essa conversa de que é necessário conhecimento e sensibilidade para se entender a arte. Melhor falar em curiosidade e coragem. Curiosidade para ouvir e ver o novo e coragem para afirmar ou mudar de opinião. O novo de que falo não é o último lançamento, a última moda, o último grito. O novo pode ser uma antiga luz sobre o que já se leu ou uma nova interpretação do que já se cantou.
Então, estendamos a mão ao novo sem deixarmos de ouvir o que parece velho. Porque é quando mais confiamos na supremacia do agora é que não damos o justo valor ao que passou.
John Cage, o músico que deu o grito silencioso de independência da música, costumava desejar aos amigos o trocadilho happy new ears. É o que desejo a todos nós. Feliz ouvidos novos no novo ano.
*Reprodução do quadro de Juan Gris, Guitarra e partitura (1927)
Comentários
Boa sorte pra nóis!!!!
ehhhhhhhhh
feliz 2008 pra você , meu caro