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a vila e a religião


O filme A Vila (2004) conta a história de uma comunidade rural do século XIX cercada por uma floresta onde, segundo os moradores mais velhos, vivem criaturas sobrenaturais cujo território ninguém deve invadir sob pena de acarretar a morte para si e para os habitantes da vila.

A atmosfera de medo gerada pela suposta existência desses seres fantásticos e ameaçadores é utilizada pelos líderes da comunidade para incutir nos moradores a ideia de que sair da vila é extremamente perigoso para toda a comunidade. Mas do que mesmo está falando esse filme?

Para alguns, a história, seria uma analogia do “estado de emergência” criado pelo governo de George W. Bush após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Os Estados Unidos dificultaram a entrada de “suspeitos” estrangeiros e estabeleceram um invasivo sistema de vigilância interna a fim de evitar novos ataques.

A paranoia é cria do medo coletivo de que Aqueles que Não São Como Nós nos odeiam e querem nos destruir. O histórico norte-americano de “conspirações” só encontra paralelo no histórico comunista da fomentação de teorias conspiratórias.

No entanto, em vez de falar do estado policialesco que surge nos tempos de ameaça externa, sugiro duas outras leituras do filme A Vila. Uma, é a questão da existência de um sistema em que o elemento sobrenatural é usado como forma de coação e controle social.

Igrejas correm o risco de adotar esse sistema. Ali, um grupo pode infundir a noção de que o crente deve recolher-se ao seu mundo religioso fechado, sendo que o inimigo sobrenatural é superenfatizado. Segundo esse sistema exclusivista, não há arte, não há honestidade, não há fé, não há nada de bom e apreciável fora dos limites da igreja. Sua liderança sustenta que há uma ameaça externa em toda inovação, em toda tentativa de conhecimento fora dos muros daquela igreja. O novo é rejeitado antes de ser remodelado pela simples suposição de que a novidade traz em si os germes da destruição da comunidade.

Uma segunda forma de entender o filme está no pensamento de que, fora dos limites da religião, é tudo muito melhor. Muitos argumentam que a igreja proíbe, aterroriza, reprime as pessoas, cegando-as com histórias de que há uma ameaça externa improvável. Tudo é reduzido a uma questão de poder, de indivíduos tremendamente manipuladores de uma gente tremendamente passiva.

O problema de uma certa ala religiosa é achar que não há perigo e começar a viver despreocupadamente como se não houvesse amanhã. O novo é aceito sem reflexão, o conselho dos mais velhos é descartado com rapidez. Para alguns teólogos mais “ilustrados”, não haveria inimigo sobrenatural nem tampouco uma promessa de vida eterna.

Como edificar a vida da comunidade religiosa sem tornar o Mal um bicho mitológico da floresta? Como levar o evangelho da salvação sem fazer da própria comunidade religiosa uma vila exclusivista de gente autossuficiente?

Ensine a comunidade a entender o que lê. O "Examinai as Escrituras" não é apenas para descobrir a inesgotável riqueza da Bíblia, mas para usar o intelecto a fim de compreender o texto e o contexto: isso é estudo. Auxilie a igreja em suas reuniões. O "Não façais como alguns que deixaram de congregar-se" também nos alerta a apoiar o grupo de irmãos que se reúnem com o mesmo fim: isso é trabalho. Mantenha-se em contato com a Razão de existir da igreja. O "Buscai em primeiro lugar o reino de Deus" convida o ser humano a estar em constante ligação com Deus: isso é comunhão.

Sua vila congregacional não pode ser a igreja do medo, mas o lugar da esperança. Ela precisa de você. Então, busque fazer tudo com amor, pois "o amor lança fora o medo".

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