Na semana da Páscoa, a equipe de marketing do Santos Futebol Clube armou o evento perfeito. Seus meninos bons de bola iriam distribuir ovos de chocolate para portadores de paralisia cerebral e outras deficiências em uma instituição espírita, o Lar Mensageiros da Luz.
Tudo muito bonito e lustroso para a imagem. Só faltou combinar com a profissão de fé dos jogadores. O evangélico Roberto Brum, por exemplo, soube da visita agendada e pediu licença para não ir. Outros jogadores, como Paulo Henrique Ganso, Léo, Marquinhos, André, Fábio Costa e os idolatrados Neymar e Robinho, entraram no ônibus que foi até à instituição, mas ao chegar no local, não desceram do ônibus.
Muitos constrangimentos e arrependimentos depois, foram contar aos jornais que alguns jogadores não desceram temendo azar e outros declararam súbita iluminação espiritual que os orientou a não sair do veículo.
Segundo a Folha de S. Paulo, Robinho disse que a atitude “foi movida pela religiosidade de cada um”. Neymar, que é evangélico, falou que ficou sabendo dos rituais religiosos no local só quando chegou lá e que “tinha receio de não se sentir bem”.
Na disputa entre futebol e fé sempre quem perde é a segunda. Senão, vejamos as perguntas que muita gente gostaria de fazer aos jogadores de todas as crenças:
- Por que alguém aceita o evangelho cristão, mas fica só com a parte de amar os semelhantes que são semelhantes a ele mesmo?
- Como é alguém diz que não pisa em instituição espírita por motivo religioso mas frequenta boates e bares para espíritos inclassificáveis?
- Distribuir ovos de Páscoa é pagão e distribuir autógrafos é cristão?
- E como é que alguém que encara o pagode e o rebolation tem medo de “espíritos”?
De fato, as convicções religiosas de cada indivíduo devem ser respeitadas. O problema é que figuras públicas acabam sendo mais cobradas por suas atitudes e deles é exigida uma coerência de comportamento que não é praticada nem pelos seus críticos anônimos (incluindo este web-escriba).
A suma do que vistes, enfim, é: Tem jogador de futebol que é bom de fé e ruim de farra. Tem jogador com um pé na fé e outro na balada. E tem jogador bom de farra cuja fé está firmada na deusa-bola.
Comentários
Vou esboçar duas respostas à duas questões reflexivas que você deixou aqui. Faço isso na esperança que essas mesmas perguntas sirvam para reflexão adventista:
- Distribuir ovos de Páscoa é pagão e distribuir autógrafos é cristão?
E que dizer dos "popstars" adventistas (pastores, músicos, cantores...)? Mesmo o Arautos do Rei, quando de minha compra do CD "Por quê, óh Pai?", depois "Vale a Pena Esperar", promoveram a obra com autógrafos? Tenho-as aqui, agora mesmo... Tudo autografado!
Penso que, para nosso ganho, deveríamos encarar o "estrelato" de uma forma mais cristã.
- E como é que alguém que encara o pagode e o rebolation tem medo de “espíritos”?
Fácil. Dada a atual ênfase em "adoração contemporânea" que julga isonômicos todos os estilos musicais para a adoração, não se julgue a abordagem mundana desses mesmos estilos, uma vez que apenas rotular uma obra musical de cristã somente devido à letra, é um expediente fraco e irresponsável
Dizer que a farra é apenas com o samba secular e não com o gospel é, no mínimo constrangedor.
Que o episódio sirva de lição e questionamento, também a nós, pois a "célula-tronco" dessa escorregadela santista também possui seus hospedeiros adventistas.
Evanildo F. Carvalho
a pergunta "Distribuir ovos de Páscoa é pagão e distribuir autógrafos é cristão?" foi no sentido de que alguns jogadores evangélicos não compram ovos de Páscoa porque entendem que isso é paganismo. Ao mesmo tempo, encaram com naturalidade o estrelato secular. Os autógrafos dos jogadores não são de produtos ligados ao cristianismo.
Particularmente, não tenho problemas nem com chocolates na Páscoa nem com autógrafos, embora dê mais valor aos primeiros.
Só frisei que temos o embrião desse tipo de hipocrisia em muitos de nós... vale a reflexão.
Excelente artigo.
Evanildo