As recentes observações, e também conversas informais, sobre a música dos adventistas no Brasil, objeto de minha pesquisa na UNESP, me levam a perceber uma crescente preocupação quanto à qualidade do louvor congregacional durante os momentos litúrgicos. Como diz o música Ronnye Dias, entrevistado pela Revista Adventista (set/2011), há uma necessidade de maior qualidade na ministração do louvor nas igrejas.
Ronnye Dias tem passagem por várias
instituições adventistas, e foi contratado pela sede administrativa
paulistana da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), no fim do ano passado, para trabalhar no Ministério da
Música da Associação e como ministro de louvor da IASD Nova Semente. Recentemente, Ronnye Dias colaborou com o projeto Vida e Louvor, dirigido aos líderes e músicos da IASD na Região Centro-Oeste. O projeto visa ajudar os responsáveis pela adoração musical nas igrejas locais. Entre os pontos estudados, os participantes aprenderam sobre liturgia, funcionamento do ministério da música, percepção musical, música instrumental, e canto congregacional. Leia a entrevista a seguir:
Revista Adventista: No que o curso da região centro-Oeste difere do que tem sido
oferecido pela igreja?
Ronnye Dias: Basicamente em dois pontos: na formação e na seleção dos
candidatos. O curso de uma semana, apesar de também não formar nenhum músico,
ajuda muito no amadurecimento dos conceitos e favorece a ênfase prática das
aulas. Os alunos, por sua vez, são poucos, em torno de 30 e são indicados pela
igreja local, que subsidia parte dos custos.
RA: Alguns dizem que a Igreja Adventista tradicionalmente
valorizou sua produção musical, mas não o canto congregacional. Por quê?
RD: Nas últimas décadas, o espaço de atuação que os músicos
adventistas brasileiros encontraram disponível foi mais no campo da produção.
Nesse aspecto, de modo geral, alcançamos um patamar respeitável. Mas nos
últimos anos, o que se tem visto é a necessidade gritante de crescimento
qualitativo na composição, organização e ministração do louvor congregacional.
Ouso dizer que esse é o grande desafio da música adventista para este século.
RA: Como reverter esse
quadro?
RD: Resgatando o princípio bíblico do louvor como importante
ferramenta de invocação e adoração a Deus (Sl 22:3). O momento de louvor não
pode ser tratado como formalidade ou passatempo. Isso exige oração,
comprometimento, planejamento e ensaio.
RA: Quais são as ênfases do curso?
RD: Enfatizamos três pontos básicos: relacionamento com Deus,
serviço e treinamento. Em primeiro lugar, a adoração a Deus se baseia na busca
de intimidade com Ele e na submissão à Sua vontade (Jo 4:23). O segundo ponto é
que louvor é serviço. Devemos servir a Deus colocando as necessidades da igreja
acima do nosso gosto pessoal e satisfação. Por fim, é importante que os músicos
façam música com qualidade (Sl 33:3; 1 Sm 16:18). A semana que passamos juntos
não é suficiente para formar um músico, isso leva anos. Mas nesse período é
possível vivenciar experiências que despertam o gosto pelo estudo. Esta ano,
por exemplo, os participantes formaram uma orquestra.
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Nota na Pauta: A recente demanda por qualidade no louvor congregacional nas igrejas adventistas vem de um duplo interesse: a vontade, por parte de alguns líderes de louvor, de aumentar a intensidade emocional dos momentos de adoração coletiva; a preocupação, por parte da liderança da instituição adventista, com a origem e o tipo de manifestação religiosa que pode resultar da influência da música de louvor neopentecostal.
É visível que essa necessidade de renovar a música litúrgica vem do desejo de emular o "entusiasmo" e a "entrega" que caracterizam os momentos de adoração coletiva dos shows e cultos neopentecostais. Por certo, a observação contínua dos ministérios de louvor, estrangeiros ou nacionais, induz à percepção de que os pentecostais possuem um comportamento espontâneo na adoração e os protestantes são um grupo formal e rígido. E isso teria a ver com a música (embora se reconheça que a predisposição pessoal para determinados comportamentos e as formas de regência dessa música sejam bastante importantes para o aspecto geral).
Por isso, surgem sugestões de repertório para o canto congregacional, publicam-se livros falando de determinados passos para a adoração que seriam capazes de orientar a subida e descida dos picos emocionais da congregação. A escolha e a alternância de estilos diferentes de música durante o louvor congregacional é importante, mas até que ponto não se está jogando com as emoções das pessoas? Que músicas seriam mais adequadas, então? Aquelas do hit parade das rádios gospel? As da tradição do hinário adventista? As músicas dos ministérios de louvor de qualquer denominação evangélica? As mais antigas em conjunto com aquelas mais recentes?
São perguntas que os círculos musicais e teológicos adventistas estão tentando responder. Não sei quantos estão discutindo se essa necessidade de aperfeiçoar os momentos de louvor é uma necessidade real do adventismo histórico (com sua particularidade de interpretação bíblica e de missão) ou se é também uma necessidade motivada pela observação contínua dos padrões da adoração neopentecostal.
De toda forma, a necessidade de estudo musical e teológico é de grande valia, assim como a presença de músicos competentes e experimentados, como Ronnye Dias, no auxílio direto aos departamentos de música das associações administrativas e das igrejas locais.
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