Sócrates, o filósofo grego, morreu envenenado por uma bebida
feita de cicuta. Sócrates, o genial jogador, faleceu envenenado pela bebida alcoólica.
Nessa óbvia e trágica conexão greco-tupiniquim, o nosso Sócrates, rei do
calcanhar no futebol, tinha também seu calcanhar de Aquiles. Como ele mesmo
viria a admitir nos últimos meses, ele abusou do álcool e seu corpo começou a
cobrar essa dívida que, em geral, se paga com a vida.
É claro que nenhuma cervejaria convidou Sócrates para
protagonizar seus comerciais. Até porque em propaganda de bebida alcoólica só
tem povo sarado e “guerreiro”. E Sócrates não era um guerreiro de futilidades:
assim como lutou pela participação dos jogadores nas decisões importantes do
clube (criou a chamada Democracia Corintiana), ele lutou também pela
participação popular no processo democrático brasileiro. As Diretas Já não vieram
a tempo, em 1985, mas foi só uma questão de tempo.
Assim como Antonio Carlos Brasileiro Jobim, Sócrates também
tinha o Brasileiro no nome. Os dois tinham uma profunda ligação com o Brasil,
com a arte musical brasileira, com o futebol-arte brasileiro. As melodias simples e assobiáveis de Tom camuflavam a invenção genial. O simples toque de calcanhar de Sócrates era um desafio à lógica. As invenções mais geniais são as mais óbvias.
Jogador de
poucos e essenciais toques na bola, Sócrates fez da simplicidade a sua marca. Não
era um malabarista. Às vezes parecia até desengonçado, talvez porque fosse
difícil para um homem de 1,90 m equilibrar-se em pés tamanho 37.
Mas resolvia as dificuldades em campo com uma tranquilidade desconcertante.
Mesmo seu célebre toque de calcanhar não era um enfeite; era refinado e prático, utilizado para desmontar a razão pura dos zagueiros. Por isso, os
adversários não lhe roubavam a bola facilmente. Achavam que Sócrates iria recuar ou perder a bola, quando na verdade o Magrão estava preparando
com uma falsa lentidão seu bote final.
Antes de tomar o cálice de cicuta e morrer, Sócrates, o
filósofo grego, disse ao amigo Críton: “Devemos um galo a Asclépio; não te esqueças
de pagar essa dívida”. A ética do filósofo não morria com ele.
Após a conquista
do bicampeonato paulista em 1983, um repórter perguntou a Sócrates Brasileiro qual o jogador determinante para aquele triunfo. Sócrates disse que foi o
artilheiro Casagrande, o incansável Biro-Biro, o organizador Zenon? Nenhum deles. Sócrates
cravou: “Foi Émerson Leão. Sem ele, acho que não chegaríamos ao
título”. Só que o goleiro Leão era o maior opositor de Sócrates na Democracia
Corintiana. A voz honesta e a ética de Sócrates, o Brasileiro, eram ainda maiores
que seu extraordinário futebol. Valeu, Doutor!
Comentários
Como disse Sócrates, o filósofo: "A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser.
É uma pena que tais coisas aconteçam.Mas fica a lição para todos em especial a juventude:nada de drogas e bebidas alcoolicas.