"Eu odeio música clássica: não a coisa, mas o nome. Há pelo menos um século, a música tem sido escrava de um culto elitista medíocre que tenta fabricar autoestima agarrando-se a fórmulas vazias de superioridade intelectual. Pensem nos outros nomes que lhe dão: música "erudita", música "séria", "grande" música, "boa" música.
"Os compositores foram traídos por uma gente bem-intencionada que acredita que a música deveria ser comercializada como um bem de luxo, que substitui um produto popular inferior. Esses guardiões dizem: "A música que você adora é lixo. Em vez disso, ouça nossa grande música erudita". Mas a música é um meio pessoal demais para sustentar uma hierarquia absoluta de valores.
"Ao ouvir a palavra "clássica", muita gente só pensa em "morta". A música é descrita em termos de sua distância do presente, sua diferença da massa".
Esse foi um resumo canhestro das primeiras duas páginas do ótimo "Escuta Só: do clássico ao pop", livro de Alex Ross (Cia. das Letras). Concordo com ele sem tirar nem por.
E eu também odeio a música clássica quando alguém me diz que:
1) A música de Mozart me deixa mais inteligente [curioso que não fez do próprio Mozart alguém sensato! Fora que o genial Mozart estava mais para um roqueiro irreverente ou um sambista boêmio].
2) A música clássica faz bem para a saúde [ah, claro, Beethoven virou mingau de aveia. No máximo, a música de Haydn é boa para a digestão. Aliás, uma enorme parte de sua obra era composta para ser tocada após as refeições do príncipe Ezterhàza que o sustentava financeiramente]
3) A música clássica eleva a alma [só que tem música que eleva a alma, mas torra a paciência. Tem gente que diz adorar música clássica, mas em casa só aguenta ouvir cinco minutos de cada sinfonia].
4) A música clássica ilumina o espírito [deve iluminar só o espírito, porque o corpo apaga devido ao ataque de bocejos generalizado. Pior só o ataque de tosse que acomete a plateia entre um movimento e outro de uma peça]
5) A música clássica é dos homens de bem [que o digam dois ilustres amantes da música erudita, Hitler e Stalin]
Para mim, a música de Chopin, Bach, Shostakovich, Beethoven e cia. está bem viva e não tem nada a ver com esse museu [ou cemitério] que criaram para ela. Amo a música clássica, mas não espalho por aí que ela é a única música que merece a posteridade. Muitas vezes ela é vista como a panaceia da educação musical, como a redentora do gosto cultural. Só que acabam fazendo dela uma ditadura tão agressora quanto a tirania absolutista do hit parade popular.
Comentários
Para além do "minguau com aveia a la Beethoven".
Parabéns.
Jael Eneas
No campo nacional, "Trenzinho Caipira" Heitor Villa Lobos, música nada "morta".
É isso mesmo, Marcelo. Cada gênero possui a sua beleza (e a sua feiúra) única.
Mr. Jael, não sei como não inventaram um biotônico Mozart, né?
Alessandra, essa e outras mais, hein?
obrigado a vocês pela leitura e comentários
Tirando Bach e as últimas obras de Mozart, a música de Beethoven em diante fala muito mais a mim. Mas alguém me disse uma vez que grande música mesmo só a renascentista. Eu, hein!
Me desculpe, mas sou obrigada a discordar seu comentário “A música clássica faz bem para a saúde. [ah, claro, Beethoven virou mingau de aveia. No máximo, a música de Haydn é boa para a digestão...”
Existem vários estudos que comprovam que a música clássica faz bem para a saúde ( coração, mente...) Você precisa se informar mais antes de ironizar algo que é comprovado cientificamente.
Respeito sua forma de pensar e em algumas coisas concordo com você, mas tem que tomar mais cuidado ao afirmar certas coisas. As pessoas geralmente acreditam com facilidade.
Tudo de bom pra você! ;)
o problema é o modo como essa questão que envolve música clássica e saúde é colocada. Isso é dito como se a única música que fizesse bem às pessoas fosse essa.
Como se a gente ouvisse música como se estivesse correndo pra manter a forma ou como se estivesse degustando uma salada?
Há também pesquisas que dizem que o que faz bem é a música que se gosta de ouvir, não importa o estilo. O que faz mal é o excesso de volume, é o fone de ouvido, é a música deprimente...
Poxa amigo que bom que ouviu Beethoven e passa mal somente quando passa o caminhão do gás, imagine se tivesse ouvido Mitchel Teló então, que toca a cada 30 segundos em todos os lugares....acho que ia ser um pouco pior não.
O autor do comentário confunde sensatez com inteligência. É verdade que ambos costumam andar de mãos dadas, mas nem sempre. Se o autor do comentário não sabe a diferença entre as duas virtudes, deveria procurar um dicionário e não culpar a música clássica. Mozart era um gênio, já o roqueiro irreverente ou o sambista boêmio têm que comer muito arroz com feijão para produzir arte com o nível de sofisticação e qualidade que Mozart produziu.
2) A música clássica faz bem para a saúde [ah, claro, Beethoven virou mingau de aveia. No máximo, a música de Haydn é boa para a digestão. Aliás, uma enorme parte de sua obra era composta para ser tocada após as refeições do príncipe Ezterhàza que o sustentava financeiramente]
O Autor do comentário confunde alhos com bugalhos salpicados por preconceito . A música clássica pode fazer bem para a saúde de quem ouve e pode não ter o mesmo efeito para os compositores clássicos, que muitas vezes não tinham o mesmo público de cantores de axé e pagode, e portanto não tinham tantos meios de manter a saúde e o sustento. Era difícil ganhar a vida com música clássica já naquela época, hoje nem se fala, e isso afetou com certeza a saúde de muitos compositores.
O fato de a música de Haydn ter sido sustentada pelos Ezterhazi não quer dizer que não faça bem a saúde também. Uma coisa não exclui a outra. Aliás, esse fato não desqualifica a obra de Haydn em nada. Se formos por esses raciocínios tortuosos, muito mais desqualificada estaria a obra dos compositores atuais pois esses servem, com poucas exceções, aos interesses econômicos de gravadoras. Parece que o autor do comentário quis desqualificar a obra do Haydn simplesmente por estar ligada à elite, demonstrando mediocridade de raciocínio e até o mesmo preconceito que acusa nas pessoas que critica em seu artigo. Uma coisa não é ruim tão somente porque uma família nobre a financiou.
3) A música clássica eleva a alma [só que tem música que eleva a alma, mas torra a paciência. Tem gente que diz adorar música clássica, mas em casa só aguenta ouvir cinco minutos de cada sinfonia].
Argumento sem sentido e sem lógica que somente parte para a ignorância e não apresenta fundamentos racionais. “Torra a paciência” de quem não está acostumado a ouvir, ou melhor , de quem está acostumado com o ruído dos "pocotó" da vida. O próprio autor do comentário se denunciou nesse sentido. Se tem gente que não aguenta cinco minutos de cada sinfonia, pelo menos tenta, o que é bem mais louvável que a tentativa frustrada de desqualificar e de diminuir sem apresentar fundamento algum. As pessoas que não aguentam 5 minutos de cada sinfonia pelo menos tentam se afastar dos “ai se eu te pego” e dão uma chance a uma música de qualidade. É verdade que não é fácil gostar de música clássica. Não existem somente obras perfeitas e maravilhosas na música clássica.
4) A música clássica ilumina o espírito [deve iluminar só o espírito, porque o corpo apaga devido ao ataque de bocejos generalizado. Pior só o ataque de tosse que acomete a plateia entre um movimento e outro de uma peça]
Mesmas considerações do tópico anterior.
5) A música clássica é dos homens de bem [que o digam dois ilustres amantes da música erudita, Hitler e Stalin]
Esse argumento é, sem dúvida, o mais ridículo de todos.
Se formos aferir a qualidade dos estilos musicais com base na malvadeza dos seus ouvintes, o autor do comentário deveria se dirigir a um presídio e lá verificar quantos são adeptos da música clássica. Sem mais.