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o contato entre ciência e fé


Religiões como o cristianismo e o judaísmo partem da crença de que Deus criou o mundo. Sua busca não consiste em provar a existência de Deus, mas em entender a revelação divina para os habitantes do mundo. Teorias científicas como o evolucionismo partem da suposição de que não há Deus. Sua busca não consiste em provar a não-existência de Deus, mas em entender os mecanismos e processos que teriam formado o universo e o ser humano.

Dito assim, parece que não existe nenhum ponto de contato entre religião e ciência. No filme Contato (1997), em que a astrônoma Ellie Arroway (Jodie Foster) acaba captando sinais de vida extraterrestre emitidos do espaço, a religião e a ciência vão convergir e se opor em vários momentos.

Como todo filme de ficção científica, Contato tem seus malabarismos tecnológicos nada científicos, e nem por isso implausíveis. Mas é no campo das ideias que envolvem teologia e ciência, evidência empírica e experiência subjetiva que o filme abre alguns portas instigantes para reflexão.

Quando a notícia do sinal extraterrestre é divulgada, o governo norte-americano o trata como questão de segurança nacional. O conselheiro espiritual da Casa Branca, o pastor Joss Palmer, se aproxima da astrônoma com questões de ordem teológica. Ellie Arroway responde tanto aos políticos quanto ao pastor com um inabalável ceticismo.

A um senador que lhe pergunta por que o sinal alienígena foi enviado em números primos e não na língua inglesa, ela diz que “70% do planeta não fala inglês” e que a matemática é a única linguagem universal. Ao pastor que lhe pergunta se acredita em Deus, ela responde que, por ser uma cientista, ela precisa de evidências empíricas da existência de Deus.

Aqui, o primeiro ponto de divergência. A cientista precisa de provas concretas da existência de Deus porque é ateia ou porque é cientista? O argumento filosófico-naturalista procura compreender a vida surgida pelas vias do acaso. O cientista religioso estuda os processos da vida criada por Deus. Ser cientista não implica em ateísmo, assim como ser religioso não implica em moralidade superior. O que pode ser uma ponte contato entre cientistas e religiosos é que ambos, quando são esclarecidos, estão em busca da verdade.

No filme, os sinais emitidos do espaço são decodificados como um manual de construção de uma nave que conduzirá um ser humano a um provável encontro com as criaturas alienígenas. A partir daí, ciência e fé entram em debate:

Fanatismo religioso: como é de se esperar nesses casos, há um surto religioso no mundo, com fundamentalistas de toda tribo e língua aparecendo na TV e nas ruas. O extremismo religioso é aquele que impede que qualquer nova interpretação da vida e do mundo seja contada aos outros, a não ser aquela que lhe ensinaram. O fanático religioso age como dono exclusivo de Deus.

Racionalismo excessivo: a cientista Ellie Arroway repele o pensamento religioso. A ciência seria capaz de explicar tudo. Para ela, não há o que se chama de "vontade de Deus". Há, sim, erros e acertos provenientes das ações humanas. Alguns religiosos precisam aprender que Deus não é um titereiro manipulando bonecos, senão o próprio argumento do livre-arbítrio não faz sentido. O racionalismo se torna excessivo e totalizante quando se atribui à ciência e à razão um "poder superior" capaz de trazer alívio e refrigério à toda criatura. A descrição exclusivista e salvacionista da ciência é tão obtusa quanto o pensamento de que a religião é a raiz de todos os males.
  
O lugar da fé: a comissão organizada para selecionar o terráqueo que viajará ao espaço faz à Ellie a pergunta que não cala: “Você acredita em Deus?” A cientista não vê qual o objetivo da pergunta no âmbito de uma viagem ao desconhecido. Imagine se os religiosos é que fossem a minoria e a maioria de ateístas perguntasse à Cristóvão Colombo: "Você é ateu?" De fato, não faz o menor sentido. Não basta Ellie ser uma pessoa de fortes princípios morais. Se ela não compartilha da crença de 90% da humanidade em algum tipo de divindade, ela não está pronta para a viagem.   

Quando Ellie entrar na nave, ela vivenciará uma experiência singular em que aparentemente encontra um ser alienígena. Este, para fazer contato sem maiores sobressaltos, usará um personagem e um cenário das memórias de infância da astrônoma. Ela vai tentar debater com ele as questões que se espera que um cientista faça, mas tudo o que consegue é deslumbramento com a beleza do universo e inspiração quase religiosa. Contato dialoga tanto com a magnificência do universo quanto com os sentimentos mais íntimos do ser humano.

[Se você não viu este filme, se quiser, pule para o último parágrafo]
A viagem de Ellie dura apenas um segundo. Mas a câmera colada ao seu rosto registrará 18 horas de gravação de ruído e estática. Ela não tem uma prova material sequer de que fez contato pessoal com um extraterrestre. É claro que ela será confrontada com reações de ceticismo, o mesmo ceticismo que ela demonstrava em assuntos de ordem humanitária e religiosa. Outras pessoas, como o pastor, vão entender a experiência subjetiva de Ellie, sua jornada ao espaço sideral e sua jornada mental particular.

Ela não trouxe as respostas esperadas. O próprio alienígena não tinha todas as respostas científicas. Por isso, ela só tem palavras de fraternidade e esperança, palavras que podem ser só a soma de uma alucinação pessoal com a dúvida sobre a real fonte do sinal alienígena. Isso pode desapontar tanto o espectador religioso, que vai dizer que o filme ficou do lado racionalista, quanto o não-religioso, que vai dizer que o filme optou pela mensagem de fundo religioso. De minha parte, penso que essa tensão e oposição resulta num equilíbrio que valoriza o filme.

Durante um inquérito oficial, e diante da ausência de provas concretas, Ellie não insiste em dizer que aquilo que experimentou é uma verdade objetiva. A cientista entende que sua experiência não tem explicação científica. Não há provas exteriores, mas há evidências psicológicas que resultarão em ações transformadoras em relação a si e ao semelhante. Isso é algo que Carl Sagan queria dizer: não se tem (ainda) explicação para tudo. Há questões científicas às quais a religião não pode se opor. Há questões subjetivas que a ciência não pode explicar.

O contato entre cientistas e religiosos só é possível quando ambos são humildes o suficiente para responder da maneira mais corajosa possível a algumas questões dizendo "Não tenho todas as respostas". 

Comentários

marcio goncalves disse…
filme muito bom, um dos meus prediletos (ainda mais como fã da Jodie Foster) - interessante é que o livro é de Carl Sagan, ateu convicto.
joêzer disse…
então somos dois admiradores do filme e de jodie foster. Sagan supervisionou várias etapas da adaptação do seu livro, e embora tenha falecido antes do filme ser finalizado, a adaptação conseguiu ecoar o pensamento do autor.
megabr disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
megabr disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
megabr disse…
Quando se fala ciência e religião dentro do mesmo tópico, na visão de muitas pessoas ateias e religiosas cristãs, parece que se fala de agua e óleo, se tem a percepção de algo que não pode compartilhar o mesmo espaço-tempo;

A título pessoal permita me colocar um ponto de vista em relação a este ponto.
Como a ciência se move/produz?:(Ciência/processo científico 4 etapas)
1:)Observação
2:)Hipótese
3:)Experimentação
4:)Lei universal(tese).

Baseado neste principio só para dar um exemplo; Dezenas de cientistas ao redor do mundo descobrem curas/vacinas contra muitas doenças, mais somente quando após inúmeros testes do rigor científico foram aplicados e a teoria ou hipótese do cientista passou a face final: A Tese, lei universal;

Observar /teorizar(filosofar) é parte do processo científico, porem somente será REAL e VERDADEIRO, quando passem pela experimentação/reprodução controlada, e a tese seja Conclusiva ao ponto de ser lei universal, com tudo mesmo assim, será ainda relativo só vou citar 2 exemplos:
Nos séculos XVIII e XIX, as leis de Newton foram reformuladas por diversos matemáticos que desenvolveram técnicas para aplicá-las de maneira mais precisa.
No século XX, a teoria da relatividade de Einstein desmentiu a concepção clássica newtoniana de que a luz se propaga em linha reta. A hipótese de que os raios luminosos, ao passarem próximo do sol, sofreriam um desvio, foi confirmada por observações durante o eclipse solar de 1919;

Então dentro deste contexto imagine a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, e, veja quanto caminho falta para que se torne tese, por quase 2 séculos centenas de investigadores renomados tem dedicado suas próprias vidas, e o resultado é:
Uma lei, Uma tese, uma verdade, que não pode ser sustentada A LUZ DA CIÊNCIA;

O fato de que muitos religiosos-cristão(pois ha muitas religiones e tipos); acreditarem de que ciência e religião não vão juntas, é porque:
1)O marketing post Darwin, os convenceu que a "ciência não acredita em Deus" ou "a ciência tenta desacreditar a Deus", o que passou/passa é que quando um cientista(Homem que comprovada-mente produz teses) dá sua opinião "pessoal" sobre Deus, a mídia Darwinista coloca nos jornais A "ciência Opina","A ciência Diz".
Vc já escutou um medico dizer que "beber não faz mal" ...se não se abusa...?, é a opinião "pessoal" dele, mais a "ciência verdadeira" já provou que o álcool destrói a saúde.
2) Os Cristãos esqueceram que o pai da ciência é Deus, Deus criou o conhecimento; “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.” (Provérbios (Cap. 1.7).

A Ciência (Método da ciência) não é outra coisa que a busca constante da pura verdade, uma verdade que esclareça os problemas propostos; o cientista autentico esvazia sua mente de preconceitos e idéias/vícios preconcebidos e procura na natureza e leis que Deus criou as respostas para sua curiosidade, pois a "curiosidade é a filha da ignorância e mãe da ciência (do saber)";

Parece familiar? sim, tanto o homem cientista como o homem cristão convergem na sua busque-da, ambos procuram a verdade que traga Luz sobre sua ignorância, verdades que os tirem das sombras e duvidas do ser, e, nos aproximem mais de um saber Maior que tem todas as respostas;

Saudações

Max Rivera
http://www.conexaoviva.org


Algumas fontes:
http://nexus.futuro.usp.br/view.do?page=34
http://ciencianabiblia.zip.net/
joêzer disse…
Obrigado pela contribuição, Max!

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