Comecei a postar essas listas anuais na época em que comecei o mestrado. Desde então (e ainda agora no doutorado), o tempo para leitura de ficção ficou menor diante das obrigações de leituras acadêmicas e ensaios literários.
Meus livros do ano:
Beethoven (Lewis Lockwood) – obra
de fôlego que analisa a vida e a música do meu compositor preferido há muito
tempo,desde as aulas com o mestre Jael Enéas. Os amigos preferiam me ouvir tocando a "Pour Elise", mas meu espírito gostava mesmo era da "Sonata ao Luar".
A reinvenção do mundo: um adeus
ao século XX (Jean-Claude Guillebaud) – a nova mentalidade social, a
tecnologia, a cultura e nós que vivemos em meio a tudo isso. Para não renunciar à mudança por causa do passado e nem aprovar o novo só porque é o futuro.
A new song for an old world (Calvin Stapert) –
nos primeiros séculos do cristianismo, pensadores da estirpe de Clemente de
Alexandria, Tertuliano, João Crisóstomo e Agostinho escreveram textos sobre
música que ainda são bastante atuais.
Em busca de identidade (George
Knight) – um pequeno livro que mostra as tensões teológicas dentro da história
do adventismo. Deveria ser obrigatório para aqueles que têm a ilusória certeza de que o pensamento religioso/doutrinário já nasceu pronto e acabado.
Las culturas musicales (Francisco
Cruces et. al.) – conjunto de ensaios escritos por pesquisadores essenciais da
etnomusicologia. As relações entre antropologia, cultura, sociedade e música
favorecem um olhar mais abrangente não apenas sobre a música, mas sobre as sociedades
que praticam música.
O livro de areia (Jorge Luis Borges) – só o conto “O Outro” já vale a leitura do livro inteiro, que tem outras pequenas pérolas do grande escritor argentino.
A tentação do cristianismo: de
seita à civilização (Luc Ferry & Lucien Jerphagnon) – como uma religião
estrangeira seduziu o império romano e mudou aquele mundo. Publicação do debate
fascinante entre os dois pensadores.
A selva do dinheiro – reunião de
contos sobre o ser humano e o dinheiro. Olha a escalação de escritores: Tolstoi,
Tchecov, Poe, Joseph Conrad, Eça, Hawthorne, Dostoiévski, Maupassant, Kafka,
Fitzgerald, Gogol, London, Henry James, ...
Meus discos do ano:
Pra Ver o Rei (Curitiba Coral) – melodias
fortes, ritmos empolgantes, letras profundamente convictas do sentido de
missão. Marcas características do trabalho de Daniel Salles, regente e
compositor capaz de simplificar a teologia sem abdicar da poesia.
Princípio e Fim (Leonardo Gonçalves) – um disco autoral sem medo de ser erudito na produção musical e na expressão teológica.
Vida (Joyce Zanardi) – A simplicidade
sofisticada, a melodia bonita e despretensiosa: como é bom ouvir uma cantora sem a menor
afetação vocal (curiosamente, jovens cantoras Joyce Carnassale e Riane Junqueira têm a voz limpa, sem maneirismos na performance - seria efeito da "escola" do maestro Lineu Soares para a voz feminina? rs).
Europa Konzert from Lisbon – a Filarmônica
de Berlim na regência de Pierre Boulez, Maria João Pires ao piano, tocando
maravilhas de Ravel, Mozart e Bártok. Deleite puro.
Brasileiro: Villa-Lobos and Friends – com o brilhantismo de sempre, o fenômeno Nelson Freire reconta a trajetória da música para piano de compositores brasileiros.
Leaving Home: Rythm –
documentário inglês em que o maestro Simon Rattle fala sobre o ritmo na música
orquestral do século XX. A Sinfônica de Birmingham toca trechos de obras de Stravinski, Varèse, Messiaen, Boulez, Mahler e
Ligeti. Meus alunos de História da Música agradecem.
Canteiro – Não é “música pra
churrasco” (sem preconceito, mas com trocadilho). As rádios podem ter abandonado
a finesse e a poesia, mas André Mehmari e seus amigos músicos e letristas insistem
em fazer música popular requintada e inteligente.
Arautos do Rei, 50 anos – gravação
emocionante do concerto do cinquentenário que traz as vozes e as músicas que fizeram
história na música cristã. É mais que flashback. É flashblessing.
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