Estudo mostra que as pessoas ouvem sempre as mesmas músicas
[Iara Biderman, Folha de S. Paulo, 12.8.13]
A opção de ouvir toda e qualquer música nova está a um toque na
tela. E você vai sempre escolher aquelas mesmas velhas canções.
Quem crava qual será a sua
seleção são os autores de um estudo feito na Universidade de Washington sobre o
poder da familiaridade na escolha musical.
A pesquisa foi feita com mais
de 900 universitários, autodeclarados apreciadores de novos sons. Pelo menos
foi isso o que disseram em questionários prévios. Curiosamente, o lado B dos
participantes apareceu quando foram confrontados com escolhas reais entre pares
de músicas. A maioria optou por aquelas que tinha ouvido mais vezes.
Ouvir sempre a mesma música não
é falta de opção ou imaginação. Segundo o coordenador do laboratório de
neuromarketing da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, Carlos Augustos Costa,
é coisa da sua cabeça.
"O cérebro não gosta de
nada complicado. Se você ouve um som novo, tem de parar para entender, mas se a
música tem padrões familiares, é sopa no mel: você decide imediatamente
ouvi-la."
Familiar é um padrão musical
que a pessoa sabe reconhecer ou um estilo associado a memórias positivas.
"A música que você já
conhece tem um valor emocional enorme. Cada vez que você a ouve, a associa a
uma sensação de prazer e, quanto mais ouve, mais reforça essa associação",
diz a neurocientista e colunista da Folha Suzana Herculano-Houzel.
O compositor Arrigo Barnabé, que desde a década de 1980 faz experimentações
em música, diz ter a esperança que as novas plataformas ajudem a mudar o disco. "Hoje, com a internet e o
YouTube, vejo as pessoas mais interessados em ouvir novidades. Mas há a
tendência de a pessoa buscar o conforto, o que já conhece bem."
A causa do fenômeno é mais
material do que neuroemocional, na opinião do pesquisador e crítico musical
José Ramos Tinhorão. "A produção de música
popular obedece as regras do capitalismo, com uma grande quantidade de produtos
iguais sendo jogada no mercado. Isso começa a cansar e as pessoas sentem
saudades das músicas antigas", afirma.
As músicas megarrepetidas nas
rádios teriam então, segundo ele, efeito contrário.
Mas não funciona assim. "De tanto ouvirem, as
pessoas acabam se familiarizando e não sabem mais se gostam ou não. Mas criam
fidelidade", diz Rifka Smith, diretora da Radiodelicatassen, empresa de
planejamento de produtos radiofônicos.
A repetição funciona até um
limite. Grande parte do prazer da música é a oportunidade que ela dá ao cérebro
de antecipar como será a próxima frase musical, segundo Herculano-Houzel.
Na música conhecida, a pessoa
antecipa o prazer e é recompensada ouvindo o que já esperava. Vai querer
repetir a experiência. "Mas, quando o cérebro já tem a certeza absoluta do
que virá, perde a graça", diz a neurocientista. É a brecha para seu cérebro
ouvir algo de novo.
Mas o poder das velhas músicas
continua, afirma o professor de marketing Morgan Ward, autor do estudo
americano. "Quando as pessoas estão prontas para uma mudança, não querem
uma revolução. A maioria dos novos estilos musicais é só uma atualização do que
veio antes", disse Ward à Folha.
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Como foi feita a pesquisa
Os pesquisadores da Washington University fizeram três rodadas de
testes. A idade média dos participantes era de 23 anos
1) 386 pessoas classificaram o
grau de familiaridade com 24 músicas; depois receberam uma lista com 12 pares
das classificadas e tiveram 15 minutos para escolher a preferida em cada dupla
2) 244 pessoas escolheram para
ouvir 16 músicas em uma lista de 32; depois, classificaram o grau de
familiaridade com cada música
3) 276 pessoas receberam uma
atividade cognitiva leve (memorizar quatro palavras) ou mais pesada (20
palavras) para realizar e tiveram que escolher qual estação de rádio queriam
ouvir: se a de músicas novas ou a das 'dez mais'
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