Meninos, eu li. E reli. Tentando acabar a tese enquanto ela não acaba comigo, esse ano ainda foi de muita leitura acadêmica. Deu pra respirar de vez em quando:
Delas é o reino do céu (Karina Bellotti; Editora Annablume) – um estudo
minucioso sobre a produção evangélica para crianças (os produtos Smilingüido e
a revista Nosso Amiguinho). A autora, professora do departamento de História da
UFPR, demonstra como os valores religiosos e sociais são processados e
organizados para o consumo infantil.
Uma noite no palácio da razão (James R. Gaines; Editora Record) – a história
do encontro de Johann Sebastian Bach com o rei Frederico, o Grande. Com uma
narrativa prazerosa, o livro conta minúcias da vida dos dois grandes personagens
e vai avançando para o encontro do músico de fé com o monarca iluminista.
Sociologia da religião: enfoques teóricos (Faustino Teixeira,
organizador; Editora Vozes) – reunião de diversos artigos sobre estudiosos da
religião (Max Weber, Durkheim, Levi-Strauss, Geertz, Bourdieu, Peter Berger)
que funciona como uma introdução às principais teorias sociológicas da
religião. Em geral, as pessoas preferem leitura endógena, produzida por seus
pares religiosos, e descartam qualquer outra abordagem. Mas vale a pena compreender
que religião pode ser revelação, mas não deixa de ser um empreendimento das
sociedades humanas.
Samba e identidade nacional (Magno Siqueira; Editora UNESP) – partindo da
matriz religiosa e lúdica do samba, este livro mostra como o samba foi deixando
de ser elemento marginal para figurar um símbolo da identidade brasileira. Se antes
os ritmos de origem africana serviam à religião e ao entretenimento dos negros
escravos, no século XX o samba foi apropriado pela nascente indústria do rádio
e do disco e ainda foi “embranquecido” e cooptado para apoiar à ideologia do
Estado.
Music and its social meanings (Christopher Ballantine) – não pude ler
este livro inteiro, mas os capítulos 1 (sobre a esquecida relação entre música
e sociedade), 2 (uma leitura sobre a relação entre a obra de Beethoven e o
pensamento de Hegel e Marx) e 3 (uma visão filosófica e social das óperas de
Mozart) são fascinantes.
Religiosidade no Brasil (João Baptista Borges, editor; EDUSP) – compilação
de textos escritos por reconhecidos acadêmicos brasileiros. Do fenômeno
neopentecostal ao Santo Daime, do luteranismo ao candomblé, do judaísmo ao
presbiterianismo e à religião islâmica, análises bem fundamentadas sobre o
estado atual da religiosidade no Brasil.
O duplo (Fiódor Dostoiévski; Editora 34) – um funcionário público russo
se vê oprimido entre a imagem que tem de si mesmo e a realidade. Em seguida,
passa a ser acossado por alguém que nada mais é que seu próprio duplo. Em poucas
páginas, Dostoievski mostra a pequenez humana, a tolice da autoprojeção social
e as malhas da loucura. Rápido, mas não indolor.
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