Pular para o conteúdo principal

os melhores livros em 2013

Meninos, eu li. E reli. Tentando acabar a tese enquanto ela não acaba comigo, esse ano ainda foi de muita leitura acadêmica. Deu pra respirar de vez em quando:

Delas é o reino do céu (Karina Bellotti; Editora Annablume) – um estudo minucioso sobre a produção evangélica para crianças (os produtos Smilingüido e a revista Nosso Amiguinho). A autora, professora do departamento de História da UFPR, demonstra como os valores religiosos e sociais são processados e organizados para o consumo infantil.

Uma noite no palácio da razão (James R. Gaines; Editora Record) – a história do encontro de Johann Sebastian Bach com o rei Frederico, o Grande. Com uma narrativa prazerosa, o livro conta minúcias da vida dos dois grandes personagens e vai avançando para o encontro do músico de fé com o monarca iluminista.

Sociologia da religião: enfoques teóricos (Faustino Teixeira, organizador; Editora Vozes) – reunião de diversos artigos sobre estudiosos da religião (Max Weber, Durkheim, Levi-Strauss, Geertz, Bourdieu, Peter Berger) que funciona como uma introdução às principais teorias sociológicas da religião. Em geral, as pessoas preferem leitura endógena, produzida por seus pares religiosos, e descartam qualquer outra abordagem. Mas vale a pena compreender que religião pode ser revelação, mas não deixa de ser um empreendimento das sociedades humanas.

Samba e identidade nacional (Magno Siqueira; Editora UNESP) – partindo da matriz religiosa e lúdica do samba, este livro mostra como o samba foi deixando de ser elemento marginal para figurar um símbolo da identidade brasileira. Se antes os ritmos de origem africana serviam à religião e ao entretenimento dos negros escravos, no século XX o samba foi apropriado pela nascente indústria do rádio e do disco e ainda foi “embranquecido” e cooptado para apoiar à ideologia do Estado.

Music and its social meanings (Christopher Ballantine) – não pude ler este livro inteiro, mas os capítulos 1 (sobre a esquecida relação entre música e sociedade), 2 (uma leitura sobre a relação entre a obra de Beethoven e o pensamento de Hegel e Marx) e 3 (uma visão filosófica e social das óperas de Mozart) são fascinantes.

Religiosidade no Brasil (João Baptista Borges, editor; EDUSP) – compilação de textos escritos por reconhecidos acadêmicos brasileiros. Do fenômeno neopentecostal ao Santo Daime, do luteranismo ao candomblé, do judaísmo ao presbiterianismo e à religião islâmica, análises bem fundamentadas sobre o estado atual da religiosidade no Brasil.

O duplo (Fiódor Dostoiévski; Editora 34) – um funcionário público russo se vê oprimido entre a imagem que tem de si mesmo e a realidade. Em seguida, passa a ser acossado por alguém que nada mais é que seu próprio duplo. Em poucas páginas, Dostoievski mostra a pequenez humana, a tolice da autoprojeção social e as malhas da loucura. Rápido, mas não indolor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

o mito da música que transforma a água

" Música bonita gera cristais de gelo bonitos e música feia gera cristais de gelo feios ". E que tal essa frase? " Palavras boas e positivas geram cristais de gelo bonitos e simétricos ". O autor dessa teoria é o fotógrafo japonês Masaru Emoto (falecido em 2014). Parece difícil alguém com o ensino médio completo acreditar nisso, mas não só existe gente grande acreditando como tem gente usando essas conclusões em palestras sobre música sacra! O experimento de Masaru Emoto consistiu em tocar várias músicas próximo a recipientes com água. Em seguida, a água foi congelada e, com um microscópio, Emoto analisou as moléculas de água. Os cristais de água que "ouviram" música clássica ficaram bonitos e simétricos, ao passo que os cristais de água que "ouviram" música pop eram feios. Não bastasse, Emoto também testou a água falando com ela durante um mês. Ele dizia palavras amorosas e positivas para um recipiente e palavras de ódio e negativas par...

paula fernandes e os espíritos compositores

A cantora Paula Fernandes disse em um recente programa de TV que seu processo de composição é, segundo suas palavras, “altamente intuitivo, pra não dizer mediúnico”. Foi a senha para o desapontamento de alguns admiradores da cantora.  Embora suas músicas falem de um amor casto e monogâmico, muitos fãs evangélicos já estão providenciando o tradicional "vou jogar fora no lixo" dos CDs de Paula Fernandes. Parece que a apologia do amor fiel só é bem-vinda quando dita por um conselheiro cristão. Paula foi ao programa Show Business , de João Dória Jr., e se declarou espírita.  Falou ainda que não tem preconceito religioso, “mesmo porque Deus é um só”. Em seguida, ela disse que não compõe sozinha, que às vezes, nas letras de suas canções, ela lê “palavras que não sabe o significado”. O que a cantora quis dizer com "palavras que não sei o significado"? Fiz uma breve varredura nas suas letras e, verificando que o nível léxico dos versos não é de nenhu...

Bob Dylan e a religião

O cantor e compositor Bob Dylan completou 80 anos de idade e está recebendo as devidas lembranças. O cantor não é admirado pela sua voz ou pelos seus solos de guitarra. Suas músicas não falam dos temas românticos rotineiros, seu show não tem coreografias esfuziantes e é capaz de este que vos escreve ter um ataque de sonolência ao ouvi-lo por mais de 20 minutos. Mas Bob Dylan é um dos compositores mais celebrados por pessoas que valorizam poesia - o que motivou a Academia Sueca a lhe outorgar um prêmio Nobel de Literatura. De fato, sem entrar na velha discussão "letra de música é poesia?", as letras das canções de Dylan possuem lirismo e força, fugindo do tratamento comum/vulgar dos temas políticos, sociais e existenciais. No início de sua carreira musical, Dylan era visto pelos fãs e pela crítica como o substituto do cantor Woody Guthrie, célebre pelo seu ativismo social e pela simplicidade de sua música. Assim como Guthrie, o jovem Bob Dylan empunhava apenas seu violão e ent...