Ontem eu deveria ter assistido o clássico "Lawrence da Arábia", mas não foi possível. Tive que me conformar com o filme "Expedição Kon-Tiki". Para minha surpresa, comecei assistindo contrariado e terminei empolgado.
Quando garoto e ratinho da biblioteca do internato, li pela 1ª vez a história de Thor Heyerdahl, o norueguês que, junto com outros 5 experientes em maluquices, exceto um tripulante que era só um vendedor de geladeira, cruzou o Pacífico da costa do Peru à Polinésia numa jangada.
Foram 101 dias e 8 mil km de mar. Thor tem nome de super-herói, mas seu único poder é uma perseverança cega. Aliás, perseverança tem de enxergar além, e não deve enxergar muito bem ao redor, senão ela desiste.
Thor desafiou o mar e a National Geographic ao refazer, no século XX, o mesmo caminho feito há 1.500 anos por homens destemidos como eles. O que ele queria provar? Que, para as civilizações antigas, "os mares não eram barreiras, mas estradas".
Numa noite, a equipe conversa, estirada na jangada e olhando pro céu: "Há 1.500 anos, homens como nós navegaram sob o olhar dessas mesmas estrelas". "Parece que estamos sozinhos no universo". "Por isso ninguém responde ao sinal de rádio?". "Eles devem ter se destruído uns aos outros com as bombas de Hiroshima".
Alguém disse que andar pelo caminho de alguém vai te levar somente ao lugar onde esse alguém já foi. Para Heyerdahl, era preciso refazer o caminho porque a ciência estava esquecendo que ela é feita de explorações ao desconhecido e de limites humanos desafiados.
No trajeto, Thor será triunfante, mas ficará sabendo que sua esposa pode amar um explorador, mas não pode viver com ele. É, Thor, não se pode ter tudo na vida. E entre o amor à aventura heroica e a estabilidade familiar, a esposa sabe que Thor escolherá o primeiro e o fará antes que um aventureiro lance mão.
Eu ainda trocaria todos esses pensamentos estimulantes pela sessão de "Lawrence da Arábia", épico majestoso e incomparável. É, Joêzer, não se pode ter tudo na vida.
Foto em preto e branco da jangada real da expedição Kon Tiki, de 1947.
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