Entre as palestras que realizei nesse semestre, talvez as mais marcantes foram as duas que fiz no Campori de Jovens da Associação Sul-Paranaense. Meu assunto? A música cristã contemporânea. Pude, então, falar a respeito de verdades e mitos que cercam a música sacra. É um tema muito perpassado por questões de ordem pessoal: gosto individual, interpretações descontextualizadas, falta de noção sobre a missão da igreja e, principalmente, excessiva preocupação com estilos e instrumentos musicais.
A seção que não pode faltar, a de perguntas ao palestrante, centrava-se mais no uso de inovações musicais introduzidas nas igrejas. Eram as famosas "por que pode isso?", "por que não pode aquilo?", enfim, estávamos todos na fase dos "por quês".
Por isso, na sexta que vem, vou preparar uma seção no blog para escrever sobre verdades e mitos nas músicas sacra e secular. Não, não serei um oráculo provido das respostas para todos os males que afligem teu pensamento sobre música. Mas passou da hora de esclarecermos a questão. Até quando as pessoas estarão sujeitas a ouvir que "os tambores são malignos", que "as plantinhas morrem ouvindo rock e crescem viçosas ouvindo música erudita", que "a música clássica é a música natural" (!?), ...
De outro lado, há outros mitos como "Lutero disseminou o uso de música secular com letra religiosa" (é mesmo?), ou como "todo estilo musical serve para a adoração" (em qual contexto cultural?), ou ainda "se usaram música secular no século XIX devemos fazer o mesmo hoje".
Isso me faz lembrar de pelo menos duas deficiências nas abordagens do assunto nas igrejas:
1 - O debate musical: creio que o grande problema do qual muitos reclamam não é de ordem musical. É de ordem teológica. As pessoas querem resolver os problemas na música da igreja discutindo musicalmente, quando deveriam estar procurando soluções teológicas. Estão falando de escalas e estilos musicais, estão lançando anátemas na percussão, no melisma e até na pobre da síncope, coitada, quando deveriam estar esclarecendo a missão confiada à igreja.
Quando palestrantes se debruçarem sobre os contextos sociológicos e os estudos musicológicos fidedignos e quando os músicos se dedicarem ao conhecimento teológico e à compreensão da história da igreja, do sentido das boas novas e da missão denominacional, eles (eu incluso, sempre) debaterão menos a música e provavelmente modificarão seus argumentos em prol da pregação do evangelho.
Isso não deve levar a operações insensatas de evangelismo por meio da música. Ao contrário, o conhecimento deve guiar os passos musicais e espirituais sob mais luz. Debater, vá lá, mas sem perder a ternura. E o sentido da missão.
2 - O tempo dedicado à discussão musical: já teve gente que me perguntou por que, se esse blog tem o nome de "nota na pauta", eu não escrevo somente sobre música. Bem, alguém pode não gostar do trocadilho, mas não entender que não me dedico apenas a questões musicais aí já é outra história. Outro dia, me mandaram um longuíssimo e-mail com dezenas de links de videos e falas e versos e textos para que eu lesse e visse e ouvisse. Desculpe, mas não tenho fé suficiente para ser um crente nesse poder da música de que tanto falam.
Deslocam textos, misturam contextos, tudo para um pretexto de auto-de-fé musical-espiritual. Falam da música do céu como se a tivesse escutado; fazem uma apologia eurocêntrica da música anglo-saxã como se fossem colonizadores com um violino na mão e uma ideia civilizadora na cabeça.
De outro lado, os ardorosos defensores das estratégias gospel de evangelismo vêm armados de contemporaneidade e desprovidos de Bíblia. Falam do que é lícito, mas omitem aquilo que convém; defendem o que é amplamente lícito, mas não citam o que edifica a coletividade espiritual. E ambos os lados usam argumentos extraídos da própria Bíblia.
Precisamos abaixar o volume de nossos gostos desenvolvidos ao longo de uma vida para que a voz de Deus se faça ouvir na nossa música.
Comentários
Como diria o Apóstolo Paulo:
"Pois, por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência de outrem?" (I Cor. 10:29).
Tem muita gente querendo impor sua própria leitura da verdadeira "música santa" sobre outros e quando esgotam a Bíblia, partem para EGW.
penso que a liberdade de alguém será julgada por Deus mediante Sua revelação na Bíblia, com amor e também com justiça.
Não sou dado a tietagem das coisas que me agradam, mas não posso deixar de dizer que é isso mesmo. Como diria aqui no Rio: "é essa parada"!!!
Creio que a música é o reflexo artístico do indivíduo, se somos cristãos a nossa música deve ser cristã, ela reflete a identidade que temos e somos.
Enfim, acho que quanto mais os debates sobre música se desenvolverem, tanto melhor pra nós, tanto melhor pra quem escuta, tanto melhor louvamos a Deus com uma música mais "pensada" e vindo legitimamente do fundo da "alma" de quem exerce o louvor.
Abraço.
você disse que nossa música deve refletir a identidade cristã que temos. sintetizou bem o que eu quis passar no texto.
abraço
Mais uma vez quero agradecer por nos autorizar a postar seus textos em nosso site, inclusive esse já está postado.
Devo dizer que muito do que salientou nesse seu texto, também mencionei no qual escrevi mês passado [(http://vocalellos.com.br/news.asp?codigo=25) - (http://vocalellos.blogspot.com/2009/11/musica-adventista-falta-prudencia-e-bom.html) inclusive se quiser ler me sentirei honrado. Abordei de forma um pouco mais pratica sobre essas discussões musicais, mas em resumo creio que nos referimos ao mesmo ponto. Estamos discutindo demais sobre a música e esquecendo de cantá-la e ouví-la.
Quem dera muitos pudessem ouvir essa sua voz de bom senso.
Que Deus continue sempre usando-o como seu instrumento, grande abraço!
às vezes a discussão sobre música sacra vem muito baseada em gosto pessoal e preconceito de um lado, ou gosto pessoal e inovação sem bom senso de outro.
para que mais pessoas leiam, cabe a nós divulgar textos como esse também.
e vou lá ler seu texto.