Um mascarado entrou armado num cinema nos Estados Unidos e atirou
matando 12 pessoas. O assassino James Holmes, 24 anos, ainda não explicou o que
o levou a cometer essa atrocidade. Nem precisou. Já prenderam o “suspeito de
sempre”: a mídia.
O massacre aconteceu em um cinema em Aurora, no Estado do Colorado, que
exibia o filme Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge. Uma reação imediata é
dizer que filmes de ação e violência gratuita como esse induzem as pessoas a
cometer atos de violência.
Mas podemos dizer que a trilogia Batman incita a violência? Se
você também assistiu ao menos os dois primeiros filmes, nós vamos concordar em
um ponto: Batman não é um filme pró-violência; na verdade, é um filme sobre a
violência.
Batman é um herói traumatizado por ter presenciado o
assassinato dos pais na infância. Talvez por isso, sua linha moral é bem clara:
ele defende a retidão enquanto seus oponentes são ladrões e assassinos; os valores
morais e sociais defendidos por Batman triunfam no final, ao passo que são
derrotados os vilões que promovem a destruição e o terror.
O espectador atento percebe que os limites que separam a
vingança e a justiça podem ser obscurecidos quando os códigos civis e policiais
são quebrados. O herói notívago também se às vezes enredado na teia de retaliação
violenta por causa de ódio e ressentimento. Mas Batman não é um assassino e nem
defende a morte de inocentes. Não dá para comparar filmes de glamourização da violência como Velozes e Furiosos com a trilogia Batman.
Um filme ou um livro podem conter cenas de violência, mas podem defender posições nitidamente
contra a violência. O que acontece é que há pessoas que decidem fazer o que é
condenado pelo filme ou pelo livro.
É preciso considerar ainda e,
talvez, principalmente, dois fatores tipicamente americanos: a facilidade de
compra de armas de fogo e a cultura da notoriedade macabra.
Nos Estados Unidos, o ato de adquirir armas de fogo é tratado
como um assunto de defesa pessoal. O assassino tinha comprado pistolas legalmente
em lojas no Estado do Colorado e adquirido seis mil balas pelas internet. É óbvio
que ninguém precisa de tanto armamento para defesa pessoal na cidade de Aurora,
Colorado. Enquanto no Brasil há um incentivo ao desarmamento, nos Estados
Unidos até alguns grupos ditos cristãos são a favor da posse de armas de fogo.
A cultura da celebridade macabra é uma marca atroz da
sociedade norte-americana. Há uma lista imensa de assassinos de astros da música e da TV, serial
killers, autores de massacres em escolas e logradouros públicos cujos atos criminosos foram analisados seriamente como uma busca de reconhecimento social.
No estudo Seductions of Crime, Jack Katz descreve como os criminosos são motivados, entre outros fatores, pelo desejo de fama e pelo prazer e ousadia no ato do crime. Junto a essas razões está a busca pela celebridade. Mark Chapman, o assassino de John Lennon, chegou a dizer que "pensei que o matando adquiriria a sua fama - eu não era ninguém até matar o maior alguém do mundo".
Outros criminosos notórios, como Timothy McVeigh e o "Unabomber", solicitaram entrevistas a grandes canais de TV após seus atos brutais. O sociólogo Chris Rojek afirmou que ambos "queriam o horário nobre para expor e desculpar seu comportamento 'heroico'" [Celebridade, p. 169].
Aqui entram jornais impressos, telejornais e, sim, filmes que
amplificam os acontecimentos e veem sua audiência ser alavancada por uma
sociedade que morbidamente gosta de assistir atos de violência.
Não há uma explicação única e totalizante para esse evento
trágico. Como racionalizar um ato tão irracional? Mas claro está que o acesso às armas de fogo, a glamourização da violência e o desejo exibicionista de fama formam um caldeirão desumano e cruel que atrai e repele a sociedade ao mesmo tempo.
Comentários
obrigado pelo comentário, Áurea.