Quem tem mais de 30 anos aprendeu na escola que a II Guerra Mundial (1939-1945) foi uma guerra necessária que uniu as nações democráticas contra o nazi-fascismo, uma guerra cujos veteranos desfilam orgulhosamente nos dias cívicos, enfim, uma guerra justa do Bem contra o Mal. Claro que não foi só isso.
Na época, o cinema foi convocado a alistar-se como soldado-propaganda dos países aliados. Ao relembrar que a II Guerra teve seu início há 70 anos, relembro também 7 filmes, mesmo sabendo que essa guerra inspirou um número de filmes igual a setenta vezes sete. A seguir, um recorte temático com os filmes escolhidos:
A propaganda de guerra
Rosa da Esperança (1942) é um melodrama elegante sobre uma família inglesa aprendendo a conviver com a guerra. Seus personagens, em especial a matriarca, Sra. Miniver, enfrentam suas perdas com altiva perseverança, comovendo o público e levando-o a encampar o esforço de guerra. Até o presidente Franklin Roosevelt, percebendo a força da propaganda, pediu para o que lançamento do filme fosse antecipado. Filme correlato: Sargento York (1941), embora biografasse um herói da I Guerra, a combinação de virtudes morais e conflito bélico atendia aos anseios de defesa da liberdade.
A contrapropaganda
Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946): um ano após o fim da guerra, Roliúdi contabilizava os ganhos – filmes de guerra eram sucesso garantido -, mas já relacionava os danos. Enquanto os EUA oficialmente comemoravam o triunfo militar, esse filme retratava um período conturbado da vida dos recém-chegados da guerra: o reajustamento à vida comum - oficiais que têm comandar uma casa e não mais um exército, soldados vitimados pela amputação. Com honestidade e maturidade, o filme toca em seqüelas psicológicas e sociais que a sociedade ufanista teimava em esconder. Pra completar, esse filme é do mesmo diretor de Rosa da Esperança, o grande William Wyler, capaz de variar a mensagem com o toque certo.
As mentiras da guerra
Katyn (2007) também é o nome da floresta onde quinze mil oficiais poloneses foram enterrados quando a guerra mal começara. Durante décadas, o governo da extinta União Soviética, que dominou a Polônia até os anos 80, creditou a autoria dessa chacina aos nazistas. No entanto, a verdade assombrosa era que os soviéticos tinham sido os reais autores do crime. O diretor Andrzej Wajda, cujo pai foi assassinado naquela floresta, reconstitui a história com sobriedade e rigor técnico desde o início das tragédias familiares até o final devastador. Aqui, imagens do massacre.
As verdades da guerra
A Conquista da Honra (2006): O confronto mundial tinha estratégias heróicas e retiradas fragorosas. Mas tinha também muita encenação. Se todas as mídias foram alistadas no esforço de guerra, a imprensa era peça-chave para manter bem alto a moral das tropas. O cineasta Clint Eastwood desmistifica uma imagem publicitária que por muito tempo incentivou o ufanismo bélico: a bandeira norte-americana erguida por soldados no topo de uma montanha. A bandeira, querido símbolo da terra, é vista como uma idealização falsificada que serve a propósitos comerciais e políticos, que vende jornais e garante cargos. Uma cena: a reconstituição fake do levantamento heróico da bandeira encenada num estádio para milhares de pessoas.
O homem que começou tudo
A Queda – Os últimos dias de Hitler (2004): na verdade, Hitler foi o estopim de uma situação sociopolítica humilhante criada pelos vencedores da I Guerra Mundial (1914-1918) que deixou a Alemanha subjugada nos campos econômico, político e militar. Nesse cenário propício para o aparecimento de um ditador investido de promessas tão radicais quanto messiânicas, Hitler ascendeu ao poder com imenso apoio público. O próprio cinema alemão encarregou-se de corporificá-lo com doses de realismo que incomodou a muita gente por retratar Hitler como um homem, e não como o demônio racista e imperialista como sempre disseram. Filme correlato: O Grande Ditador (1940), em que Chaplin satiriza todos os ridículos tiranos, mais especialmente Hitler.
A resistência
Roma Cidade Aberta (1945) mostra uma cidade lutando contra o exército inimigo com as únicas armas que lhe restam: a solidariedade e a abnegação em prol da liberdade. Representada por uma mãe coragem, um padre defensor dos direitos e um jovem grupo de resistentes, a cidade italiana é pano de fundo também para uma revolução estética. Com parcos recursos, atores não-profissionais e uma câmera movimentada, o filme inaugurou o neorrealismo, em que a simplicidade técnica estava a serviço da denúncia das mazelas sociais. Filme correlato: Ladrões de Bicicleta (1949) é o lado mais sentimental da revolução neorrealista.
De quem é a culpa?
O documentário francês Noite e Neblina (1955) foi o primeiro filme a enfocar o Holocausto. Utilizando imagens de arquivo que registraram as atrocidades nazistas contra os judeus, o diretor Alain Resnais alterna essas cenas absurdamente cruéis com imagens dos crematórios e campos de concentração, alterna o preto-e-branco de corpos jogados em covas coletivas com imagens coloridas das câmaras de gás vazias. O diretor procura os oficiais nazistas que perpetraram tamanho horror e ouve a mesma resposta deles: “Não sou o responsável”. Mas então, de quem é a culpa? Com apenas 32 minutos de duração, sem fotografia edulcorada, sem música lacrimogênea, esse filme deixa na mente a indignação e, principalmente, a avaliação de que um grupo social pode ser vitimado por meio do poder político e com a cumplicidade da maioria da população.
Na época, o cinema foi convocado a alistar-se como soldado-propaganda dos países aliados. Ao relembrar que a II Guerra teve seu início há 70 anos, relembro também 7 filmes, mesmo sabendo que essa guerra inspirou um número de filmes igual a setenta vezes sete. A seguir, um recorte temático com os filmes escolhidos:
A propaganda de guerra
Rosa da Esperança (1942) é um melodrama elegante sobre uma família inglesa aprendendo a conviver com a guerra. Seus personagens, em especial a matriarca, Sra. Miniver, enfrentam suas perdas com altiva perseverança, comovendo o público e levando-o a encampar o esforço de guerra. Até o presidente Franklin Roosevelt, percebendo a força da propaganda, pediu para o que lançamento do filme fosse antecipado. Filme correlato: Sargento York (1941), embora biografasse um herói da I Guerra, a combinação de virtudes morais e conflito bélico atendia aos anseios de defesa da liberdade.
A contrapropaganda
Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946): um ano após o fim da guerra, Roliúdi contabilizava os ganhos – filmes de guerra eram sucesso garantido -, mas já relacionava os danos. Enquanto os EUA oficialmente comemoravam o triunfo militar, esse filme retratava um período conturbado da vida dos recém-chegados da guerra: o reajustamento à vida comum - oficiais que têm comandar uma casa e não mais um exército, soldados vitimados pela amputação. Com honestidade e maturidade, o filme toca em seqüelas psicológicas e sociais que a sociedade ufanista teimava em esconder. Pra completar, esse filme é do mesmo diretor de Rosa da Esperança, o grande William Wyler, capaz de variar a mensagem com o toque certo.
As mentiras da guerra
Katyn (2007) também é o nome da floresta onde quinze mil oficiais poloneses foram enterrados quando a guerra mal começara. Durante décadas, o governo da extinta União Soviética, que dominou a Polônia até os anos 80, creditou a autoria dessa chacina aos nazistas. No entanto, a verdade assombrosa era que os soviéticos tinham sido os reais autores do crime. O diretor Andrzej Wajda, cujo pai foi assassinado naquela floresta, reconstitui a história com sobriedade e rigor técnico desde o início das tragédias familiares até o final devastador. Aqui, imagens do massacre.
As verdades da guerra
A Conquista da Honra (2006): O confronto mundial tinha estratégias heróicas e retiradas fragorosas. Mas tinha também muita encenação. Se todas as mídias foram alistadas no esforço de guerra, a imprensa era peça-chave para manter bem alto a moral das tropas. O cineasta Clint Eastwood desmistifica uma imagem publicitária que por muito tempo incentivou o ufanismo bélico: a bandeira norte-americana erguida por soldados no topo de uma montanha. A bandeira, querido símbolo da terra, é vista como uma idealização falsificada que serve a propósitos comerciais e políticos, que vende jornais e garante cargos. Uma cena: a reconstituição fake do levantamento heróico da bandeira encenada num estádio para milhares de pessoas.
O homem que começou tudo
A Queda – Os últimos dias de Hitler (2004): na verdade, Hitler foi o estopim de uma situação sociopolítica humilhante criada pelos vencedores da I Guerra Mundial (1914-1918) que deixou a Alemanha subjugada nos campos econômico, político e militar. Nesse cenário propício para o aparecimento de um ditador investido de promessas tão radicais quanto messiânicas, Hitler ascendeu ao poder com imenso apoio público. O próprio cinema alemão encarregou-se de corporificá-lo com doses de realismo que incomodou a muita gente por retratar Hitler como um homem, e não como o demônio racista e imperialista como sempre disseram. Filme correlato: O Grande Ditador (1940), em que Chaplin satiriza todos os ridículos tiranos, mais especialmente Hitler.
A resistência
Roma Cidade Aberta (1945) mostra uma cidade lutando contra o exército inimigo com as únicas armas que lhe restam: a solidariedade e a abnegação em prol da liberdade. Representada por uma mãe coragem, um padre defensor dos direitos e um jovem grupo de resistentes, a cidade italiana é pano de fundo também para uma revolução estética. Com parcos recursos, atores não-profissionais e uma câmera movimentada, o filme inaugurou o neorrealismo, em que a simplicidade técnica estava a serviço da denúncia das mazelas sociais. Filme correlato: Ladrões de Bicicleta (1949) é o lado mais sentimental da revolução neorrealista.
De quem é a culpa?
O documentário francês Noite e Neblina (1955) foi o primeiro filme a enfocar o Holocausto. Utilizando imagens de arquivo que registraram as atrocidades nazistas contra os judeus, o diretor Alain Resnais alterna essas cenas absurdamente cruéis com imagens dos crematórios e campos de concentração, alterna o preto-e-branco de corpos jogados em covas coletivas com imagens coloridas das câmaras de gás vazias. O diretor procura os oficiais nazistas que perpetraram tamanho horror e ouve a mesma resposta deles: “Não sou o responsável”. Mas então, de quem é a culpa? Com apenas 32 minutos de duração, sem fotografia edulcorada, sem música lacrimogênea, esse filme deixa na mente a indignação e, principalmente, a avaliação de que um grupo social pode ser vitimado por meio do poder político e com a cumplicidade da maioria da população.
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