Há um tipo de voz conhecido como “voz pequena” que define tanto a incapacidade de cantar em alto volume quanto a atitude consciente de cantar com economia de recursos vocais. Vou tratar aqui do segundo quesito.
Desde a bossa nova, o canto sussurrado de João Gilberto tornou-se um paradigma de interpretação para a música popular brasileira. Tirando os descendentes diretos dessa maneira de cantar, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Nara Leão, outros cantores foram profundamente influenciados pelo modo bossanovístico de emissão vocal. Roberto Carlos, por exemplo, é um dos raros cantores românticos que não se esgoelam. Mesmo nos tempos do rock da Jovem Guarda, ele cantava e dirigia “nas curvas da estrada de Santos” com a maior calma.
Esse jeito mais despojado de cantar era característica de intérpretes estangeiros do naipe de Mel Tormé, Billie Holliday e Julie London. Nos últimos anos, essa tradição da voz pequena, como nota o jornalista Sérgio Martins (Veja, 2/9/09), se ouve no canto da brasileira Fernanda Takai e da americana Madeleine Peyroux. Essas cantoras dão uma interpretação contida às canções. Em seu canto não há excessos: como um bom editor (ou produtor), elas cortam as arestas e deixam apenas o que é necessário para que melodia e letra revelem seu sentido mais preciso.
O que esse retrospecto simplificado da performance vocal secular tem a ver com a música cristã contemporânea? Tudo. Os cantores evangélicos não inventaram nenhum modo de cantar. Ao mesmo tempo em que suas interpretações estão fundamentadas em sua própria concepção do que seria a voz ideal para determinado estilo musical, essas interpretações também estão calcadas quase inevitavelmente nas performances dos cantores seculares.
No Brasil, quais são os modos de performance que influenciam os cantores evangélicos?
Desde os anos 90, a forte penetração da música pop no meio evangélico diversificou tanto os gêneros musicais quanto os estilos de performance.
Para melhor explicação, voltemos à música popular. A cantora Elis Regina tornou-se também um paradigma vocal. Entretanto, apesar da alta qualidade de muitas de suas interpretações, Elis não raro enveredava pelo caminho do canto expansivo, colocando a lágrima e o riso na voz , teatralizando a canção, pois tudo convinha ao seu modo interpretativo quase sempre transbordante. Seria o oposto da interpretação límpida de cantoras como Gal Costa e, pra citar um exemplo recente, Roberta Sá.
Não é difícil notar que o estilo Elis de interpretação tinha muito da “entrega” performática dos artistas da soul music, do rythm and blues. A cultura gospel americana repercutiria profundamente na figura de intérpretes americanos como Aretha Franklin, Elvis, James Brown ou Whitney Houston, e alguns intérpretes brasileiros assimilariam essa influência na forma do canto expansivo, na teatralização do canto, no “cantar vivendo a letra da música”.
As igrejas cristãs brasileiras não abdicaram dessa maneira de cantar. Para citar exemplos: Alessandra Samadello e Leonardo Gonçalves são cantores cujas performances revelam altos indícios da forma expansiva de cantar. Regina Mota, em seus CDs solos, representaria, de outro lado, a contenção da performance vocal. Intérpretes ligados a igrejas protestantes históricas, como João Alexandre e Gérson Borges, preferem a voz contida das performances da MPB (Os intérpretes do rock ou do rap gospel ficarão para um segundo texto sobre o assunto).
Fique entendido também que os cantores que apresentam forte contraste de performance vocal entre si não são superiores uns aos outros, embora possamos ter preferência pessoal por este ou aquele. A personalidade de cada cantor, a percepção das exigências de cada canção e gênero musical, os registros de extensão de cada voz (se soprano, mezzo ou contralto, se tenor ou barítono), tudo isso faz parte da diversidade natural dos grupos religiosos.
Por outro lado, é difícil negar que há momentos (nos cultos, por exemplo) que demandam uma forma mais contida de cantar e que o canto excessivamente teatral sobrecarrega a canção, a qual, geralmente, já apresenta elementos dramáticos na letra e na melodia. A atenção da congregação acaba sendo dirigida ao gestual, às expressões faciais exageradas, ao maneirismo vocal. Há cantores que precisam aprender que, também na adoração, menos é mais.
Uma referência de muitos admiradores da voz são as cantoras norte-americanas. Não as cantoras do jazz, mas as estrelas do pop radiofônico. As musas do momento são Mariah Carey e seus hiperagudos, Celine Dion e seus gorjeios melodramáticos, Beyoncé e seus melismas apaixonados. Essas três cantoras, donas de um talento vocal insuspeito, são os rouxinóis inspiradores da filosofia American Idol: grito, logo existo. As divas do american brega motivam os e as concorrentes dos programas televisivos de cantoria de anônimos.
Por mais divertidos que possam ser tais programas, e até mesmo reveladores de talentos genuínos, a insistência na fórmula agudo-melismático-meloso gera clones que satisfazem a audiência, mas produzem o mal do novo século: o maneirismo melodramático. As novas gerações de espectadores acostumaram-se a tal ponto com esse modo de cantar que chegam a renegar os cantores que apresentam uma forma contida de interpretar.
Como já ressaltei, não quero dizer que só exista uma forma de cantar. No entanto, quando os fãs de música gospel assoviam e entram em histeria coletiva na hora em que seus cantores prediletos dão seus gritinhos apaixonados-por-Jesus, não seria hora de repensar o quanto a interpretação excessivamente teatralizada tem contribuído para estimular um comportamento cada vez mais semelhante ao das plateias de espetáculos pop? Ou estariam as novas congregações criando expectativas de performance sacra com base em sua escuta de ídolos da música pop?
Desde a bossa nova, o canto sussurrado de João Gilberto tornou-se um paradigma de interpretação para a música popular brasileira. Tirando os descendentes diretos dessa maneira de cantar, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Nara Leão, outros cantores foram profundamente influenciados pelo modo bossanovístico de emissão vocal. Roberto Carlos, por exemplo, é um dos raros cantores românticos que não se esgoelam. Mesmo nos tempos do rock da Jovem Guarda, ele cantava e dirigia “nas curvas da estrada de Santos” com a maior calma.
Esse jeito mais despojado de cantar era característica de intérpretes estangeiros do naipe de Mel Tormé, Billie Holliday e Julie London. Nos últimos anos, essa tradição da voz pequena, como nota o jornalista Sérgio Martins (Veja, 2/9/09), se ouve no canto da brasileira Fernanda Takai e da americana Madeleine Peyroux. Essas cantoras dão uma interpretação contida às canções. Em seu canto não há excessos: como um bom editor (ou produtor), elas cortam as arestas e deixam apenas o que é necessário para que melodia e letra revelem seu sentido mais preciso.
O que esse retrospecto simplificado da performance vocal secular tem a ver com a música cristã contemporânea? Tudo. Os cantores evangélicos não inventaram nenhum modo de cantar. Ao mesmo tempo em que suas interpretações estão fundamentadas em sua própria concepção do que seria a voz ideal para determinado estilo musical, essas interpretações também estão calcadas quase inevitavelmente nas performances dos cantores seculares.
No Brasil, quais são os modos de performance que influenciam os cantores evangélicos?
Desde os anos 90, a forte penetração da música pop no meio evangélico diversificou tanto os gêneros musicais quanto os estilos de performance.
Para melhor explicação, voltemos à música popular. A cantora Elis Regina tornou-se também um paradigma vocal. Entretanto, apesar da alta qualidade de muitas de suas interpretações, Elis não raro enveredava pelo caminho do canto expansivo, colocando a lágrima e o riso na voz , teatralizando a canção, pois tudo convinha ao seu modo interpretativo quase sempre transbordante. Seria o oposto da interpretação límpida de cantoras como Gal Costa e, pra citar um exemplo recente, Roberta Sá.
Não é difícil notar que o estilo Elis de interpretação tinha muito da “entrega” performática dos artistas da soul music, do rythm and blues. A cultura gospel americana repercutiria profundamente na figura de intérpretes americanos como Aretha Franklin, Elvis, James Brown ou Whitney Houston, e alguns intérpretes brasileiros assimilariam essa influência na forma do canto expansivo, na teatralização do canto, no “cantar vivendo a letra da música”.
As igrejas cristãs brasileiras não abdicaram dessa maneira de cantar. Para citar exemplos: Alessandra Samadello e Leonardo Gonçalves são cantores cujas performances revelam altos indícios da forma expansiva de cantar. Regina Mota, em seus CDs solos, representaria, de outro lado, a contenção da performance vocal. Intérpretes ligados a igrejas protestantes históricas, como João Alexandre e Gérson Borges, preferem a voz contida das performances da MPB (Os intérpretes do rock ou do rap gospel ficarão para um segundo texto sobre o assunto).
Fique entendido também que os cantores que apresentam forte contraste de performance vocal entre si não são superiores uns aos outros, embora possamos ter preferência pessoal por este ou aquele. A personalidade de cada cantor, a percepção das exigências de cada canção e gênero musical, os registros de extensão de cada voz (se soprano, mezzo ou contralto, se tenor ou barítono), tudo isso faz parte da diversidade natural dos grupos religiosos.
Por outro lado, é difícil negar que há momentos (nos cultos, por exemplo) que demandam uma forma mais contida de cantar e que o canto excessivamente teatral sobrecarrega a canção, a qual, geralmente, já apresenta elementos dramáticos na letra e na melodia. A atenção da congregação acaba sendo dirigida ao gestual, às expressões faciais exageradas, ao maneirismo vocal. Há cantores que precisam aprender que, também na adoração, menos é mais.
Uma referência de muitos admiradores da voz são as cantoras norte-americanas. Não as cantoras do jazz, mas as estrelas do pop radiofônico. As musas do momento são Mariah Carey e seus hiperagudos, Celine Dion e seus gorjeios melodramáticos, Beyoncé e seus melismas apaixonados. Essas três cantoras, donas de um talento vocal insuspeito, são os rouxinóis inspiradores da filosofia American Idol: grito, logo existo. As divas do american brega motivam os e as concorrentes dos programas televisivos de cantoria de anônimos.
Por mais divertidos que possam ser tais programas, e até mesmo reveladores de talentos genuínos, a insistência na fórmula agudo-melismático-meloso gera clones que satisfazem a audiência, mas produzem o mal do novo século: o maneirismo melodramático. As novas gerações de espectadores acostumaram-se a tal ponto com esse modo de cantar que chegam a renegar os cantores que apresentam uma forma contida de interpretar.
Como já ressaltei, não quero dizer que só exista uma forma de cantar. No entanto, quando os fãs de música gospel assoviam e entram em histeria coletiva na hora em que seus cantores prediletos dão seus gritinhos apaixonados-por-Jesus, não seria hora de repensar o quanto a interpretação excessivamente teatralizada tem contribuído para estimular um comportamento cada vez mais semelhante ao das plateias de espetáculos pop? Ou estariam as novas congregações criando expectativas de performance sacra com base em sua escuta de ídolos da música pop?
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Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.