A escola está desesperada. Como o aluno parece mais interessado em atualizar suas fotos no Orkut, os pedagogos acreditam que a escola precisa falar o idioma natural infantojuvenil para fazer o estudante de muito MSN e poucos engenhos se interessar pelo idioma natural acadêmico. A novidade é simples: se “todos” falam palavrão, então que os livros didáticos também falem palavrões.
Apesar do que sugerem expressões fortes como “os catetos da hipotenusa” ou “ácido desoxirribonucleico” ou, tirem as crianças do blog, “oração coordenada sindética aditiva”, os palavrões nesses livros são mais prosaicos.
Também ainda não foi o caso de Tiradentes aparecer xingando a mãe do delator Silvério dos Reis ou Zumbi mandando a corte imperial tomar banho num afluente do Rio Amazonas, mas o nível de recentes livros didáticos lançados em Minas e em São Paulo periga receber o carimbo censor pelo uso de “linguagem chula e imagens impróprias”.
O ensino escolar dos nossos pais e avós é acusado de ter sido baseado no autoritarismo e na repressão. A equação do sistema era: tabuada + decoreba = nota dez. Qualquer falha de memória ou desajuste de comportamento levava imperiosamente à palmatória ou à antigamente temível sala da diretoria.
As novas pedagogias libertaram os alunos da tirania da “tia” e da leitura em voz alta de Camões. Porém, só trocamos de ditadura. Em vez da leitura de Manuel Bandeira, temos a poetisa Pitty. Em vez de Fernando Pessoa, temos o pessoal do Pânico na TV. Agora, toda autoridade é concedida a Sua Excelência, o Aluno. A aula precisa ser divertida, senão as entediadas criaturas vão jogar no celular; o professor tem que entrar na sala personificando uma caricatura, senão os enjoados seres vão começar a retocar a maquiagem; o assunto tem que tratar do universo cultural adolescente, se bem que os entojados estudantes vão conversar sobre esse fascinante universo de qualquer jeito.
Estudar deve ser uma atividade interessante e ter seus momentos divertidos, mas a escola não é praça de alimentação de shopping.
Alguns nostálgicos que devem ter estudado nas “ótimas” escolas do Brasil-Império adoram dizer que no tempo deles era diferente – se sádicos ou masoquistas, são todos saudosos do argumento da chibata e da lição com resumo e questionário no final.
Apesar do que sugerem expressões fortes como “os catetos da hipotenusa” ou “ácido desoxirribonucleico” ou, tirem as crianças do blog, “oração coordenada sindética aditiva”, os palavrões nesses livros são mais prosaicos.
Também ainda não foi o caso de Tiradentes aparecer xingando a mãe do delator Silvério dos Reis ou Zumbi mandando a corte imperial tomar banho num afluente do Rio Amazonas, mas o nível de recentes livros didáticos lançados em Minas e em São Paulo periga receber o carimbo censor pelo uso de “linguagem chula e imagens impróprias”.
O ensino escolar dos nossos pais e avós é acusado de ter sido baseado no autoritarismo e na repressão. A equação do sistema era: tabuada + decoreba = nota dez. Qualquer falha de memória ou desajuste de comportamento levava imperiosamente à palmatória ou à antigamente temível sala da diretoria.
As novas pedagogias libertaram os alunos da tirania da “tia” e da leitura em voz alta de Camões. Porém, só trocamos de ditadura. Em vez da leitura de Manuel Bandeira, temos a poetisa Pitty. Em vez de Fernando Pessoa, temos o pessoal do Pânico na TV. Agora, toda autoridade é concedida a Sua Excelência, o Aluno. A aula precisa ser divertida, senão as entediadas criaturas vão jogar no celular; o professor tem que entrar na sala personificando uma caricatura, senão os enjoados seres vão começar a retocar a maquiagem; o assunto tem que tratar do universo cultural adolescente, se bem que os entojados estudantes vão conversar sobre esse fascinante universo de qualquer jeito.
Estudar deve ser uma atividade interessante e ter seus momentos divertidos, mas a escola não é praça de alimentação de shopping.
Alguns nostálgicos que devem ter estudado nas “ótimas” escolas do Brasil-Império adoram dizer que no tempo deles era diferente – se sádicos ou masoquistas, são todos saudosos do argumento da chibata e da lição com resumo e questionário no final.
A escola não pode usar as mesmas estratégias didáticas dos tempos de Deodoro da Fonseca. Mas precisava, em repúdio ao antigo sistema, se orientar pela cabeça da geração Playstation? Concordo que boa parte dos professores de Português/Literatura estão mais preocupados em fazer o aluno saber quais as características do Arcadismo que em fazê-lo se apaixonar pela leitura. Concordo que muitos professores de Artes querem que o aluno decore a lista de pintores impressionistas. Se o ensino for só isso, conheço uma professora melhor: a Sra. Wikipédia.
As desculpas rotas e esfarrapadas para a inclusão de palavrões nos livros didáticos: “todo mundo” xinga nos estádios, “todo mundo” fala palavrão no trânsito. O erro já está nessa inclusão generalizante: todo mundo fala. Entendo que a pornografia está ao alcance do controle remoto da TV e penso até que há mais pornofonia nos discursos políticos do que na boca do torcedor e que é um palavrão é menos imoral do que o desvio de verbas destinadas às escolas.
No entanto, a escola não deve ser a legitimadora da linguagem vulgar, mesmo que a educação no Brasil seja tratada como uma senhora de baixo calão. Como se vê, decisões tomadas por burocratas do ensino nem sempre espelham as necessidades ou reforçam as potencialidades da escola.
Não se trata de preconceito ou de hipocrisia. A questão é: a escola deve proporcionar o mesmo jargão eufórico dos estádios ou da programação da MTV? Ou a escola deve ajudar o aluno a perceber a diferença de postura que os diferentes espaços sociais requerem? A escola serve como campo de reforço da ofensa banalizada ou deve oferecer oportunidades para o aluno transcender seu mundo idiomático e cultural?
Os polêmicos palavrões não foram aceitos de boa vontade por quem está no labor diário da sala de aula, incluindo alunos. Tempos estranhos esses em que vivemos: agora são os alunos que mandam os pedagogos lavarem a boca.
As desculpas rotas e esfarrapadas para a inclusão de palavrões nos livros didáticos: “todo mundo” xinga nos estádios, “todo mundo” fala palavrão no trânsito. O erro já está nessa inclusão generalizante: todo mundo fala. Entendo que a pornografia está ao alcance do controle remoto da TV e penso até que há mais pornofonia nos discursos políticos do que na boca do torcedor e que é um palavrão é menos imoral do que o desvio de verbas destinadas às escolas.
No entanto, a escola não deve ser a legitimadora da linguagem vulgar, mesmo que a educação no Brasil seja tratada como uma senhora de baixo calão. Como se vê, decisões tomadas por burocratas do ensino nem sempre espelham as necessidades ou reforçam as potencialidades da escola.
Não se trata de preconceito ou de hipocrisia. A questão é: a escola deve proporcionar o mesmo jargão eufórico dos estádios ou da programação da MTV? Ou a escola deve ajudar o aluno a perceber a diferença de postura que os diferentes espaços sociais requerem? A escola serve como campo de reforço da ofensa banalizada ou deve oferecer oportunidades para o aluno transcender seu mundo idiomático e cultural?
Os polêmicos palavrões não foram aceitos de boa vontade por quem está no labor diário da sala de aula, incluindo alunos. Tempos estranhos esses em que vivemos: agora são os alunos que mandam os pedagogos lavarem a boca.
Comentários
R: A escola deve promover a euforia pelo desenvolvimento humano, levando em consideração que o indivíduo precisa aprender tudo o que há de diferente dos jargões dos estádios de futebol e da programação da MTV. Por que? Porque embora o mundo inteiro copie (como um autômato)quase indiscriminadamente o que se vê na televisão, há toda uma série de informações que não se encontra nela, mas nos romances, clássicos e afins. Miguel Falabella é que gosta de dizer(e mostrar em seus programas para idiotas) que a televisão não é e nunca foi escola para ninguém. Logo se vê, tendo-o como exemplo.
Mas pra falar a verdade, acho que o que faz a diferença preponderante nesse assunto todo é a mescla da religião com as esferas de vivência humana. Deus é o princípio e o limite sobre o qual deve ser construído o alicerce do desenvolvimento humano. Sem Deus, tudo é vão, tudo é incongruente, tudo é vago, tudo é vulgar.
falou e disse.