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o gospel genérico

Vamos fazer um exercício de honestidade intelectual e espiritual? Selecione 100 das mais populares músicas, “gospel” ou “não-gospel”, cantadas nas igrejas das mais diversas denominações protestantes. As mais populares pérolas da nossa Corinhologia.
Fez a Lista? Muito bem! Agora observe quantas delas um muçulmano não teria problema em cantá-las. Achou várias, não é? Agora veja quantas um judeu se sentiria à vontade entoando. São muitas, não é verdade? Continue com os espíritas kardecistas. Se o eixo das musicas é uma ode à Divindade (Deus, Pai, Senhor, Javé) e a recepção de bênçãos para quem canta, há muito de teísmo, de unitarismo, e os seguidores daquelas religiões não-cristãs não veriam problemas em seu canto, na realidade pan-religioso, mas que transmite muita “energia”, “luz”, “paz”.
Continue com a lista na mão, e procure aqueles em que há a palavra Jesus. Agora pense em nossos “parentes distantes” religiosos, das seitas para-cristãs: Mórmons, Testemunhas de Jeová, os da Ciência Cristã, ou os sincréticos como os do Santo Daime. Eles ficariam à vontade cantando essas músicas de um “Cristo genérico”? Numa boa. Ou seja, como o negócio é alimentar o subjetivo com sentimentos positivos, promover catarse e, até, transe, não há conteúdo doutrinário, com os pilares conceituais do Cristianismo bíblico, apostólico, ortodoxo.
Por outro lado, aquelas músicas que falam de Jesus Cristo, cantadas nas igrejas protestantes, são adotadas, tranquilamente, por católicos romanos ou orientais, porque nelas não há nada de especificamente reformado.
Se não há musicas específicas para o Calendário Cristão (Advento, Natal, Quaresma, etc.), fica difícil harmonizá-las com os temas dos sermões, exatamente porque elas se destinam ao sentir e não ao pensar.
A rejeição aos Hinos históricos não se dá porque eles têm melodias “antiquadas”, mas porque eles são teologia cantada, o que é uma chatice… Ninguém está a fim de refletir, mas de curtir! Como uma igreja é a sua teologia, e é o que ela canta, estamos numa pior.
Mas, os pastores não estão nem aí, pois não querem contrariar a freguesia, nem atingir o que traz resultados. Enquanto isso, uma música recente, que fala em Zaqueu, era tocada em radiolade ficha no “Bar do Zé”, alternada com clássicos de Reginaldo Rossi, enquanto a galera prosseguia em seus exercícios lúdico-erótico-etílicos.
Canta meu povo!

Por Robinson Cavalcanti, publicado originalmente com o título Das heresias no “louvor”.

Comentários

Este comentário foi removido pelo autor.
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Anônimo disse…
Tenho pensado muito nisto ultimamente... Está em nossas mãos elevarmos a qualidade, não sonora, mas teológica de nossas músicas.
Loren disse…
qto de doutrinário há nos salmos? são, quase em sua maioria, orações. são inspirados por Deus e ouvidos na boca de muitos tb. de qualquer modo, embora não concorde inteiramente com o texto, é uma questão a se pensar sim. shalom Joêzer!
marcio goncalves disse…
muito unilateral, este texto. Qual é mesmo o objetivo do louvor? Achei, tb, muito de cima para baixo (arrogante).
joêzer disse…
marcio,
pegue o hino como "Quão grande és Tu" ou "Porque ele vive". Em 3 ou 4 estrofes, a letra fala da criação, da cruz, da missão do cristão e da nova terra. Agora pegue a maioria das canções de louvor. Repete-se 3 vezes a frase "Tu és digno" e completa-se com "de louvor". Depois repete-se isso de novo e de novo ad nauseam.
Penso que ambos tem lugar na adoração, dependendo da hora e local. Mas a turma hoje dá muito mais espaço ao segundo tipo e vai esquecendo o segundo. Isso teria a ver com o abandono da reflexão e do estudo teológico em favor da teologia "o importante é sentir Jesus"? é bem possível.
Acho que é essa diferença que o texto, de forma irônica, tentou mostrar. E olha que o autor não é adventista.
Olá meu amigo! Excelente texto.
O objeto da crítica é exatamente alinahdo ao que temos visto na prática, inclusive em nosso meio.
Mas a se observar a experiência humana, nada há que não possa ser piorado...
Abx

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