Escolher uma música para cantar na igreja parece ser uma tarefa fácil. Mas não é. O sujeito recebe o convite, preprara uma mensagem musical para o final do sermão de sábado, acerta o tema com o pregador previamente, vai até seu estojo de playbacks, seleciona uma canção, ensaia, decora a letra, chega cedo no sábado de manhã, passa o som do microfone, confirma com o pastor qual o momento certo em que deve subir à plataforma para cantar e... ficou muito bom, obrigado, meu irmão, sua música “casou” com a mensagem, Deus te abençoe.
Essa organização toda que descrevi, nós sabemos, não é comum. Quase sempre aparece o frequentador habitual de muitos cultos: o Improviso dos Santos, um irmão que raramente falta. Sonoplasta atrasado, cabos velhos de microfones, convites em cima da hora, Dá pra você cantar uma música na escola sabatina também?, Mas não preparei outra música, Ah, canta qualquer coisa que você trouxe aí!
Não poucas vezes, o mensageiro se interessa mais pelos ensaios do que pela preparação espiritual. Não medimos esforços para ensaiar durante a semana, mas deixamos de lado a comunhão diária, a orientação divina. Daí que a qualidade técnica avança enquanto a qualidade espiritual fica estacionada. Por isso, às vezes vemos cantores com o “dom” de quebrar a atmosfera de reverência e entrega pessoal com seu repertório e sua forma de cantar. O problema do “cantor sem-noção” é mais espiritual do que musical.
A música para o final do culto, a chamada “música de apelo”, precisa ser muito bem preparada. O estilo da música e a mensagem da letra precisam estar ambas adequadas ao momento. E o jeito de cantar também. Não é preciso encher a canção de melismas do começo ao fim. Nem fica bem uma cantora passar toda a música com os olhos fechados concentrada na música. Fica o cantor lá com sua música e a congregação cá com seus sentimentos. Como diz a canção: "você com a sua música esqueceu o principal". Ainda que não queiram passar essa impressão, fica parecendo que cantores assim estão mais preocupados com eles mesmos do que com a congregação.
A mesma noção que falta a quem canta uma música de apelo, tipo “Quando Jesus te chama e Tu não vens...”, às 9 da manhã na abertura da escola sabatina, também falta a quem faz os melismas fora de propósito. Repito: fora de propósito. Há quem saiba dominar essa técnica e também colocá-la nos lugares certos e usá-la na hora adequada.
"Eis aqui esses melismas feitos numa sílaba só": toda canção que já virou clássica parece que só pode ser cantada de novo com uma multidão de notas para uma sílaba só. No estúdio de gravação, numa programação em outro horário, ainda vá lá. Mas na hora do apelo pastoral penso que o intérprete pode deixar a música mais limpa, mais clean, aparar as arestas, pronunciar bem as palavras, fazer o menos em vez do mais.
A escolha cuidadosa do repertório, a forma de se vestir e até de fazer os gestos durante a música são detalhes que fazem a diferença para a congregação. Por isso, não deixe para orar na hora da introdução da música. A oração começa bem antes. Lá nos ensaios. Na hora de escolher a música que vamos cantar.
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