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meninos, eu li em 2009

Depois de encerrar o mestrado, consegui diversificar um pouco mais minhas leituras e audições. Ler tanto sobre pós-modernidade, cultura da mídia e música gospel foi me cansando com o tempo. Destaco abaixo os livros que mais me marcaram, que ampliaram meu tacanho horizonte.




O resto é ruído, de Alex Ross

Um grande livro deste final de década. Com elegância na escrita e rigor na pesquisa, o especialista Alex Ross traça um amplo painel da música do século XX ao descrever os conflitos e contradições da música de vanguarda, do pensamento modernista e as interinfluências da música popular e da música erudita. Um entre tantos capítulos imperdíveis é aquele que relata que os artífices do jazz nos anos 1920 eram músicos negros de formação clássica que buscaram a sobrevivência profissional na música popular por causa da rejeição da indústria de concertos.


Celebridade, de Chris Rojek

Um ensaio de altíssimo nível sobre a cultura da celebridade, seu desenvolvimento histórico e sua consolidação na era do culto à imagem pública do indivíduo. Um livro essencial para entender a competição alucinante do indivíduo moderno para ser famoso (pelo bem ou pelo mal).



Cristianismo puro e simples, de C. S. Lewis

O autor não prega a fuga da igreja institucionalizada, situação em que cada indivíduo se serve na prateleira de doutrinas. Ele aponta, de forma clara, como o evangelho simples de Cristo pode ser vivenciado e testemunhado nas ações diárias. Capítulo marcante: o que fala da fé e da esperança cristãs.


Portadores de luz, de Richard Schwarz e Floyd Greenleaf

Uma história da igreja adventista do sétimo dia que não deixa de fora as tensões, os desafios, as marchas e contramarchas de uma organização cristã mundializada. Obviamente, é uma narrativa mais centralizada nos Estados Unidos, mas os autores aliam o pano de fundo teológico da direção divina a uma consciência histórica e sociológica com precisão.


O deserto dos tártaros, de Dino Buzzatti

Como é bom morar numa cidade que possui uma biblioteca pública que disponibiliza para empréstimo clássicos da literatura como este. A história de Giovanni Drogo, um soldado que espera uma guerra que nunca acontece para tornar-se um herói, é uma reflexão sobre o tempo que as pessoas podem desperdiçar em objetivos inúteis e irrefletidos, às vezes sendo um espectador da própria vida.

As cidades invisíveis, essa proeza literária de Ítalo Calvino, é uma viagem pela beleza das descrições de paisagens e pelo poder da imaginação humana.

A invenção de Morel, do argentino Adolfo Bioy Casares, é um conto de ficção cuja narrativa é tão fascinante quanto a escrita. Dizem que o seriado Lost teria se baseado na trama desse livro (mas não teria sabido imitar a genial concatenação das ideias do original).

Futuro da música, organizado por Irineu Franco Perpétuo e Sergio Amadeu, é um livro que não foi impresso e está disponibilizado gratuitamente por seus autores no site futurodamusica.com.br. Leia o capítulo sobre download e cópia de música e teste se seus conceitos sobre o assunto ainda serão os mesmos.

Cá pra mim, nesse ano tive minhas letras publicadas regionalmente - no jornal trimestral Viva Feliz, da IASD Central de Curitiba, com o artigo "Para viver com esperança"(tiragem de 25 mil impressões, nunca tive tanta chance de ainda não ser lido) - e, tremam, nacionalmente - na revista Bravo! de fevereiro está meu comentário sobre a microssérie global Dom Casmurro, e na revista Conexão JA está o artigo "Entre o sagrado e o profano". Será que posso contá-las entre as minhas façanhas juntamente com meus dois filhos e uma árvore plantada na quarta série do fundamental?

Ano que vem, boas leituras para todos nós.

Comentários

Victor Meira disse…
Bom leitor você, mano. Gostei. Tô namorando o livro do Alex Ross há um tempinho já, confesso. Só que tem um outro que penso em ler antes, que é a História Social do Jazz, do Hobsbawm.

No mais, o Lewis é bacana, e o Calvino é demais.

Abraço, e boa estrada literária em 2010!
joêzer disse…
victor,
o hobsbawn é sempre bom.
o único defeitinho do alex ross é passar voando pela música latinoamericana.
boa estrada pra nós!
Jayme Alves disse…
Muito interessante: as obras de Buzzati, Bioy Casares e Calvino propõem uma engenhosa combinação de fábula e reflexão, fantasia e ideias(sem desfigurar a fisionomia própria de cada uma, claro)... Um ano que inscreve esses três nomes na lista de leituras pode ser elevado, imagino, à categoria de memorável (pelo menos do ponto de vista cultural).

Outros autores cujas linhas, embora com traçado próprio, percorrem caminhos similares e que, se não ainda não tiver lido, possivelmente vão agradá-lo, são, dentre outros, Kafka e Borges (grande amigo e parceiro de Bioy Casares).

Ah, vou colocar as obras de Alex Ross e C. S. Lewis na minha gigantesca (e ainda em plena fase de crescimento) lista intitulada "livros que pretendo ler um dia"...
Jayme Alves disse…
Falando sobre "O Deserto dos Tártaros" e o tema da espera, existem alguns versos do poeta grego Konstantinos Kaváfis (1863-1933) que, acredito, propiciam um notável diálogo com o romance de Buzzati.

O título do poema, que frequentou listas de melhores poemas do século XX, é "À Espera dos Bárbaros" e, devido à sua extensão, não vou copiá-lo aqui, mas é possível lê-lo nesta página - http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet064.htm

Veja o que acha dessa aproximação entre as linhas do grego e as do italiano.

Fique com Deus e até mais.
joêzer disse…
jayme,
o borges é um alumbramento. até o prefácio que ele escreveu para "invenção de morel" é genial. seu "ficções" é livro para ser lido de tempos em tempos.

eu não conhecia o poema que você indicou. uma maravilha.
também não tinha percebido as conexões da minha leitura de buzzatti, bioy e calvino.

para o protagonista de "deserto dos tártaros", a espera do inimigo é também uma solução como para os habitantes "à espera dos bárbaros".
mas não nem os bárbaros nem os tártaros vêm.
todo esse povo se parece com um imenso "Pedro Pedreiro" esperando, esperando, esperando. ou como os dois viajantes à espera de um godot que não virá.
talvez nunca aprenderam que esperar não é saber.

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