Os homens e suas marcações de data. Quando o ano novo mal se avizinha, é um tal de prometer mais trabalho, profetizar trabalhar menos, renunciar a vícios, propor bons hábitos, jurar persistência, afiançar paciência, professar dietas, corridas vespertinas, devoções matinais e toda sorte de cuidados para manter a mente sã, de preferência num corpinho são.
O ano novo é como uma grande segunda-feira carregada de boas resoluções. Agora a coisa vai, dizemos! Relembrando as músicas de 2009, percebo que, para um autoproclamado músico, escutei pouca música. Decido, então, ouvir mais música. O problema de ouvir mais música é o risco de ouvir mais música ruim. E pior que música ruim é a música desnecessária. Aquela que ninguém precisava ouvir, mas acabou ouvindo só porque um blogueiro que acha que entende de música escreveu que você devia ouvir.
Claro, algumas coisas você não precisa ouvir, como: cantor breganejo com nome bíblico (Pedro & Thiago, Daniel,...), grupos pop com nome de número série de celular (nxzero, cpm-22), disco gospel infantil com título de canções que comecem com “dança do... fulano, beltrano ou mascherano” ou qualquer coisa que venha embalada em funk do bem, pagode de Jesus ou metaleira do senhor.
Do pouco que ouvi:
Vale a pena esperar, dos Arautos do Rei
Um CD que poderia chamar-se também “back to basics”. Sob nova direção, os Arautos conseguem renovar-se sempre, mesmo quando parece estar dando um passo atrás. No meio de tanta empolação de arranjo pop-orquestral e melisma que assola esse enorme país evangélico, o quarteto voltou ao básico, fez a lição de casa e apresenta um conjunto inspirado de letras diretas, melodias agradáveis e arranjos corretos.
O ano novo é como uma grande segunda-feira carregada de boas resoluções. Agora a coisa vai, dizemos! Relembrando as músicas de 2009, percebo que, para um autoproclamado músico, escutei pouca música. Decido, então, ouvir mais música. O problema de ouvir mais música é o risco de ouvir mais música ruim. E pior que música ruim é a música desnecessária. Aquela que ninguém precisava ouvir, mas acabou ouvindo só porque um blogueiro que acha que entende de música escreveu que você devia ouvir.
Claro, algumas coisas você não precisa ouvir, como: cantor breganejo com nome bíblico (Pedro & Thiago, Daniel,...), grupos pop com nome de número série de celular (nxzero, cpm-22), disco gospel infantil com título de canções que comecem com “dança do... fulano, beltrano ou mascherano” ou qualquer coisa que venha embalada em funk do bem, pagode de Jesus ou metaleira do senhor.
Do pouco que ouvi:
Vale a pena esperar, dos Arautos do Rei
Um CD que poderia chamar-se também “back to basics”. Sob nova direção, os Arautos conseguem renovar-se sempre, mesmo quando parece estar dando um passo atrás. No meio de tanta empolação de arranjo pop-orquestral e melisma que assola esse enorme país evangélico, o quarteto voltou ao básico, fez a lição de casa e apresenta um conjunto inspirado de letras diretas, melodias agradáveis e arranjos corretos.
A força da vida, de Joyce Carnassale
Não está cheio de canções levezinhas para ouvir “curtindo um som gospel contemporâneo”. Não se faz de modernoso como a maioria dos discos de cantoras modernosas seculares. Repertório de alto nível, arranjos que equilibram a tradição orquestral e a modernidade dos timbres eletrônicos: este não é um álbum para ouvir lavando o carro na sexta. É um CD que lava nossa alma todos os dias.
Miramari, de Gabriel Mirabassi e André Mehmari
Dois músicos excepcionais, um italiano (no clarinete), um brasileiro (ao piano), fazem o disco instrumental “inrotulável”: É erudito? É popular? É as duas coisas que somadas perfazem outra? Sei que ambos têm formação clássica, mas o que eles fazem não se pode chamar de clássico. Sei que ambos trafegam na música popular, mas o que fazem nesse álbum pode ser chamado de música de câmara. E o principal: não é um disco de arranjos eruditos de “crássicos” da mpb.
Debussy, de Nelson Freire
A gentileza do gênio do piano encontra a sutileza do gênio da composição. Nelson, com sua forma elegante e gentil de tocar, sem grito, interpreta músicas inebriantes e doces de Debussy. Um sopro de contenção no meio de tanta grandiloquência e regente exibicionista.
Euzinho aqui, estive anonimamente tocando meu pianinho. Para sorte dos seus ouvidos, caros leitores, o anonimato foi algo levado a sério. Teve uma composiçãozinha e muitos acompanhamentos ao piano para o Curitiba Coral. O melhor foi o privilégio de ter tocado uma grande música de Lineu Soares e Mário Jorge Lima, “Dá-nos mais poder”, para o trio Riane Junqueira, Joyce Carnassale e Allan Breno. Se tiver paciência, você pode ver nosso ensaio no youtube nesse link . O dono das imagens da apresentação ao vivo me fez o favor de não disponibilizar na internet. Quando eu digo que meu anonimato é levado a sério, ninguém entende.
Este foi meu ano musical. Desejo a todos um “happy new year” e, principalmente, um “happy new ears”. Que nossos ouvidos se renovem para que, acima da necessidade de valorizar as novas sonoridades e nunca desprezar os sons antigos, escutemos a voz do Senhor da nossa vida e da nossa música.
Atualização: desejo uma melhor memória pra mim no ano que vem. O letrista da canção "Dá-nos mais poder" não é Valdecir Lima, como escrevi antes, é Mário Jorge Lima. Obrigado ao leitor Guilherme Silva, que corrigiu o erro e manteve o alto nível do controle de qualidade do blog.
Comentários
parabéns pela memória. a minha me traiu de novo. valeu pela correção.
Gostei bastante.
Tô precisando me atualizar.
li seu texto sobre o dvd dos arautos. também me emocionei com o depoimento deles.
Aprecio particularmente os vários momentos em que o álbum abandona o abrigo das convenções da música cristã nacional(no caso dela, todas escolhidas e executadas com bom gosto) e se arrisca em novas paragens sonoras, como na ambientação jazzy de "Para Sempre", na abertura do leque da harmonia vocal em "Tudo Entregarei" ou na ousada conversa entre piano e voz que ouvimos em "Eu e Jesus" (e Lineu Soares que, ao lado de Regina Mota, já havia oferecido um fabuloso duo de piano e voz na gravação de "Jesus, a Única Saída", volta a nos brindar com uma parceria sublime).
Vale destacar ainda a quantidade de inspiradas releituras que compõem o repertório ("Vai Nascer Um Sol", "Tudo Entregarei", "Para Sempre", "Eu e Jesus"...), mostrando que a Joyce mantém os ouvidos ligados ao ontem e ao amanhã.
No fim do ano passado, tive a chance de assistir, aqui em São Paulo, a uma apresentação, cujo título era "Música Nova, Música Antiga", em que ele e um grupo de músicos exímios traçavam sugestivas pontes entre madrigais de Monteverdi e canções de Caymmi e Elomar ou entre o "Lamento de Dido" de Purcell e o "Último Lamento" de Noel Rosa, desenhando assim novas e múltiplas associações musicais. Foi uma experiência fascinante.
Enfim, gosto do espírito livre com que ele sobrevoa o universo da música, experimentando novos ares mas sem abandonar o compromisso com o rigor. Que as trilhas abertas por ele continuem a se expandir e encontrem aventureiros dispostos a percorrê-las.
Falando em duos de piano e voz, há alguns anos, André Mehmari e Ná Ozzetti gravaram um álbum antológico reunindo apenas teclas e pulmão.
conheço o duo mehmari/ná. é uma preciosidade. concordo com você sobre o disco da joyce.
Valeu pelas dicas.
A "proporção divina" continua valendo: dois ouvidos e uma boca!
Se ouvíssemos mais, teríamos menos críticas. E, de quebra, seríamos mais sensíveis, mais humanos.
Abraço
Jael Eneas
bem lembrado.