As canções jovens de Reichert primavam por dois aspectos: facilidade melódica e requinte harmônico. Combinando a simplicidade da melodia à sofisticação da harmonia, Reichert trouxe um sopro de novidade à música cantada pelos adventistas na época. Selecionei, aqui, apenas três amostras.
O cântico Conversar com Jesus tem apenas oito versos. Sua melodia também aparenta simplicidade. Em 20 compassos, este corinho desprovido de refrão exibe maior desenvolvimento melódico-harmônico do que os cânticos estrangeiros que integravam as coletâneas adventistas até então. As canções jovens “importadas”, como “Estou seguindo a Jesus” e “Caminhando”, apresentavam a referência harmônica e a marcação rítmica da música country norte-americana e das marchas militares e escolares. Reichert mantém a simplicidade melódica dos cânticos americanos, mas a base harmônica agora é outra, mais complexa. Em Conversar com Jesus, essa troca consecutiva de acordes nunca desequilibra o andar da melodia. Canta-se sem sobressalto. Na partitura abaixo, assinalei em vermelho os muitos procedimentos harmônicos que sustentam a breve melodia.
Outra bonita canção de Alexandre Reichert é Vou Caminhando, que tem letra de Wilson Almeida. Lançada inicialmente como uma das faixas do LP Arautos do Rei Cantam para as Crianças, a canção ganhou outro título ["O Caminho do Céu"] quando integrou posteriormente a coletânea musical para a juventude Vamos Cantar vol. 2, publicada em 1979. Seus versos iniciais (“Vou caminhando sempre contente / Pela estrada rumo ao céu”) foram a trilha sonora de uma geração.
É um tipo de melodia que reforça o entusiasmo e confiança expressos na letra. Dificilmente há uma igreja adventista que não cantava essa canção nos cultos jovens vespertinos do sábado. Quando eu tinha 12 anos de idade e era filho de professores de um colégio (IAAI) a 80 km de Manaus, várias vezes eu voltei para casa após a noite esportiva e, no caminho iluminado só pela luz da lua, eu vinha pedalando e assobiando a melodia de "Vou Caminhando".
Naquela coletânea, constavam composições de outros letristas e músicos brasileiros que, por sua vivência musical e cultural, implementaram um novo tipo melódico que foi abraçado pelas Ligas M.V. em todo o Brasil [Missionários Voluntários foi a nomenclatura anterior a J.A., Jovens Adventistas].
Uma terceira amostra do raro talento de Alexandre Reichert, e também da inovação introduzida na música adventista, é a coletânea Eu Sei de Alguém, álbum de partituras lançado em 1979 pelo selo A Voz da Profecia, com canções de Alexandre Reichert e Mário Jorge Lima. Uma curiosidade é que ambos nasceram no mesmo dia, mês e ano: 17 de março de 1949. Em companhia aos dois compositores também comparece o letrista Wilson F. Almeida.
As letras desse álbum de partituras são de fino extrato poético e abordam temas diversificados, como se pode ver a partir dos títulos de alguns cânticos: Mea Culpa, Ecologia, É Preciso Simplesmente Amar, Fé para Hoje, entre outros.As canções de Alexandre Reichert ainda tocam os corações de quem as ouviu pela primeira vez, nos anos 1970 e 80. Elas podem ser fonte de inspiração para compositores, que identificarão nelas um modelo de inovação consistente, e para ouvintes, que desfrutarão de um refrigério musical e espiritual.
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Ele ainda vive?