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Mostrando postagens de agosto, 2010

a tradição do novo e a novidade do velho

Há duas semanas assisti a uma apresentação do cantor adventista Leonardo Gonçalves no sábado à tarde. Muita gente veio assisti-lo também. Seus poemas e canções são fartamente conhecidos. Sua voz com melismas e agudos, também. O que, talvez, algumas pessoas ainda não conheciam era o modelo bastante espiritual de sua apresentação daquele dia. Quem foi assistir a um show acabou participando de um culto. O repertório alternava as canções com a leitura e comentários de trechos bíblicos. Aliás, a Bíblia esteve o tempo todo aberta em uma estante a frente do cantor. Antes da última música, ele falou/pregou à congregação, fez um apelo e terminou com uma oração cantada, o que inibiu completamente qualquer manifestação de histeria de fã. Sua capacidade de atração jovem é notável, porém, mais notável ainda foi sua postura de mensageiro da Palavra. Algumas palavras de um cantor às vezes têm mais repercussão na mente de um jovem do que o sermão inteiro de um pastor. É grande a responsabilidade dos

alan kardec no país das maravilhas

Carta de R. C. Cardoso à revista Veja sobre a matéria “Espiritismo de resultados” (4/8/10): “Apesar de a novela [Escrito nas Estrelas] apresentar fatos que divergem da doutrina kardecista, é muito bom que a televisão mostre programas que tratam do espiritismo com seriedade, e não como instrumento para deboche e críticas sem fundamento”. Alguém lembra de uma novela em que o cristianismo não foi pintado com deboche? Em novelas, o padre bom é o liberalizante e o padre mau é o negociante; já o personagem evangélico é o estereótipo do fanático que vocifera a Bíblia na praça, que é ríspido com a filha enamorada, que ouve gospel em som alto e por aí vai. Conflitos familiares, veleidades conjugais, banalização do ódio, tudo isso faz parte do cardápio noveleiro que, agora e na hora da queda de audiência, sempre apela para a violência física da troca de socos e pontapés entre rivais e casais. Mas a s novelas da Rede Globo nunca foram anticristãs no passado tanto quanto são pró-espiri

Jesus é um plágio de mitos?

Mal Cristo tinha ascendido aos céus e já havia gente duvidando da história toda. Se na época era assim, dois mil anos depois parece muito mais fácil ser Tomé. Antigamente, duvidava-se da espiritualidade de Jesus (não, ele não era um ser divino, diziam). Mais recentemente, questiona-se a carnalidade de Jesus (não, ele nem mesmo existiu). Estão tentando inscrever Jesus no museu imaginário dos mitos da humanidade. Um vídeo intitulado Zeitgeist procura demonstrar que Cristo é um plágio de vários mitos da Antiguidade. No entanto, segundo o especialista Chris Forbes (enttrevistado no vídeo abaixo), a afirmação de que Jesus seria um plágio de um punhado de historinhas pra egípcio dormir não se sustenta. Ou seja, a tentativa de fazer do Cristo histórico uma lenda antiga é, na verdade, uma lenda moderna. Audioveja e entenda suas razões. Procure ler o que dizem outros especialistas a respeito da autenticidade do Jesus histórico, como o texto que indico logo abaixo do vídeo. Mais: Jesus, um plág

o colapso do movimento evangélico

Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos". Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína . Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pel

afasta de mim esse cale-se

Durante a ditadura militar, os compositores brasileiros buscavam na metáfora seu recurso para driblar a cerrada marcação da censura. Em 1973, uma música marcaria a "página infeliz da nossa história". Durante um evento realizado pela PolyGram, Chico e Gilberto Gil decidiram cantar uma canção previamente censurada, "Cálice". O refrão era: Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue A referência à angústia de Jesus no Getsêmani era apenas de superfície, na escrita. Na fala, o "cálice" soava também como "cale-se". A referência era à angústia do artista e do intelectual, tesourados, amordaçados, silenciados. Quando Chico e Gil começaram a cantar essa música, o censor junto à mesa de som (era uma praxe a presença do censor nos shows) mandou desligar os microfones. Chico Buarque ia de um microfone a outro tentando cantar "cálice/cale-se", e sendo tragicomicamente &q

o ateísmo virou moda literária

À primeira vista, Terry Eagleton, filósofo e crítico literário britânico, parece atacar o biólogo evolucionista Richard Dawkins, autor de Deus, um Delírio. Em sua recente passagem pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), Eagleton alfinetou-o à vontade diante do público. Mas nesta entrevista, vê-se que não é bem Dawkins o alvo das críticas, mas um ateísmo que virou voga literária, com vários representantes, e que não responde a uma pergunta crucial: afinal, por que Deus entrou na agenda? Católico desde o berço e marxista desde a escola, Eagleton se debruça sobre esta questão em O Problema dos Desconhecidos - Um Estudo da Ética , que chega agora às livrarias. "Alguns de meus amigos e leitores ficarão desolados ao me verem desperdiçar meu tempo com a teologia", ironiza o pensador formado nas boas universidades britânicas, a pura tradição "Oxbridge", mas ainda um enfant terrible aos 67 anos. Acha que o grande desafio do Ocidente, hoje, é lidar com um inimig

a política do cristão

O cristão não é um ser apolítico. Primeiro, ninguém é apolítico. Todo posicionamento a favor, contra ou muito pelo contrário é um posicionamento político. Segundo, o cristão que verdadeiramente ama a Deus também ama seu semelhante. Isso implica reconhecer sua responsabilidade social. O pastor Bert Beach escreveu que o “cristianismo é uma religião de comunidade. Os dons e as virtudes cristãs têm implicações sociais. Devoção a Cristo significa devoção a todos os filhos de Deus, o que gera responsabilidade pelo bem-estar dos outros”. Isso não quer dizer que todo cristão agora tem que se filiar a um partido político. Em lugar de procurar denunciar estruturas socioeconômicas opressoras, em lugar de revoluções homicidas de direita/esquerda, o cristão deve trabalhar para mudar pessoas. O cristão também é um revolucionário. Mas do tipo que apresenta a paz e a vida em Cristo. Primeiro é preciso mudar o homem. O homem transformado muda a sociedade. O cristão espera novo céu e nova terra. M

a Pixar e a crítica da razão cínica

Até os anos 1980, o cinema de animação vivia uma longa fase de príncipes encantados, princesas suspirantes, animais falantes e músicas marcantes. Branca de Neve, Pinóquio, Bambi, Dumbo, A Bela Adormecida e Mogli são personagens da infância de quase todo mundo. Todos inocentemente divertidos. Todos excessivamente fantasiosos. Houve uma mudança de consciência no final do século XX. A chegada de novas tecnologias de computação gráfica se aliou a ideias arejadas sobre o comportamento dos personagens de animação. A princesa à espera do beijo de um príncipe não fazia mais sentido. Felizmente. Aí veio a animação Shrek e suas três sequências fazendo uma “dessacralização” da pureza e do heroísmo dos desenhos animados. A série começou subvertendo os chamados contos de fada. Depois, sem o recheio de uma boa história, virou franquia comercial com paródias preguiçosas. De infantil, sobrou pouca coisa. Shrek dispara suas sátiras e nenhum personagem famoso dos contos infantis resiste à invers

a esperança em forma de música

Jader Santos é um perito em músicas sobre a volta de Jesus – Eu não me esqueci de ti e Chegou a hora . Na canção Eu quero olhar , gravada pelos Arautos do Rei, Jader propõe um tipo de música que não tem a sequência estrofe-côro e na qual praticamente cada verso possui uma melodia própria. O compositor não fez concessões nem à rima fácil nem ao típico refrão. Eu quero olhar pra cima e ver aquela nuvem aparecer um pouco escura, mas não de chuva, só uma mancha a mais no céu E se eu olhar com atenção verei ainda que há uma luz assim brilhante que num instante vai se tornar bem maior O desejo de quem espera a volta de Jesus pode ser nublado por sinais que são a contrafação do advento real de Cristo: uma nuvem parecida, prodígios “em nome de Deus”, falsos cristos. A atenção ao que diz a Bíblia é o melhor preparo para não ser confundi

cem palavras: a TVerdade

Um veterano âncora de telejornal foi demitido devido aos baixos índices de audiência. Em sua despedida, ele faz ao vivo uma enfática denúncia dos podres do programa. Uma executiva da TV percebe o potencial de entretenimento disso e o apresentador volta com um programa reformulado onde dispara petardos furiosos contra a falta de escrúpulos das mídias e dos espectadores. Um sucesso espetacular, que não durará muito tempo. Esse o roteiro do filme Rede de Intrigas (1976). Uma das falas fuzilantes do autoproclamado "profeta da tv" é essa: O apresentador entra em cena ao vivo e, após saudar o público presente, começa: "Ai de nós. Porque 62 milhões de americanos me assistem agora. Porque menos de 3% de todos vocês lêem livros. Porque menos de 15% de vocês lêem jornais. E a única verdade que conhecem é a que passa pela televisão. Agora mesmo há uma geração inteira que nunca conheceu nada que não tenha saído da televisão. A TV é o evangelho. A revelação final. A televisão pode f