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Mostrando postagens de dezembro, 2009

bom ano novo e happy new ears

Os homens e suas marcações de data. Quando o ano novo mal se avizinha, é um tal de prometer mais trabalho, profetizar trabalhar menos, renunciar a vícios, propor bons hábitos, jurar persistência, afiançar paciência, professar dietas, corridas vespertinas, devoções matinais e toda sorte de cuidados para manter a mente sã, de preferência num corpinho são. O ano novo é como uma grande segunda-feira carregada de boas resoluções . Agora a coisa vai, dizemos! Relembrando as músicas de 2009, percebo que, para um autoproclamado músico, escutei pouca música. Decido, então, ouvir mais música. O problema de ouvir mais música é o risco de ouvir mais música ruim. E pior que música ruim é a música desnecessária. Aquela que ninguém precisava ouvir, mas acabou ouvindo só porque um blogueiro que acha que entende de música escreveu que você devia ouvir. Claro, algumas coisas você não precisa ouvir, como: cantor breganejo com nome bíblico (Pedro & Thiago, Daniel,...), grupos pop com nome de númer

meninos, eu li em 2009

Depois de encerrar o mestrado, consegui diversificar um pouco mais minhas leituras e audições. Ler tanto sobre pós-modernidade, cultura da mídia e música gospel foi me cansando com o tempo. Destaco abaixo os livros que mais me marcaram, que ampliaram meu tacanho horizonte. O resto é ruído , de Alex Ross Um grande livro deste final de década. Com elegância na escrita e rigor na pesquisa, o especialista Alex Ross traça um amplo painel da música do século XX ao descrever os conflitos e contradições da música de vanguarda, do pensamento modernista e as interinfluências da música popular e da música erudita. Um entre tantos capítulos imperdíveis é aquele que relata que os artífices do jazz nos anos 1920 eram músicos negros de formação clássica que buscaram a sobrevivência profissional na música popular por causa da rejeição da indústria de concertos. Celebridade , de Chris Rojek Um ensaio de altíssimo nível sobre a cultura da celebridade, seu desenvolvimento histórico e sua consolidação na

o natal de todas as horas

No famoso Conto de Natal de Charles Dickens, um ricaço aprende a sublime lição de partilhar na época do Natal. Assim, é o espírito de Natal que entra no coração endurecido do endinheirado e o faz passar de um Tio Patinhas mão-de-vaca a um generoso doador de felicidade. O Natal tem dessas coisas: após um ano sendo um executivo mal-criado e grosso, o sujeito é subitamente tocado por uma liberalidade que o leva a fazer doações a granel e dar presentes a rodo. O Natal é o Yom Kippur (o dia do perdão) dos megaempresários de consciência pesada. O que é o Natal, pergunta a repórter do telejornal? É um momento para reconciliação com a família, com os amigos, responde uma transeunte carregada de sacolas. É a hora em que desejamos paz e felicidade para todos, responde outra passante no shopping. Com mil renas voadoras, agora é o chester que será responsável pelo congraçamento do núcleo familiar. Coma o tender e love me tender. Torramos nossos décimos-terceiros sem dó, ceamos a fauna e a flora d

entre o sagrado e o profano

Movido pela vontade de reparar as brechas do pecado alheio, não raro o escriba cristão descamba para a crítica de atividades mundanas que os sóbrios humanistas também rejeitaram. Percebendo, então, que a bebedeira, a micareta e a Britney Spears também são pedra de escândalo para agnósticos e ateus, vou rabiscar o que seriam alguns dos comportamentos de professos cristãos neste mundo velho com porteira e câmera de vigilância. Antes, é preciso saber de que cristão vou falar. Sim, porque há quem se diga cristão não-praticante (censos apontam que sua maioria é composta de católicos. Ninguém ainda se diz evangélico não-praticante ou espírita não-praticante). O católico não-praticante seria como um torcedor que só vai ao estádio quando tem jogo da seleção. De outro lado, há o cristão que pensa praticar o cristianismo, mas na verdade ele pratica o "igrejismo" . O adepto do igrejismo é como aquela criatura que assiste a dez telenovelas diárias, ri, chora, dá ordens aos personagens e

meninos, eu vi - 2009

Fim de ano, fim da década, fim de feira, fim de mundo. Nessa hora, a falsa utilidade das listas serve para relembrar e nortear o que foi marcante durante um ano ou uma década ou qualquer tempo que o valha. Nesse texto, assinalo os filmes que fizeram com que eu ainda acreditasse que nem tudo é vampiro com expressão de Botox no mundo cinematográfico. Para escapar da avalanche de filmes feitos para adolescente histérica gritar, o jeito é rebobinar o passado (rebobinar, lembra?) e ver ou rever filmes que não se submeteram à tortuosa política de Roliúdi: "Quanto mais descerebrado e barulhento, melhor. Com direito a duas sequências sem noção" . Há outros, mas selecionei os seguintes filmes por questão de espaço e importância. Importância pessoal, claro, ou isto não seria uma evidente lista arbitrária. Frost/Nixon (EUA, 2008) O jogo de mentiras e meias-verdades que cerca a política e os programas de entrevistas da TV. Um filme sério e jamais monótono. Entre os Muros da Escola (Fra

torcer e distorcer: essa é a questão

Luis Fernando Veríssimo, torcedor do Internacional, escreveu na semana anterior à última rodada do campeonato brasileiro que ele ainda acreditaria na paz na terra entre os homens de boa vontade, desde que os jogadores do Grêmio, rival do Inter, ganhassem do Flamengo, permitindo assim que o seu Internacional fosse campeão. Vê-se que a paixão futebolística não tem nada de lógica. Enquanto essa paixão está dentro dos limites de rivalidade sadia, que não declara guerra campal contra o adversário nem dentro nem fora do estádio ou de casa, torcer não é problema algum. Problemas começam quando torcer vira sinônimo de distorcer, quando se pretende a vitória a qualquer custo, inclusive com o uso de expedientes ilícitos como gol de mão, gol impedido, ou qualquer armação de bastidores. Os problemas se tornam ainda mais sérios quando a paixão clubística age como uma força embrutecida, que prefere ofender em vez de incentivar, que depreda, destrói e, não raro, mata. O torcedor típico é capaz de tro

comer, rezar, enganar

Uma das cenas mais vergonhosas do ano, senão a mais, é a da "oração da propina", que é como andam chamando a oração fervorosa dos irmanados pela corrupção Durval Barbosa, Leonardo Prudente (deputado e presidente da Câmara Distrital do DF) e Rubens César Brunelli (deputado do PSC (ou do DEM, segundo o site da Câmara). Após a partilha do montante ilícito, os três senhores se unem em compungida petição aos céus. Com uma cajadada só, eles quebram a lei de Deus e a dos homens. Enquanto se aguarda o misericordioso mas justo juízo divino, já se poderia ir cumprindo a lei e os profetas da justiça civil. Quem lê (a oração a seguir), entenda: “Pai, quero te agradecer por estarmos aqui, sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos, mas é o teu sangue que nos purifica. Pai, nós somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele, contra nossas vidas. Nós precisamos

a música brasileira foi rejeitada pelas igrejas protestantes devido ao preconceito?

A cultura musical brasileira é rica e multivariada. Estilos estrangeiros que aportaram por nossas bandas foram devidamente apropriados e tomaram novas formas. A miscigenação que ocorreu no trânsito de etnias teve um correlato nas misturas culturais. Práticas que eram consideradas fora-da-lei, como o samba, foram apropriadas institucionalmente e se tornaram orgulho de uma população. O que teria motivado, então, a exclusão do ambiente litúrgico das formas musicais mais populares, como o choro, o samba, a modinha? Seria o preconceito do missionário norte-americano em relação à cultura de um povo considerado incivilizado e inferior? Alguns estudiosos do cristianismo no Brasil, como Prócoro Velasques e Jaci Maraschin, têm relacionado o eurocentrismo (e o “americanocentrismo”) dos pioneiros como o fator que obstruiu a presença dos estilos musicais de matriz nacional nos cultos protestantes. Entretanto, essa visão etnocêntrica (que equivale ou valida as culturas autóctones) deixa de analisar

dinheiro na meia é vendaval

Numa tarde qualquer em Brasília, dois homens e seus podres poderes se reúnem para um encontro comum entre políticos da cidade. Um deles, o remetente, carrega consigo várias boladas de dinheiro para entregar ao destinatário que o espera numa dessas salas próprias para a prática também comum do pagamento de propina. Propina é o montante monetário em espécie servido a mandatários políticos como gratidão pelas intercessões passadas ou futuras junto ao caixa de financiamento de obras públicas. Esse encontro nada casual tinha tudo para ser mais um encontro oculto entre tantas outras ocultações da vida não fosse a presença de uma câmera, também oculta, registrando a venda da alma política ao diabo da propina. Flagrados com a mão na massa de notas, os envolvidos já começaram a jurar inocência, a acusar chantagem, a espalhar em comunicados à imprensa de que tudo não passa de um grande mal-entendido. Tarde demais. Uma imagem vale mais que mil advogados. A quantidade de envolvidos nesse escândalo