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Mostrando postagens de abril, 2012

O Barcelona e o encanto da derrota

Nos últimos cinco anos, o time da Barcelona foi declarado uma das maiores equipes de futebol de todos os tempos. Esse posto foi obtido não só pela incrível série de conquistas e troféus, mas também por apresentar ao mundo da bola um estilo de jogo que joga e não deixa o adversário jogar. Acontece que esse time joga três partidas, perde duas e empata uma, e se vê fora dos dois maiores campeonatos que disputava: o Espanhol e a Liga dos Campeões da Europa. E lá vem a grita: "o Barcelona já era", "Messe pipocou", "bem feito!". É natural que um time tão avassalador encontre quem o despreze. Ganhar uma vez é legal. Mas ficar ganhando sempre, aí é demais. É como chegar pra jogar uma pelada na quadra e ver o mesmo time ganhar toda vez. Começa a perder a graça. A derrota do Barcelona salvou o futebol da chatice previsível. Mas o Barcelona faz jogo limpo, não é retranqueiro, busca o gol avidamente, seus jogadores são badalados mas não são vistos em

os Salmos: uma teologia para a música

O maior livro da Bíblia é um hinário com 150 poemas e canções: o livro dos Salmos. Não restou a melodia original de um salmo sequer, mas seus versos ainda inspiram compositores de hoje, como o pastor e músico Daniel Lüdtke, autor de 11 canções baseadas em 11 salmos. Quando são utilizados numa música, os versos bíblicos habitualmente sofrem uma alteração na sua métrica. No DVD Salmos , Daniel Lüdtke se viu obrigado a editar cada salmo, tendo que reduzir trechos, modificar palavras e simplificar a poética bíblica. Mesmo assim, ele manteve o sentido espiritual dos salmos e, ao mesmo tempo, sugere uma maneira teológica e musical de ensinar e motivar a igreja à adoração. João Calvino dizia que “não há outro livro em que somos mais perfeitamente instruídos na correta maneira de louvar a Deus” ( O Livro dos Salmos , vol. 1, p. 33). Os Salmos, então, têm algo a ensinar aos compositores de música cristã em nossos dias? Entendo que há pelo menos quatro pontos que podem orientar os

os mitos do Titanic

Na esteira dos 100 anos do naufrágio mais comentado de todos os tempos, o cineasta James Cameron relança o filme Titanic em 3-D. Há três possibilidades de uma imagem aparecer na tela de projeção : a paralaxe zero (no plano da tela), a paralaxe positiva (imagem para frente da tela) e a paralaxe negativa (para trás da tela). Cameron deu preferência a esta última. Assim, em vez da proa do Titanic passar rente ao nariz do espectador, ele optou por dar maior perspectiva de profundidade às cenas. Foi um processo exaustivo e dispendioso. Mas se era pra gastar e se desgastar tanto de novo com o mesmo filme poderiam ter contratado um roteirista dessa vez! Embora o filme seja agora em 3-D, não há dinheiro nem tecnologia no mundo que dê profundidade aos personagens rasos e à historinha da menina rica que se apaixona por menino pobre mas de alma sensível. O formato mais apropriado para o relançamento do Titanic não é o 3-D, e sim o estilo do cinema mudo. Sem os clichês do diálogo, so

tirem o Cristo da parede!

Uma recente e polêmica decisão judicial no Rio Grande do Sul autorizou a retirada dos crucifixos dos tribunais. De fato, no tribunal dos homens, Cristo dificilmente tem vez. Por que manter esse fingimento de ter sua imagem ali por perto? Tirem os Cristos esquecidos da parede! Porque com tanta injustiça, perjúrio e falso testemunho, o único vestígio de santidade era a imagem de um Cristo pendurado numa cruz que só não escondia o rosto diante de tanta impunidade por estar com as mãos pregadas. O argumento-chave para esta decisão é a separação entre religião e Estado. As igrejas não estão perdendo seu direito de utilizar dentro de seus templos as imagens que representam sua crenças: a Deus o que é de Deus. Mas os fóruns públicos podem decidir não mais exibir um símbolo singularmente cristão em um lugar necessariamente laico: a César o que é de César.  Um indivíduo pode declarar-se cristão no censo do IBGE, mas a um órgão público não cabe essa competência. O Estado, e sua esfer

o pior manual de educação infantil

Tirinha genial do Quino.

o lugar da voz e a voz no lugar

A técnica do melisma ainda divide opiniões. Alguns acreditam que é um recurso de ornamentação da melodia que mostra o domínio técnico do cantor; outros pensam que se trata meramente de exibicionismo vocal. Particularmente, acho que a técnica do melisma está ficando cansada. Em bom português, já deu o que tinha que dar. Não estou dizendo que o melisma será abandonado. Mas o esgotamento da técnica talvez possa aparar as arestas e deixar o canto mais límpido e simples. O ponto central para o cantor é o lugar da voz, é onde inserir um recurso técnico. Os maus imitadores não sabem aonde colocar a voz e abusam do melisma. E aí, cada fim de frase, é um volteio; cada curva, uma cantada de pneu. O melisma vem de longe. A música judaica é cheia de melismas. O canto gregoriano é também um canto melismático (como na gravura acima). O melisma árabe ou o melisma da black music americana podem ser usados na música cristã? Sim. O melisma pode se tornar um maneirismo chato e abusivo? Si