Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2007

PARAPAN ou Quem é deficiente mesmo?

Observando o triunfo dos atletas durante os Jogos Parapan-Americanos, se percebe o quão alto e nobre pode o homem chegar a ser. No ParaPan não há derrotados. São todos vitoriosos por nadar contra a correnteza social, correr atrás da normalidade perdida, saltar os obstáculos do preconceito e voar, sim, voar para além de uma sociedade orientada para a beleza exterior e a aparência física “perfeita”. Os atletas do ParaPan são como a estátua grega Vitória de Samotrácia (foto) . Essa estátua simbolizava as conquistas helênicas na guerra, mas foi encontrada sem algumas partes do corpo. Isso, porém, em nada diminuiu seu valor. A estátua, também chamada Niké (vitória, em grego), tem a incompletude formal derivada da ação da natureza, mas possui dignidade altaneira e beleza majestática. Os atletas do ParaPan perderam o controle de partes do corpo ou não têm mesmo a totalidade de braços e pernas. Entretanto, até a chegada em último lugar exala vitória irrestrita. Veja-se o exemplo de Kathryn Su

A prisão de CARAS

Na semana passada, li uma entrevista na revista Veja que só fez aumentar minha admiração na capacidade humana de fantasiar a realidade vivida. A entrevista era com a socialite Wilma Magalhães ( foto ), de quem eu jamais lera uma linha sequer de suas gotas de sabedorias. Esta semana, ao ler a seção de cartas da mesma revista, vi que alguns leitores relatavam que tinham se divertido com as respostas da socialite, um diagnosticava um caso clínico de fuga da realidade, outra indignava-se com a falta de assunto da revista ao entrevistar alguém como Wilma. Wilma, socialite que costumava temperar seus jantares com pó de ouro, está numa prisão em Brasília cumprindo pena de 6 anos por estar envolvida num esquema de legalizar propinas recebidas por ninguém menos que João Alves, um dos mais célebres anões do Orçamento. Como se vê, a vida de Wilma era um conto de fadas, e sua Terra do Nunca era Brasília. Ali, rodeada de anõezinhos sortudos, a fada era ela, claro. Pois, as fadas brilham e, segundo

INGMAR BERGMAN: cineasta do espírito humano

Ao contrário dos heróis de Cazuza, os meus heróis não morreram de overdose. Meus heróis estão morrendo de velhice. Talvez meus heróis sejam meio “antigos” ou “caretas” para a turma pós-moderna. Pra piorar, os heróis que admiro não são os personagens de cinema ou os atores que os personificam; na verdade, os diretores dos filmes é que são os meus favoritos. São eles é que estão morrendo um a um. É verdade que minha iniciação ao cinema se deu numa tv de 14 polegadas em cores. Tudo bem, só eram duas cores, preto e branco, mas pode ser esta a razão de eu gostar de filmes em preto e branco. Além disso, como diz o tradutor Alexandre Soares, “meus ouvidos pudicos de Jane Austen” pouco suportam a verborréia chula dos, se posso chamar assim, diálogos dos filmes americanos pós-1980. A desculpa dos novos cineastas é que isso confere mais realismo. O recém-falecido cineasta sueco Ingmar Bergman agora faz parte da lista de artistas que a velhice mortal levou. Não assisti a sua filmografia completa,

DE PATRICINHA A 'PARISINHA'

Não é de hoje que socialite ri à toa. Sem a cabecinha estorvada por preocupações tão plebéias como, o que vamos comer ou como vamos pagar?, sobra tempo para considerações mais sérias, tipo “tenho mesmo que convidar a nova namorada do meu antigo affair para minha festa?” ou “essa invejosa (cumprimentando a invejosa) comprou um Rolex mais caro que o meu?” A diversão e o prazer estão no topo das prioridades de muito endinheirado desde Babilônia, passando por Grécia e Roma, até os denominados roaring twenties (numa tradução à Danuza Leão, a 'socialite esclarecida': os saltitantes anos 20). Essa década, inclusive, teve sua descrição nos Seis contos da era do jazz , de Scott Fitzgerald, e Paris é uma festa , de Ernest Hemingway. Com o propósito de extrair um perfil das ilusões perdidas pós-I Guerra Mundial e um olhar sobre a lassidão moral e sexual da “feérica Paris”, ambos os escritores usaram o velho método da imersão total: no cumprimento do dever literário, os dois caíram na gan

REGINA MOTA: Basta Viver o Amor

Nem sempre um intérprete é capaz de revelar seus questionamentos e angústias surgidos na expectativa das escolhas musicais para uma gravação. Ainda em menor quantidade são aqueles que desnudam suas fraquezas e falhas diante da multidão. Corajosamente, Regina Mota escreve no encarte do CD que sua intenção era representar através da música seus momentos de testemunho cristão. Ela descreve suas falhas individuais, o “lado sombrio de sua alma”, ao mesmo tempo em que fala das incertezas e certezas que se alternaram até a gravação. A cantora adota o Salmo 33:3 – “cantem a Deus uma nova canção”, – como baluarte e linha norteadora deste trabalho. É possível que as escolhas musicais deste CD sejam fruto de uma experiência renovadora traduzida em inovação formal. Essa inovação formal não está presente apenas nos arranjos musicais. Há um sopro do "novo" até na disposição das informações no encarte, com o requinte de grifar o título das canções no corpo dos versos. A concepção das fotos

NEM SÓ DE PAN VIVE O HOMEM

É finda a luta quadrienal que são os jogos pan-americanos. É tempo de contabilizar os ganhos, deduzir as perdas, enfim, fechar o comitê para balanço. Em clima de festa, louva-se o recorde de medalhas brasileiro (thanks, Tio Sam, por não enviar seus principais atletas), a engenharia das arenas esportivas (obrigado, Lula, por transferir os 2 bilhões a mais do orçamento do PAN para a conta da Viúva). É tempo também de aprender que: O Pan do Brasil é uma mulher : a despeito das braçadas recordistas de Tiago Pereira (não vale comparar com Mark Spitz, por favor), e das pernas velozes e resistentes de Franck Caldeira e Hudson Fonseca, o Pan tomou a forma feminina. O que marcou mesmo foi o surgimento de novas estrelas – Jade, Fabiana, Yanne, Keila, - a consolidação de outras – Marta, Maurreen, Ednanci, - o ocaso de algumas – Daniele Hipólito, Janete. Até mesmo quando perdiam, como as meninas de vôlei, perdiam com destaque e afã de vitória. O brasileiro só é patriota no esporte : o hino toca, a