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Mostrando postagens de fevereiro, 2008

Leonardo Gonçalves: Viver e Cantar - I

Há cantores cujas gravações vão além do proselitismo religioso. Eles unem alta qualidade temática e artística. A exigência estética está junto com a eficiência da prédica. O título Viver e cantar , CD de Leonardo Gonçalves, expressa uma compreensão religiosa de vida cristã e adoração. Daí, talvez, o título não ser “viver OU cantar”, mas “viver E cantar”. Ou seja, o cantar-adorar não é uma opção entre vida e adoração. É viver em adoração. O CD se divide em três partes. A primeira é uma sequência de canções sob o título História da Redenção . A seguir, vem a sequência intitulada Relacionamento com Deus , e uma última série designada Louvor e Adoração . Aqui, o entendimento teológico é luminar: o ser humano é salvo por Deus, relaciona-se com Ele e então O adora. A concepção bíblica de adoração, ou seja, o ato de louvar a Deus não é uma oferenda petitória para que o homem seja salvo. Antes, é exatamente por causa dos atos salvíficos de Deus já realizados é que o homem O louva. His

Leonardo Gonçalves: Viver e Cantar - II

O álbum “Viver e cantar” propõe que o Relacionamento com Deus (tema da 2ª parte do CD) nasce do conhecimento da História da Redenção (ouvida na 1ª parte). A segunda parte abre com a declaração Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará . A seguir, um vocal no estilo medieval repete a palavra “livre” enquanto um dueto canta frases como Livre dos meus preconceitos . Enquanto o dueto é cantado em terças, um outro vocal canta em quintas (um intervalo padrão do estilo gregoriano). Uma composição de João Alexandre é que dá título ao CD. Essa canção usa o contraste entre cordas vigorosas e violão simples desde o início. Embora em certas passagens as cordas pareçam de muita pompa para a circunstância de simplicidade melódica da canção, elas dialogam com a música, inclusive citando trechos de outra canção do cd, Ele virá . As duas músicas seguintes tratam da liberdade para se relacionar com um Deus que liberta o homem de seu pior inimigo: o próprio homem. Ambas as músicas, Livre s

Leonardo Gonçalves: Viver e Cantar - III

A última parte do cd – Louvor e adoração – também começa com um interlúdio, de título Serviço . André Gonçalves, autor da música, escreve um belo arranjo a capella para as vozes cantadas por Leonardo. O arranjo é complexo e difícil mesmo para quatro cantores diferentes. Em duas canções, Minha fortaleza e Salmo , a orientação do louvor e adoração parte da tradição judaica de fé e glorificação de Deus. Ambas estão claramente baseadas no livro dos Salmos, embora as letras não tenham a opulência metafórica dos originais bíblicos. Há também uma mudança de timbre na voz do cantor, de tons líricos e sem os habituais melismas. A canção Obrigado (Samuel Silva) apresenta outra configuração, agora com ecos melódico-harmônicos do estilo Motown - um estilo, diga-se, fundamentado no gospel americano. Assim como a música seguinte ( Somente a Ti , de Wendel Matos), a facilidade da melodia dá o tom de alegre reverência das modernas canções congregacionais adventistas. Ao final do álbum,

A igreja eletrônica e a fé no mercado

O ano de 2008 já começa com mais um capítulo da batalha entre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e a mídia. Dessa vez, os fiéis estão movendo processos na Justiça contra os jornais Folha de S. Paulo e O Globo . A reportagem, mais uma que trata de corrupção em igrejas neopentecostais, refere-se à igreja como seita (cujo sentido pejorativo teria ofendido a fé dos membros) e levanta a hipótese de que o dízimo dos fiéis seria “esquentado” em paraísos fiscais (alguns fiéis entenderam que estavam sendo chamados de bobos ou alienados, o que consignaria ofensa moral). Em que pese o tratamento claramente pejorativo (esse é o sentido mais utilizado da palavra seita – o conceito semiológico do termo não é comum) e a especulação jornalístico-investigativa, a reação da IURD, principalmente através da Rede Record, tenta deslocar a discussão das páginas policiais para a seção de cartas do leitor. Isto é, a defesa da igreja pode estar desviando o foco sobre um crime supostamente cometido por p

Ronaldo: Fenômeno pela própria natureza

Primeiro, foi chamado de Ronaldinho, diminutivo que se adequava bem ao adolescente tímido e goleador. Depois, apelidado “Fenômeno” pela imprensa européia, esse aposto logo cinzelou-se como sobrenome, em parte devido à sagração de outro Ronaldinho, o Gaúcho. A alcunha de “Fenômeno” nasceu da constatação de que o jovem e recém-campeão do mundo de 94, ao marcar tentos inenarráveis, ao desconcertar zagueiros com sua ginga, ao transpor os umbrais da grande área com assombrosa velocidade, não era um atleta ordinário. Ele só poderia ser extraordinário, uma legítima manifestação de uma força da natureza, enfim, um fenômeno. Os números afogam qualquer contador: campeão do mundo aos 17 anos, vice-campeão aos 21, de novo campeão mundial aos 25, maior goleador em Copas do Mundo com 15 gols aos 29 anos. As cifras pecuniárias, um capítulo à parte. Bem como os casamentos fracassados (sorte no jogo,...). Eis um Fenômeno do futebol, da conta bancária, da mídia. Entretanto, sua história de vida, sim, a

Quem tem medo de música clássica?

Esse texto podia ter como título “Música clássica vs. Música pop”, pois é como os fãs de ambos os estilos parecem entender a música: como um confronto direto por espaço junto a Vossa Excelência, o espectador. Talvez o único espaço onde o clássico e o pop realmente estejam em intrépida batalha pelo nosso apreço seja o espaço virtual das lojas on-line de venda de música. E aí temos uma disputa um tanto injusta, porque se alguém quiser escolher duas ou três canções de um cd pop, gastará de 5 a 7 reais em média. Mas se outro ou o mesmo alguém preferir uma sonata, pagará os mesmos 5 a 7 reais, mas terá apenas uma música, a menos que se queira comprar apenas um movimento de uma sonata. Isso mesmo: na hora de aplaudir a sonata ao vivo, deve-se aplaudir somente ao final do último movimento da peça, e nunca-jamais entre o primeiro e o segundo movimento, pois a peça ainda não acabou. Ao final, se aplaudiu apenas uma peça. Porém, na hora de comprar a mesma sonata, o escambo on-line divide os movi

Os hits e os invasores de ouvidos

Certo indivíduo trabalha 8 horas por dia, gasta mais duas (ou três, depende da velocidade e da distância) no deslocamento casa-trabalho-casa, faz suas refeições, abluções e higiene pessoal. Claro que no trabalho sempre sobram cinco minutinhos para passar 3 horas pendurado no MSN, mas isso já é caso para o RH de sua empresa. O que interessa é que durante o dia ele já escutou muita música, principalmente o último refrão axé-forró-funk da moda. Em casos passíveis de cura, essa escuta foi involuntária, já que seu espaço sonoro foi invadido por seres humanóides de voz eletronificada, cabelos tingidos e uniformes de paquita – se você não notou qualquer semelhança com Joelma do Calypso e congêneres, então você já foi abduzido. Se ainda não foi vítima dos invasores de ouvidos, você pode reconhecer alguns sinais desses alienígenas. Por exemplo, eles se comunicam muito por vogais, tipo “aê, aê, aê”, “eô, eô” e costumam obedecer cegamente a uma voz de comando mil vezes repetida em suas assembléia