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Mostrando postagens de novembro, 2007

da música, aos músicos

Para quem, esse ajuntado de palavras? Para quem, esses louvores terrenos? A quem se destina a estrofe pequena? A quem, tal destempero de versos? Às doze notas que mal aprendi Às mil vozes que escutei À canção que me balança a rede À música que, mesmo quando o timbre é amargo, Mesmo quando a paga não recompensa, Me faz querer possuí-la na beira do ouvido, Na ponta dos dedos, na margem da voz Música não existe por si Não é um ser não-gerado Não é uma deusa incriada A música precisa do músico para ser. Mas ele não diz: Haja música. Fica ali, na indecisão, entre o som e o silêncio, pois quer bem a ambos Tudo o que ele toca vira música Mesmo que chamem de barulho Por isso: Aos descobridores de melodias Aos que com notas de afeto desatam os nós escuros da alma alheia e me fazem sorrir numa unhappy hour Aos desafinados de bom coração Aos desvalidos da canção reprimida Aos festeiros da bossa triste Aos amuados do acorde feliz Aos que têm escala mas não têm

Cap. Nascimento: nascido para matar?

Fascista, apólogo da tortura, defensor do estado policialesco. De todos esses nomes o Capitão Nascimento (em foto menos badalada ao lado) , personagem do filme Tropa de Elite , já foi chamado. A crítica se dividiu. Uma parte enxergou o ditador Mussolini como diretor do filme, dada a sua suposta justificação da supressão de direitos pelo Estado. Outra parte concordava com a crítica do filme ao filósofo Michel Foucault e sua classificação do aparato ideológico do Estado. Que lado está certo? Há um lado certo, pelo menos? Os que chamaram o filme de fascista demonstram desconhecer o que é arte fascista, segundo seus opositores. Qualquer arte subvencionada pelo totalitarismo, seja fascista, nazista, maoísta, revelaria um fascínio pelo exibicionismo físico, um apelo ao nacionalismo e um culto à personalidade. Porém, esses três fatores conjugados estão muito mais reforçados em filmes como Coração Valente , 300 ou qualquer patriotada protagonizada por Chuck Norris e Sylvester Stallone nos anos

A Finlândia não traz felicidade

Você acredita que alguém sairia correndo ao término da leitura de Os sofrimentos do jovem Werther , de Goethe, e se atiraria do Viaduto do Chá-SP? Já é difícil acreditar que haja alguém lendo Goethe hoje em dia, mas arrazoemos um tantinho. Na época do lançamento do livro do grande autor alemão, houve leitores que se identificaram tanto com o jovem Werther que começaram a deixar cartas de despedidas e se lançaram para fora desse mundo de meu Deus. Uns preferiram lê-lo e depois guardá-lo na estante, mas aqueles outros, não. Tinham que conservar-se “incontaminados”, tinham que morrer belos e jovens. Isso seria um lema do romantismo mórbido: “morra jovem, viva para sempre”. James Dean, Marilyn e muito roqueiro levou a frase a sério, em vez de guardá-la na estante ou devolver o livro emprestado que a continha. Sabe-se que os leitores de Paulo Coelho e Danielle Steel não chegariam a tanto por causa da barafunda de idéias que leram num livro. Eles terminam um capítulo, ou no máximo viram algu

O ano em que meus pais saíram de férias

Alvíssaras! Um filme nacional conseguiu o feito de ser exceção no reino dos filmes dominados por criancinhas com uma frase sempre pronta e genial na língua, com adultos sempre como vilões e castradores, com vovôs sempre doces e gentis, com engodos históricos. O filme O ano em que meus pais saíram de férias , de Cao Hamburger, reúne o habitual temático do gênero (criança forçada a amadurecer em meio a um evento da história, no caso, a ditadura militar), mas trata os temas com rara delicadeza. No filme, um menino é deixado pelos pais na casa do avô dizendo que vão sair de férias e não podem levá-lo. Na verdade, os pais são alvos da perseguição política promovida pelo governo militar e precisam se esconder. A história se passa durante a Copa do Mundo de 1970, quando o Brasil de Pelé, Tostão, Gérson e Rivelino (este, sim, um quadrado mágico) sagrou-se o primeiro tricampeão de futebol. Não preciso contar a história do filme. Basta dizer que a paixão do garoto por futebol, a sua convivência

Fábulas menores de moral mínima - 2

Outro dia descobriram uma falcatrua laticínia, mas cá pra nós, num país que engole chiclete com banana, não espanta que se tome leite com água oxigenada. E não foi só o Latino e a Marta Suplicy que tomaram, viu? Foi o Brasil inteiro, de Rosane Collor aos roteiristas de programas infantis, de Galvão Bueno às apresentadoras de programas infantis. Hoje, quando se vê a horda de mães passando pelo buraco da agulha pra pegar o melhor lugar para suas filhinhas no show do RBD, vem a pergunta: as donzelas e futuras mamães já tomavam leite oxigenado nos anos 80? É isso ou elas estão apenas colhendo o que plantaram, ou seja, quem com Menudo fere com RBD será ferido (a prova está nesse link). Não é à toa que passamos por uma indigência musical aterradora. A pagodização dos anos 90 deu cria e a trilha sonora do início do milênio são os musicais da Broadway adaptados, a insipidez de Vanessa Camargo, o eterno último show de Sandy e Junior, os uivos de Daniel e a volta daquele que nunca foi: Belo. Se

Everybody loves Ricardo Teixeira

O Brasil vai sediar a Copa do Mundo de futebol de 2014. Isso é bom, ruim ou muito pelo contrário? Entreouvido numa conversa dentro de um ônibus: “Pra quê o Brasil vai gastar construindo estádio se nem tem hospital público decente?”. Auscultado no cérebro do pensador em busca de uma ideologia pra viver: “Vão retirar o pão do povo para lhe financiar o circo”. Como ninguém escuta mesmo a voz afônica das ruas, voltemos no tempo que uma pitadinha histórica não faz mal a ninguém. A teoria conspiratória : na final da Copa do Mundo de 1998, nossa seleção tomou um passeio da França, anfitriã e campeã. Très bien , 3 x 0, eram tempos em que Zidane usava a cabeça pra fazer gols (aliás, dois gols dele nessa final). Mas a arrogância francesa se bandeou pros lados tupiniquins e se espalhou a seguinte e escalafobética teoria: Ronaldo e Cia. entregaram o jogo porque a CBF tinha um acordo com a Nike, a Adidas e a FIFA, no qual a humilhação nacional seria recompensada com a escolha do Brasil como