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Mostrando postagens de agosto, 2011

a fábula de Sir Ney

Trabalhei em São Luís por alguns anos e vi de perto o sentimento de “gratidão” que os ludovicenses têm pelos governantes que deram continuidade aos índices mais baixos de desenvolvimento do país (e olha que o Estado do Maranhão era a 4ª potência econômica no Brasil Império). Depois do recente caso do senador que utilizou helicóptero da Polícia Militar para passear com a família , depois "de tanto ver prosperar a injustiça", resta-nos contar mais uma fábula menor de moral mínima. As fabulosas façanhas do fidalgo Sir Ney Em tempos imemoriais, vivia o fidalgo Sir Ney, barão das províncias de Big Maranha, lorde de MacApah. Sir Ney jamais foi visto com o péssimo hábito de criticar a realeza. Tal cousa espantosa se dava pelo simples fato de que Sir Ney sempre estava ao lado de quem detinha o cetro, amparando os monarcas, ele que monarca já havia sido, com suas academicamente imortais palavras de philantropia e lealdade. O apreço de Sir Ney era tido em alto preço entre os membros

retromania e a depreciação da música

"O passado não só não morreu, como ainda não passou", teria dito o escritor James Joyce. A moda de reviver os estilos musicais e performances do passado, o famoso "revival", confirma o que disse o autor irlandês.  No Brasil, posso citar o atual revival da música sertaneja, que agora experimenta o sucesso popular que teve na virada dos anos 80 para os 90. Nos EUA, tem a Jennifer Lopez regravando uma antiga lambada do grupo Kaoma ( Chorando se foi... ) em ritmo de dance music. Só falta a Beyoncé gravar Pense em mim, chore por mim pra consolidar a globalização do brega!   Por que temos a impressão de que um sucesso novo se parece com um sucesso antigo? O crítico de música Simon Reynolds acredita que todo movimento musical foi na fonte do passado buscar inspiração. Só que agora estaríamos num momento em que a inspiração é buscada num passado cada vez mais próximo.  Reynolds também se mostra preocupado com a cultura digital, no sentido em que essa cultura facilita o

se eu quiser falar com Deus: MPB e canção cristã

A religião também está presente na música popular brasileira. Em suas músicas, os compositores revelam seu modo de entender os assuntos sagrados. Nos anos 90, Gilberto Gil escreveu a canção "Se eu quiser falar com Deus" e entregou ao cantor Roberto Carlos. Este se recusou a gravá-la alegando que não concordava com a maneira de se relacionar com Deus descrita na letra.   Anos depois, Mário Jorge Lima, compositor e teólogo adventista, compôs "Se eu quiser falar com Deus", uma espécie de explicação doutrinária sobre a oração, sobre a comunicação com Deus, que também funciona como resposta elegante no campo musical e hermenêutico à canção de Gil. A diferença entre as canções está menos na parte estritamente melódica do que na parte teológica, isto é, na compreensão de cada compositor sobre a relação entre o homem e Deus.  Enquanto a inegável força poética da canção de Gilberto Gil deixa entrever a dúvida e a ambiguidade e, ainda, uma visão de abandono e autossuplício

o dia em que Hollywood entendeu a Bíblia

Houve um tempo em Hollywood em que os produtores descobriram que a Bíblia podia lhes render um bom lucro. A fórmula era fortão se apaixona por mulher ideal e detona um império. O ator podia ser podia ser um gladiador, um rei, um escravo, um romano, um hebreu como Sansão; a atriz podia ser uma escrava, uma cristã, uma plebeia, às vezes uma pagã fatal como Dalila; o império derrotado ou era o filisteu ou era preferencialmente o romano. Claro que não basta ter a receita na mão. Sem o cozinheiro certo, tudo podia virar um tremendo fiasco ou, no mínimo, perder a noção do ridículo. De todos aqueles filmes, a única obra-prima é Ben-Hur (1959), que tem a vantagem de ter como diretor o genial William Wyler, capaz de equilibrar as cenas grandiosas e épicas com o drama intimista.   Ben-Hur dura pouco mais de três horas que passam voando. A edição é uma aula para esses filmes monstrengos de hoje que pegam um naco de enredo e o enchem de barulho pra ver se passa rápido. Ben-Hur conta uma histó

Zagallo não é o Forrest Gump

Não lembro qual foi o jornalista que há alguns anos fez uma comparação irônica entre Zagallo e Forrest Gump. Para quem não lembra desse filme com o Tom Hanks, Forrest Gump era um rapaz de limitada inteligência que vira celebridade do esporte, herói de guerra e encontra presidentes. Tudo meio sem querer querendo. Sempre estando no lugar certo, na época certa. Zagallo foi um jogador de alguns recursos técnicos que venceu quatro Copas do Mundo, mas nunca foi considerado “o cara” das conquistas. Copa de 1958: Brasil campeão pela primeira vez. Zagallo foi decisivo? Não. Aquela foi a Copa de Didi, laureado como craque do torneio, e de um certo novato chamado Pelé.  Copa de 62: tá lá o Zagallo na área. Mas os gols e jogadas de Garrincha é que  levaram a seleção ao bicampeonato. Copa de 70: agora sim, Zagallo era o técnico, o homem que escalou Gérson, Rivelino, Pelé, Tostão e Jairzinho. Ninguém reconhece. Afinal, com jogadores dessa estirpe, um técnico teria mais é que sentar no banco e es

cantai um cântico novo

O salmo 33, o salmo 40 e o salmo 96 nos conclamam a cantar “um cântico novo”. Mas a Bíblia está falando de uma nova música ou de um novo espírito para cantar uma música? No salmo 40, Davi diz que o Senhor o tirou de um pântano de perdição, o colocou numa rocha firme e segura e lhe “pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor a Deus”. Então Deus não lhe teria dado uma música para cantar nos tempos da amargura? De modo algum. Davi também compôs salmos quando estava sendo perseguido por seus inimigos. E certamente não lhe faltou inspiração divina. Davi escreveu uma música nova após confessar diante de Deus seu adultério com Bate-Seba: o salmo 51, no qual confessava o pecado, buscava o perdão e pedia de volta a alegria da salvação. O que Davi disse poeticamente é que a segurança da salvação lhe motiva a louvar ao seu Senhor.  Onde está a ênfase divina? Na música ou na vida? Lendo os salmos, vemos que uma nova vida produz um novo espírito de louvor.   Uma vida renovada é, ela mesma,

o ministro de louvor segundo o coração de Deus

De 1910 a 1930, Homer Rodeheaver era o diretor musical do pregador itinerante Billy Sunday. Trinta minutos de música antes do sermão, músicas animadas e de fácil aprendizado, grupo de cantores junto com o regente de louvor: Rodeheaver cunhou um formato litúrgico-musical que não perdeu fôlego até hoje. Ele também foi pioneiro na gravação de música cristã.  O ministério de música foi criado bem antes de Homer Rodeheaver. E o rei Davi foi um ministro de música. Ele era compositor, poeta, harpista e ainda recebeu a missão divina de organizar a música do templo que viria a ser construído por seu filho Salomão. Imagine alguém que possa comandar um exército em batalhas campais e também dedicar-se a escrever versos de beleza perene. Pois esse era Davi, um guerreiro-poeta . Sem se descuidar das ovelhas que guardava na juventude, ele também passava horas com sua harpa. Quem sabe fabricando suas primeiras canções. Não sobrou nenhuma canção sua para ouvirmos hoje. Mesmo assim, elas deviam ser bo

os Estados Unidos e o "sanduíche do diabo"

Um deputado americano referiu-se ao pacote econômico aprovado pelo Congresso como "Devil sandwich (sanduíche do diabo)". Ele não quis dizer que Satã em pessoa amassou mais esse pão. Na verdade, "sanduíche do diabo" é uma expressão que se usa quando o lanche ou refeição de um casal é inadvertidamente preparado por uma ex-namorada ou ex-noiva (por exemplo, se ela trabalha numa lanchonete ou restaurante onde o casal foi jantar). Mesmo tendo outro significado, essa expressão serve como trocadilho apropriado para descrever a atual situação do governo de Barack Obama. Pressionado pela ala mais liberal dos democratas, que gostaria de ver o governo mais empenhado no avanço de seus projetos sociais, e acuado pela ala mais conservadora dos republicanos, que só vota com o governo se seus projetos neoliberais forem atendidos, o presidente Obama está comendo as migalhas do sanduíche do diabo. O atoleiro econômico em que os Estados Unidos se meteram (e para onde vão levando jun