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Mostrando postagens de janeiro, 2010

os mitos do rock in africa

Durante muitos anos, a comunidade evangélica ouviu sermões e palestras anti-rock que argumentavam que: - o diabo é o pai do rock; - o rock mata plantas; - o rock leva os ouvintes ao frenesi sexual. Esses itens, originários de declarações de roqueiros (Raul Seixas dizia que satã gerou o rock) e de experimentos científicos ainda controversos, fazem parte das objeções moralistas em relação ao rock. Mas o que há de verdade nisso tudo? Sou dos que concordam que o rock e suas tantas variações não cabem no louvor congregacional dos templos, mas acredito que são necessários  melhores argumentos para criticar seu uso como ferramenta evangelística ou até como entretenimento evangélico. Começo com a primeira objeção, a demonização do rock . Os detratores do rock continuam a contar uma historinha que já virou mais uma lenda urbana evangélica. Se você ainda não conhece: “Em alguma região da África, o filho de um missionário estava certo dia escutando um disco de rock.

o sensacionalismo nosso de cada manchete

Quando algo de extraordinário acontece é porque sempre há um editor de manchetes por perto. Todo ano, milhares de pessoas morrem por obra de motoristas bêbados, mas a manchete mais destacada será para o motorista que ocupa um posto público ou para quem é celebridade. O anônimo terá que estar envolvido em acidente gravíssimo, logo, extraordinário, para ser manchete. Dessa forma, ele se torna um anônimo que virou exceção. Milhares de pessoas assistiram ao filme Avatar e voltaram para casa, jantaram, dormiram e foram trabalhar nas manhãs seguintes, talvez comentando com um e com outro sobre os efeitos visuais do filme mais espetacular de todos os tempos da semana. Mas, eis que, como demorou tanto?, o noticiário avisa: Homem morre depois de assistir Avatar em 3-D . O caso, acontecido na China, é triste e trágico para o homem e para a família, acreditamos. De outro lado, sites (eu soube pelo Yahoo! Notícias), blogs, jornais, revistas se fartarão de leitores que se espantarão com o fato. Os

a religião de todos os dias

Noutro dia vi o seguinte slogan: Mais Deus e menos religião . Talvez quisessem dizer que: 1) A religião tem um currículo de perseguições e intolerância, o que permitiria às pessoas atacarem-na como o pior dos males que afligem o homem. Deus, ao contrário, não estaria presente na religião, pois sendo Deus amor, e a religião o oposto do amor, logo Deus é melhor que religião. 2) A religião estaria reduzida ao ritualismo formal, o que obstrui a aproximação do indivíduo desejoso de ser mais amigo de Deus. O formalismo impede o contato mais íntimo, mais caloroso, mais emocional com a divindade e, sendo Deus o Pai de todos, o ritual só apresenta Deus em símbolo abstrato, nunca como o Pai que abraça o filho. A toada queixosa contra a religião pode ocupar todos os megabytes do Gúgol e ainda vai faltar espaço. Acontece que a noção de religião passou a ser confundida com a noção de igreja. Acontece que os lobos e lobistas em pele de cordeiro andam aos bandos iludindo quem quer e

avatar e a espiritualização da natureza

O filme mais caro da história. A segunda maior bilheteria de todos os tempos. Marco tecnológico. De todos os ângulos, Avatar é um superlativo. Mas o que tanto atraiu a atenção das pessoas? A história? Duvido. Vejamos num resumo: um soldado semi-inválido e cansado de combates acaba indo para um mundo distante e lá ele descobre a harmonia de um povo em contato com a natureza, se apaixona por uma nativa e enfrenta preconceitos e tensão bélica. Isso faz de Avatar uma versão em 3-D de Dança com Lobos , como estão dizendo. Para o crítico Renato Silveira , Avatar é “a vanguarda da tecnologia oposta ao lugar-comum de um modelo narrativo típico de filmes de fantasia”. Assim, todo mundo sabe de antemão que o herói ficará encantado com uma nova cultura pura, encontrará um amor puro, uma forma de vida pura em contraste com a ganância dos terráqueos e com o vilão que ele mesmo terá que enfrentar. O enredo é, digamos, puro lugar-comum. O que não é comum é a inovação tecnológica desenvolvida

dos que semeiam canções

Dia do compositor. Como faço parte da numerosa família dos compositores menores me resta aprender a compor melhor e falar dos compositores maiores. Foi estudando partituras de Villa-Lobos e Stravinski (vi numa foto) que Tom Jobim foi cada vez mais se tornando o maestro soberano. Se o Tom fez isso, que dirá nosotros , cheios de boa vontade e escasso talento. Muita gente pergunta: “Como é que se compõe?” ou “De onde vem sua inspiração?” Os mais honestos responderão Não sei, só sei que é assim , para a primeira questão. Já a segunda pergunta tem uma resposta simples: a necessidade. Quando o credor bate à porta, o talento flui que é uma maravilha! A inspiração não é uma ilha. E se for, é uma ilha com várias pontes para outras ilhas. A inspiração não surge do nada. Ninguém senta ao piano ou pega o violão e fica esperando uma voz soprar uma sequência melódica. A inspiração é precedida pelo estudo e, principalmente, pela escuta. Em qualquer caso, nenhum compositor cria ex nihilo , do nada.

a vida que faz diferença

Hospital Nossa Senhora do Pilar, Curitiba, 14:30. Eu, ao teclado, e o maestro Paulo Torres, spalla da Sinfônica do Paraná, começamos a tocar pelos quartos e corredores do hospital. Alguns, presos em leitos da UTI, talvez não escutem, enquanto outros reagem de uma forma que me impressiona. Uma senhora, enquanto tocávamos o hino “Lindo País”, abre os braços e permanece assim durante toda a música. O que ela estaria pensando? Estaria reagindo apenas à sonoridade, ou aquela música lhe traz recordações e lhe dá esperança, talvez não de cura, mas de vida eterna? Em outro andar, um jovem marido coloca um sofá à porta do quarto para que sua esposa se sente. Ambos ouvem nitidamente emocionados ao hino “Sou Feliz”. Alguns visitantes saem dos quartos para ouvir e agradecer. Tocamos ainda “Falar com Deus” e “Maior que Tudo”. Também tocamos “Traumerei”, de Schumann, e “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim. No último andar, uma senhora coloca o celular bem perto do violino para que alguém ouça

a casinha de bonecas do Bial

Janeiro é o tempo das dietas e chuvas de verão. Até que as águas de março rolem por baixo da ponte, muito big brother vai despontar para o anonimato, como o cro-magnon Kleber Bambam, ou alterar o nome de guerra, como Grazi Massafera, agora Gra zz i com dois "Z", de zapear de canal, de zero talent ou de zzzz. Pra mim tanto fazz como tanto fezz . Eles e elas suportarão vergonhas e vexames estoicamente. Mesmo porque vexame, inibição e senso de ridículo são vocábulos ausentes do idioma dos moradores da casinha de bonecas do Bial. Pedro Bial, que trocou as acelaradas reportagens internacionais pelo piloto automático de mestre de cerimônias da encenação da realidade (esta é a tradução certa de reality show), revelou-se o anfitrião da casa de bonecas perfeito para narrar as fantásticas peripécias de acasalamento de anônimos, para alcovitar as estrepolias eróticas de desocupados, para realizar-se como Guia deste inferno dantesco que assola o verão. E paro por aqui, que estes adjetivo

(des)encontros entre música brasileira e canção protestante

Em meados dos anos 1960, o debate cultural-ideológico da hora dividia os músicos brasileiros em dois grupos: de um lado, a turma das jovens tardes de domingo cujas canções falavam de romances e aventuras despreocupadas. O trio de destaque era formado por Roberto Carlos, Vanderléia e Erasmo Carlos. De outro lado, estava o grupo que frequentava festivais de música popular cujas canções preferidas criticavam a repressão militar e incentivavam a resistência política. Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque destacavam-se como a voz rouca dos estudantes politizados. O primeiro grupo introduzia a guitarra elétrica na música feita no Brasil; o segundo grupo fazia uma “Passeata contra a guitarra elétrica” nas ruas do Rio. Os primeiros não ignoravam o golpe militar (chamado à época de “revolução”), mas preferiam cantar sobre bailinhos e carrões, e se estivessem aquecidos no inverno, então que tudo mais fosse pro inferno . O segundo grupo protestava contra o regime autoritário imposto ao país e

matrix, o escolhido e as escolhas

As referências para a criação da série Matrix provêm de fontes tão díspares como o kung fu, os quadrinhos, a teoria do simulacro e a salvação messiânica. Do kung fu, a coreografia das lutas. As HQs (histórias em quadrinhos) inspiram a posição das câmeras, a fotografia e os superpoderes do herói. A teoria do simulacro é mais complicada, mas resumindo grosseiramente seria assim: o filósofo francês Jean Baudrillard, falecido em 2007, criticava a transformação da vida humana em “realidade virtual”, em um jogo de simulações em que a realidade dos objetos é substituída pela hiperrealidade dos signos bombardeados pelos meios de comunicação de massa. Baudrillard era complicado como um filósofo francês deve ser, mas acho que ele queria dizer que o ser humano se tornara mais perdido que um cego existencial num tiroteio midiático . Baudrillard era assim mesmo, um autor apocalíptico que poucos entendiam, e quem achava que tinha entendido, o próprio autor se encarregava de dizer que não tinha