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Mostrando postagens de 2018

a malandragem de por a culpa na raça

Essa foto antiga de um elegante ancião negro é provavelmente a última fotografia em vida do maior dos escritores brasileiros: Machado de Assis. Na época, ele era o presidente da recém-fundada Academia Brasileira de Letras e havia publicado algumas obras-primas. Mas... para algumas pessoas, a grandeza literária e a dedicação ao trabalho não caracterizam a etnia de Machado. Para elas, deve ter havido malandragem no caminho... Se a fala recente do general Hamilton Mourão distinguindo a malandragem como um componente típico dos africanos, e por tabela, dos afro-brasileiros, lhe parece reacionária e coisa de um passado vergonhoso, lembre que esse pensamento ainda representa muita gente. Essas atitudes que reduzem etnias a uma categoria cultural negativa estão fortemente enraizadas no nosso tal “Brasil cordial”. Veja o que escreveram o crítico literário José Veríssimo e o embaixador Joaquim Nabuco sobre Machado de Assis quando o escritor faleceu em 29 de dezembro de 1908. Veríssimo

a generosidade não está nos manuais

Corre na internet o vídeo em que um segurança impede que um cliente pague um almoço para uma criança que vendia chiclete no shopping. Nele, vemos duas formas de violência em estado bruto. 1) Uma criança pedindo (e não comprando, como é regra dos nossos shoppings) comida. E numa situação de viver da caridade de quem lhe detesta, uma criança com fome é a primeira violentada. 2) Um segurança que obedece cegamente ao manual de conduta dos nossos shoppings. E sob a condição de pe rder o emprego caso não cumpra zelosamente o manual, ele se obriga a perder a compaixão, a compostura, a humanidade. * Quanta violência já não foi cometida por pessoas que não hesitam em dizer "estou apenas cumprindo o meu dever"? * Mas nesse mesmo vídeo, "tanta violência, mas tanta ternura", como nos versos de Mário Faustino. O cliente resiste e vai "cometer" ali um "crime de generosidade". Oferecer um prato de comida a quem pede é uma violação do manual do sho

los perfeccionistas musicales: quando os jovens cantam

Certo dia, um grupo de perfeccionistas musicais veio até o mestre trazendo alguns desbravadores e jovens que estiveram num encontro cristão na Amazônia. Um dos principais do grupo disse: - Mestre, estes jovens foram vistos cantando e pulando ao som de tambores. Cumpra-se, então, o manual. Respondeu-lhes o mestre: - Não são estes jovens os mesmos que estão estudando e trabalhando pela sua fé enquanto vós dormis a tarde inteira do sábado e acordais mais tarde na manhã de domingo? O mestre seguiu lhes dizendo: - Arregalai vossos olhos quando os mais jovens se excedem por poucos instantes ao som de uma música mais empolgante e fechai vossos olhos para o fato de que as festas religiosas que vossos pais também realizavam fora do templo eram muito mais animadas com adufes, pandeiros e danças. E digo-vos, ainda: Há entre vós mestres e doutores que criam músicas e revistas distintas para cada idade, mas que também criam somente discórdia e falso pânico quando crianças e jovens age

Sabedoria x Estupidez nestes dias maus

"Nas minhas reflexões sobre estes tempos que vivemos no Brasil e a necessidade cada vez mais crescente de humanização e de paz, deparei-me com o ensaio "As Leis Fundamentais da Estupidez" [escrito pelo professor da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), o italiano Carlo Cipolla, em 1976]. Com ele, veio a compreensão de que o que estamos vivendo em nosso país é a estupidez humana tornada pública em tal nível que ganha ares de triunfo pela visibilidade que as mídias digitais lhes proporcionam. "Digo isto baseada na Terceira Lei Fundamental da Estupidez, que Cipolla chama de Lei de Ouro. É a própria definição do termo, muito mais profunda do que a que eu vivenciava: UMA PESSOA ESTÚPIDA É UMA PESSOA QUE CAUSA UM DANO A UMA OUTRA PESSOA OU GRUPO DE PESSOAS, SEM, AO MESMO TEMPO, OBTER QUALQUER VANTAGEM PARA SI OU ATÉ MESMO SOFRENDO UMA PERDA. "Sim! Pedir intervenção militar num país cujas feridas dos 21 anos de ditadura militar ainda estão abertas, e qu

Louvor Congregacional - parte 1: o som dos cultos

Antes da reforma musical de Martinho Lutero e João Calvino no século 16, quem ia à igreja raramente cantava. A parte musical era desempenhada exclusivamente por profissionais, que, além de tudo, cantavam num idioma desconhecido para a maioria das pessoas (o latim), enquanto a congregação praticamente só assistia à missa. Alguns reformadores protestantes devolveram a música de louvor e adoração para a congregação, e hoje ninguém imagina entregar o ato de louvor para um corpo profissional de “adoradores”. No entanto, às vezes levamos o louvor congregacional de volta aos tempos anteriores à Reforma. Isso acontece por alguns motivos, dentre os quais destaco: (1) o volume alto da banda e das vozes que acompanham o momento de louvor e (2) o desconhecimento dos cânticos, tradicionais ou contemporâneos, selecionados para os cultos. Aumentar o volume dos instrumentos musicais não vai aumentar o espírito de louvor da congregação. Como já sabemos, a igreja não vai tentar cantar ma

quando Martin Luther King discursou numa universidade adventista

Martin Luther King foi assassinado há 50 anos, em 4 de abril de 1968. Seu ativismo social pacifista transformador e o poder de seus discursos são bem conhecidos e estão eternizados em vídeos, livros e filmes [recomendo o ótimo "Selma"]. O que eu ignorava até outro dia é que o Dr. King esteve em Oakwood College, universidade adventista, em 19 de março de 1962 e proferiu um discurso semelhante ao famoso "I Have a Dream" [Eu tenho um sonho], feito em 1963 durante a Marcha sobre Washington. Quando Luther King foi à cidade de Hunstville, o único lugar em que poderia discursar era a Oakwood College, instituição adventista criada em 1896, no Estado do Alabama, para proporcionar acesso à educação aos jovens negros do Sul dos Estados Unidos [vale lembrar que se tratava do mesmo Alabama em que Luther King liderara em 1955 um boicote aos ônibus da cidade de Montgomery]. O Prof. Dr. Mervyn Warren lecionava em Oakwood e lembra do impacto da presença de Luther King: &qu

los perfeccionistas musicales #3: decadência musical

- Mestre, quem é o culpado pela decadência musical: o cantor, o mercado ou a mídia? Respondeu-lhes o mestre: - Nenhum destes, e sim, vocês mesmos que ensurdecem os artistas, beijam a mão invisível do mercado e assentam diante do trono da mídia. Porque nisto verdadeiramente consiste a decadência: que as pessoas não vão ouvir música, mas venerar seus ídolos.