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Mostrando postagens de outubro, 2010

o cantor na igreja: com noção ou sem noção

Escolher uma música para cantar na igreja parece ser uma tarefa fácil. Mas não é. O sujeito recebe o convite, preprara uma mensagem musical para o final do sermão de sábado, acerta o tema com o pregador previamente, vai até seu estojo de playbacks, seleciona uma canção, ensaia, decora a letra, chega cedo no sábado de manhã, passa o som do microfone, confirma com o pastor qual o momento certo em que deve subir à plataforma para cantar e... ficou muito bom, obrigado, meu irmão, sua música “casou” com a mensagem, Deus te abençoe. Essa organização toda que descrevi, nós sabemos, não é comum. Quase sempre aparece o frequentador habitual de muitos cultos: o Improviso dos Santos, um irmão que raramente falta. Sonoplasta atrasado, cabos velhos de microfones, convites em cima da hora, Dá pra você cantar uma música na escola sabatina também?, Mas não preparei outra música, Ah, canta qualquer coisa que você trouxe aí! Não poucas vezes, o mensageiro se interessa mais pelos ensaios do que pela pr

James Bond encontra a Pantera-cor-de-rosa dentro de um piano

O pianista Richard Grayson é um improvisador. Ele mistura os temas musicais de James Bond e da Pantera-Cor-de-Rosa ao estilo erudito da fuga. Consolidada no período do barroco musical, a fuga é um estilo de composição permeada de contrapontos e imitações de um tema principal. Explicação grosso modo: um tema (ou voz) principal começa e logo é repetido por outras vozes que vão entrando, mudando de tonalidade e se entrelaçando. Ouve-se o tema e uma outra voz como que querendo alcançá-lo, como numa, isso mesmo, fuga. No caso desse improviso de Richard Grayson, os temas dos filmes são o motivo para uma fuga dupla, ou seja, os temas são desenvolvidos ao mesmo tempo. Às vezes, nesse tipo de fuga, desenvolve-se o tema A, depois o tema B e por fim entrelaçam-se os dois temas. Tava pensando que improvisação é coisa de gente que não estuda? Audioveja o pianista. Em outro vídeo, Darth Vader encontra Beethoven .

diante do trono e da mídia

Diante do Faustão, o Diante do Trono me pareceu diferente. As músicas encolheram, ninguém falou em línguas, não teve "unção do Leão". Foi uma dica dos produtores do programa, da gravadora, foi uma percepção de Ana Paula Valadão?  Ana Paula é uma cantora carismática (em mais de um sentido). Quando respondia às perguntas do Faustão com aquela vozinha meiga nem parecia a pastora que adentra o terreno do êxtase com a mesma facilidade com que sai dele. Talvez por isso haja a crítica às performances teatralizadas da cantora. Quem não se entrega aos seus arroubos emocionados, acaba achando que ali tem muito teatro. Seria uma espécie de encenação da contrição. Olhos fechados, voz chorosa, gestos dramáticos: os DVDs do Diante do Trono estão repletos de cenas assim. Por que no Domingão do Faustão isso não aconteceu? Por que a cantora não irrompeu no "falar em línguas"? Seria para não espantar os telespectadores não-evangélicos (ou mesmo parte dos evangélicos)? Ou o tempo no

música encurta viagem

Entre as tantas lendas que cercam os lendários escritores brasileiros, tem uma que conta que o poeta Manoel de Barros estava num barquinho a deslizar no macio de um rio pantaneiro e de repente avistou no convés ninguém mais ninguém menos que Guimarães Rosa. E Rosa mirava o rio. E escutava os sons dos pássaros na margem do rio. Talvez já elocubrando, por que não?, os contos de  A Terceira Margem do Rio . Sem saber como se aproximar e como se dirigir ao colega de profissão, Manoel de Barros chegou  mais perto e disse: "Passarinho encurta viagem, não?" Na cidade, que não tem barquinho mas tem busão, viajamos quilômetros intermináveis. No carro ou no metrô ou no trem, ou tudo isso junto, estamos sempre apertados. Ninguém passa. Nem o tempo. Nessa lentidão arrastada das horas, sem passarinho, resta-nos a música. No trânsito, a música é o melhor amigo do homem. Quer dizer, às vezes. Se é você quem escolheu o repertório que vai nos seus fones, tudo bem. Pra quem gosta, dá

comentários à carta de Marina

Em sua epístola aberta aos dois candidatos que disputam a presidência da República, Marina Silva mostra sua estatura ética e sua vereda política. Não é uma carta-bomba. É uma carta que mais parece um bilhete da professora. Como os dois candidatos estão se comportando como alunos em briga de recreio, bem que merecem ouvir. E nós também (Só pesquei e comentei em itálico alguns trechos. A íntegra da carta está aqui ). “Quero afirmar que o fato de não ter optado por um alinhamento neste momento não significa neutralidade em relação aos rumos da campanha. Creio mesmo que uma posição de independência, reafirmando ideias e propostas, é a melhor forma de contribuir com o povo brasileiro”. Marina fez bem em não alinhar-se a nenhuma candidatura. Ficou do lado certo. O seu. Se ela volta ao PT, vai parecer uma traição aos ex-petistas indignados com a corrupção ativa e passiva no governo. Se ela se aproxima de Serra, suas propostas ambientalistas não ecoam na bancada ruralista do DEM de Ronald

a forma e a essência da adoração

A Revista Adventista de setembro traz uma entrevista que merece reflexão e ação por parte dos líderes e músicos da igreja. O entrevistado, Edemilson Cardoso, pastor da Capital Brazilian Temple, em Washington DC, diz que precisamos repensar nossos modelos litúrgicos. Ele vê que o caminho para o reavivamento dos cultos passa por uma vida de comunhão e pelo resgate dos elementos bíblicos na adoração. Mas ele não descarta os recursos e formas musicais contemporâneas de expressão. Transcrevo a seguir alguns pontos da entrevista (especialmente os tópicos sobre música). Importância da música para a igreja Na maioria dos reavivamentos pelos quais o povo de Deus passou, o ministério da música foi restaurado. Davi, por exemplo, foi o que reestruturou da melhor maneira possível a adoração do seu tempo [...] Também em períodos como a Reforma e o reavivamento americano no século 19, a música acompanhou a Palavra de Deus e novas músicas foram compostas. Hinos tradicionais e adoração contemporâne

a música que não deixa a gente trabalhar

“Não conheço nada mais grandioso do que a Apassionata. Gostaria de ouvi-la todo dia. É uma música maravilhosa, sobre-humana... Mas eu não posso ouvir música com muita frequência, ela me faz mal aos nervos, deixa-me querendo dizer coisas gentis, estúpidas, afagar a cabeça de pessoas que, vivendo nesse mundo tão vil, podem criar tamanha beleza”. Sabe quem disse isso? Lênin. O comandante da revolução russa não podia ouvir música muito bonita. Se ouvisse, capaz que não fizesse mais revolução coisíssima nenhuma. O que teria sido muito melhor, convenhamos. Mas dá pra entender o camarada Lênin. Outro dia de manhã cedo tentei trabalhar ouvindo o CD “La legende du piano”. Impossível. Não há escriba que se concentre com as lindezas melancólicas de Chopin. Fui olhar o encarte. O CD tinha um sonata do Scarlatti em fá sustenido menor, uma fantasia de Mozart em ré menor, um prelúdio de Chopin em mi menor, mais Chopin em dó menor, um Tchaikovsky em si bemol menor. Tudo em tom menor. Não era à toa

o getsêmani de todos nós

É num jardim, é noite. Um homem ora. Dilacerado Chora Calem a música, desliguem o riso Um homem chora num jardim Seus amigos são os galhos Sua casa está muda Seu quinhão, as pedras Sua casa está cega Que Pai é esse? Que paisagem é essa? Não se entra no Getsêmani para colher flores. Ali, os joelhos se dobram É onde se grita sem voz Lá não há para ti um palco iluminado Ali se entra descalço e sem gravata. Eu fui ao Getsêmani e não te encontrei Mas eu orei por ti Porque todos têm que passar algum dia De alguma forma pelo jardim E quando chegares Virás com os paredes dos sonhos no chão E verás com outros olhos, com os olhos do céu, Que o jardim não seca o ribeiro de lágrimas, Que o jardim é só outro lado da página Onde leio o sentido da vida com Deus. o getsêmani de todos nós Joêzer Mendonça, fins de setembro, pensando nas dores da irmã, lembrando das dores do Irmão.

e o vencedor é...

Marina foi a grande vencedora dessas eleições. Será mesmo? Derrotou a candidata do PT e agora será cortejada como uma rainha Elizabeth pelo PSDB. Ela, Marina morena, foi a responsável pelo segundo turno e não a coordenação descoordenada da campanha de José Serra. Talvez ela seja a grande vencedora. Mas, dos motivos que a levaram ao segundo turno, somente um vale a vitória: a indignação do eleitor com a corrupção petista no governo federal e com o comportamento de Lula na campanha pró-Dilma. O outro motivo é torpe como são torpes todas as calúnias: a satanização de Dilma. Começando pela senhora, Dona Veja , pelos senhores, Folha de S. Paulo e Estadão . Não inventaram fatos, mas exageraram relatos como duas comadres conversando da janela. Noves fora os mitos e mil spams. Um dizia que Dilma mata criancinhas porque seria a favor do aborto. Outro dizendo que Dilma seria a favor do casamento gay já para ontem. Como se ela fosse correndo oficiar uma cerimônia coletiva de saída de armário 

todas as músicas do mundo

O que é música? Para dois músicos do filme Todas as Manhãs do Mundo , a música tem um valor diametralmente oposto. Sainte-Colombe é um mestre na arte de tocar viola da gamba. Admirado pela corte francesa do século XVII, Sainte-Colombe torna-se um recluso quase intratável   após a súbita morte da esposa. U m homem rude, mas dotado de transbordante criatividade. Passa a tocar solitariamente e dá aulas apenas para suas duas filhas. Resistindo aos convites para tocar na corte, ele reage asperamente: “Prefiro minhas roupas de pano às vossas perucas da moda. Prefiro as minhas galinhas aos violinos do rei” . O outro músico é Marin Marais, jovem que procura o mestre Sainte-Colombe com a intenção de ser seu discípulo musical. A relação entre eles será sempre tempestuosa. O talento, a dedicação e a visão de mundo de ambos os músicos estará separada por um abismo de consagração: o aluno quer exibir-se para a corte, o mestre quer tão-somente tocar música. Sainte-Colombe: “Jovem senhor, vós