Após o resultado do 1º turno das eleições 2014, Marina Silva
disse estar orgulhosa de sua campanha. Mas também pode estar se perguntando
“onde foi que eu errei?”. Afinal, ela chegou a estar com o ticket para o 2º
turno nas mãos e, pouco a pouco, sua candidatura foi perdendo fôlego.
Quais seriam os prováveis pecados de rota e estratégia na sua
campanha? Como num jogo de 7 erros, achei alguns:
7) Fator emocional: a comoção geral em torno da morte de
Eduardo Campos alavancou o crescimento súbito de Marina. Com o passar do tempo,
a poeira assentou e o impulso emocional arrefeceu.
6) Amizade “indevida”: em 2013, muita gente foi às ruas gritar
não só contra o governo, mas contra os empresários do transporte coletivo,
contra a FIFA e também contra os bancos, ocasião em que várias agências foram
depredadas. Quando o eleitor descobriu que Marina Silva tinha a amizade e o
financiamento de Neca Setúbal, herdeira e acionista do Banco Itaú, ele pode ter desconfiado
de que a amizade seria “indevida” dentro da ideia de nova política da candidata.
5) Nova política: ao ser confrontada nos debates sobre sua ideia de nova política, a posição de Marina não ficava suficientemente clara. Luciana Genro chegou a dizer à Marina que uma nova política não era feita de conciliação de posicionamentos com a velha politica, mas que uma nova política só era possível contrariando interesses.
4) Letargia no pragmatismo político: Marina Silva, que possui uma biografia limpa e louvável, saiu do PT por, entre outras questões,
discordar de posições ambientalistas. Ela saiu do PV para formar seu próprio
partido (a Rede Sustentabilidade) novamente por discordâncias políticas e ela
mesma, dado o seu perfil combativo, não era exatamente a ajuda que Eduardo
Campos precisava para atrair aliados, como a bancada ruralista. Como candidata à presidência, Marina
demorou a aceitar o apoio de Geraldo Alckmin em São Paulo, devido a sua rejeição ao
PSDB (sendo que agora parece que apoiará Aécio Neves!). Nem nova nem velha
política, o que transpareceu foi uma demora na articulação da política da vida
real.
3) A equipe econômica: quando Marina deu a entender que seu
ministro da Fazenda poderia ser Armínio Fraga, homem-forte da economia frágil do
governo FHC, a notícia, embora possa ter causado boa impressão entre os
banqueiros e especuladores da Bolsa, pode ter afastado dois tipos de eleitores:
os que não perderam a memória e lembram do endividamento público, da taxa de
juros e do desemprego no segundo mandato de FHC; os que acharam que colocar
Armínio Fraga no ministério é como por a raposa pra tomar conta do galinheiro. Ou
seja, se no governo PT, os banqueiros nunca ganharam tanto, com Fraga a coisa
seria ainda mais descarada (vale lembrar que Fraga é nome certo na equipe
econômica de um provável governo Aécio).
2) Os quatro tuítes de Malafaia: Marina achou que devia recuar
em posicionamentos progressistas relativos ao aborto e ao casamento gay. Sua mudança
não se deu em negociação com as lideranças religiosas mais diversas, sendo ocasionada pela pressão dos setores mais conservadores do cristianismo no
Brasil. Há muitos cristãos que não se sentem representados por Malafaia ou
Marco Feliciano. E uma fatia de eleitores deixou de se sentir representada por
Marina.
1) Índice de confiabilidade: apesar de acenar com um sopro de
novidade política (mas não econômica, diga-se), o programa de governo de Marina
não apresentou definições claras sobre temas como educação e crescimento
econômico. Embora, enquanto Aécio não crescia nas pesquisas, o empresariado
nacional passou a conversar com Marina, o que se viu na reta de chegada foi um
reflexo do pequeno índice de confiabilidade do eleitor nacional na candidata do
PSB. Essa ideia do eleitor aparentemente foi baseada nas falas públicas de Marina, sem conhecer mais a fundo a sustentabilidade de suas propostas.
Particularmente, não acho que as coisas mudariam significativamente
num governo Marina (até porque, ela mesma disse que buscaria governar com os melhores do PT e do PSDB). Penso que o modelo neoliberal seria mantido na economia e
que, ela, por seu histórico de lutas por causas
sociais, também iria manter programas federais de diminuição da pobreza.
Lula perdeu 3 eleições consecutivas antes de ser eleito
presidente em 2002. Resta a Marina o desenvolvimento da ideia de conciliar o
melhor dos dois mundos, ou dos dois partidos que há 20 anos dominam a política federal.
A realização de tal projeto parece estar mais no campo dos sonhos do que na arena
da vida política concreta, mas quem sabe ela poderá vir com nova força e seus irrepreensíveis ideais para uma
terceira campanha.
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