Não é de hoje que socialite ri à toa. Sem a cabecinha estorvada por preocupações tão plebéias como, o que vamos comer ou como vamos pagar?, sobra tempo para considerações mais sérias, tipo “tenho mesmo que convidar a nova namorada do meu antigo affair para minha festa?” ou “essa invejosa (cumprimentando a invejosa) comprou um Rolex mais caro que o meu?”
A diversão e o prazer estão no topo das prioridades de muito endinheirado desde Babilônia, passando por Grécia e Roma, até os denominados roaring twenties (numa tradução à Danuza Leão, a 'socialite esclarecida': os saltitantes anos 20). Essa década, inclusive, teve sua descrição nos Seis contos da era do jazz, de Scott Fitzgerald, e Paris é uma festa, de Ernest Hemingway. Com o propósito de extrair um perfil das ilusões perdidas pós-I Guerra Mundial e um olhar sobre a lassidão moral e sexual da “feérica Paris”, ambos os escritores usaram o velho método da imersão total: no cumprimento do dever literário, os dois caíram na gandaia e ainda faturaram uns bons trocados.
Se há 90 anos, todos queriam ir à Paris, hoje muitas querem ser a Paris Hilton. A saltitante Paris, seja na salutar companhia de sua alma gêmea, a maluquete Britney Spears, ou quando divide a atenção com a doidivanas Lindsay Lohan, segue sua rotina estafante de ir pra balada, tomar várias, ficar com diversos, ser fotografada por alguns, aparecer na tv para muitos, ser xingada por todos (obs.: a foto acima não é de nenhuma das 3 meninas mencionadas).
Mas certa vez, Paris dirigia pela estrada afora bem contente quando foi abordada por policiais. Então, a rainha das celebridades frenéticas, a fim de sair desse noite-a-noite monótono que vivia, resolveu assumir a culpa e decidiu passar uns dias na prisão, prestando-se exemplarmente de repreensão e correção para a sociedade civil adolescente. Afinal, toda Tati Quebra-Barraco tem seu dia de Sandy.
Tarde demais. Ela já era a representante-mor de uma categoria recém-criada: a parisinha. Depois da patricinha, aquela menina movida a celular e cuja vida é um shopping center, chegou a parisinha, aquela garota total flex, movida à álcool no sangue, gasolina no tanque e cuja vida é uma balada. Emprestando o jargão, as parisinhas vivem como se não houvesse amanhã.
E como os paparazzi são inimigos necessários à manutenção do estrelato, é provável que uma multidão de parisinhas venha a acorrer às prisões para experimentar o deleite de beber, dirigir, ser algemada e, claro, ser capa de revista.
O trio ululante Paris-Brit-Lind serve de pedra de escândalo planejado e é apenas a ponta famosa de uma meninada que vive la vida loca ainda no anonimato.
A ditadura da fama aliou-se à ditadura do hedonismo, em que a satisfação da curiosidade comanda os índices de audiência e a busca da auto-gratificação instantânea governa os sentidos. Assim, morbidamente curiosos para saber “quem saiu com quem e com que roupa” e com a fúria hormonal atiçada pelo padrão ultra-sexualizado do visual cine-televisivo, há jovens e adolescentes, e também muita gente grandinha, que não têm a menor dúvida de quem é seu herói: a superParis, a heroína (com trocadilho, por favor) que não estuda, não trabalha, não mora com os pais, aparece na tv, namora quem quer, vai pra onde quer e, quando quer, ainda vai posar na cadeia.
Talvez fosse melhor não mais fotografá-las nem lhes dar cobertura na mídia. Em suma, deixar as meninas dançarem em paz e não dar atenção às tentativas de marketing pessoal de celebridades com extrema necessidade de serem notadas. Mas, talvez, fingir que não existem seja apenas varrer o problema pra debaixo do já empoeiradíssimo carpete social. O filme delas não sai de cartaz porque a mesma mídia que glamouriza Paris Hilton é a mesma que transmite o vídeo-testamento de um terrorista universitário; a mesma mídia que condena Britney Spears é a mesma que chama de censura a crítica a superexposição sexual de suas novelas.
Sorte das parisinhas de hoje. Azar mesmo teve Maria Antonieta, a tresloucada rainha-celebridade da corte francesa, que viveu sem paparazzi nos tempos da guilhotina.
A diversão e o prazer estão no topo das prioridades de muito endinheirado desde Babilônia, passando por Grécia e Roma, até os denominados roaring twenties (numa tradução à Danuza Leão, a 'socialite esclarecida': os saltitantes anos 20). Essa década, inclusive, teve sua descrição nos Seis contos da era do jazz, de Scott Fitzgerald, e Paris é uma festa, de Ernest Hemingway. Com o propósito de extrair um perfil das ilusões perdidas pós-I Guerra Mundial e um olhar sobre a lassidão moral e sexual da “feérica Paris”, ambos os escritores usaram o velho método da imersão total: no cumprimento do dever literário, os dois caíram na gandaia e ainda faturaram uns bons trocados.
Se há 90 anos, todos queriam ir à Paris, hoje muitas querem ser a Paris Hilton. A saltitante Paris, seja na salutar companhia de sua alma gêmea, a maluquete Britney Spears, ou quando divide a atenção com a doidivanas Lindsay Lohan, segue sua rotina estafante de ir pra balada, tomar várias, ficar com diversos, ser fotografada por alguns, aparecer na tv para muitos, ser xingada por todos (obs.: a foto acima não é de nenhuma das 3 meninas mencionadas).
Mas certa vez, Paris dirigia pela estrada afora bem contente quando foi abordada por policiais. Então, a rainha das celebridades frenéticas, a fim de sair desse noite-a-noite monótono que vivia, resolveu assumir a culpa e decidiu passar uns dias na prisão, prestando-se exemplarmente de repreensão e correção para a sociedade civil adolescente. Afinal, toda Tati Quebra-Barraco tem seu dia de Sandy.
Tarde demais. Ela já era a representante-mor de uma categoria recém-criada: a parisinha. Depois da patricinha, aquela menina movida a celular e cuja vida é um shopping center, chegou a parisinha, aquela garota total flex, movida à álcool no sangue, gasolina no tanque e cuja vida é uma balada. Emprestando o jargão, as parisinhas vivem como se não houvesse amanhã.
E como os paparazzi são inimigos necessários à manutenção do estrelato, é provável que uma multidão de parisinhas venha a acorrer às prisões para experimentar o deleite de beber, dirigir, ser algemada e, claro, ser capa de revista.
O trio ululante Paris-Brit-Lind serve de pedra de escândalo planejado e é apenas a ponta famosa de uma meninada que vive la vida loca ainda no anonimato.
A ditadura da fama aliou-se à ditadura do hedonismo, em que a satisfação da curiosidade comanda os índices de audiência e a busca da auto-gratificação instantânea governa os sentidos. Assim, morbidamente curiosos para saber “quem saiu com quem e com que roupa” e com a fúria hormonal atiçada pelo padrão ultra-sexualizado do visual cine-televisivo, há jovens e adolescentes, e também muita gente grandinha, que não têm a menor dúvida de quem é seu herói: a superParis, a heroína (com trocadilho, por favor) que não estuda, não trabalha, não mora com os pais, aparece na tv, namora quem quer, vai pra onde quer e, quando quer, ainda vai posar na cadeia.
Talvez fosse melhor não mais fotografá-las nem lhes dar cobertura na mídia. Em suma, deixar as meninas dançarem em paz e não dar atenção às tentativas de marketing pessoal de celebridades com extrema necessidade de serem notadas. Mas, talvez, fingir que não existem seja apenas varrer o problema pra debaixo do já empoeiradíssimo carpete social. O filme delas não sai de cartaz porque a mesma mídia que glamouriza Paris Hilton é a mesma que transmite o vídeo-testamento de um terrorista universitário; a mesma mídia que condena Britney Spears é a mesma que chama de censura a crítica a superexposição sexual de suas novelas.
Sorte das parisinhas de hoje. Azar mesmo teve Maria Antonieta, a tresloucada rainha-celebridade da corte francesa, que viveu sem paparazzi nos tempos da guilhotina.
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