Se a guerra, segundo Clausewitz, é a continuação da política por outros meios, o futebol seria o prosseguimento da religião em nosso meio. Noves fora a politicagem contumaz que assola a organização desse esporte no Brasil, o futebol pode ser explicado como a religião com o maior número de fiéis no país.
Se o futebol é a religião, os times são as múltiplas denominações. Com a diferença de que o crente vai de uma denominação a outra, enquanto não se conhece quem troque de time com a mesma facilidade. Aliás, diz-se que o torcedor pode trocar de religião, de cônjuge e até de sexo, mas nunca trocará de time.
Assim como a maioria dos religiosos pouco se dá ao trabalho de conhecer a história de sua igreja ou estudar a fundo suas doutrinas, o torcedor (e boa parte dos jogadores também) mal conhece a história do esporte, suas regras ou seus direitos. No máximo, sabe de cor a escalação de um grande time do passado. Em geral, o torcedor fanático age como um fundamentalista religioso: ele logo esquece os erros do passado do seu time em prol das ações de sua equipe no presente, exibe sua paixão usando camisas, bonés e acessórios da equipe, seu time sempre está com a razão e, além de exigir vitórias o tempo todo, quer mais que o adversário se dê mal.
Esse último ponto é a marca do fiel torcedor (e secador): não basta ganhar do adversário. É preciso humilhá-lo, arrasá-lo, quase exterminá-lo. Digo quase, porque, no fundo, o torcedor de um time precisa do rival para que as partidas sejam épicas. É costume um time em baixa levantar-se justamente com uma vitória sobre o rival. Nesse caso, até o anoréxico 1 X 0 se torna um triunfo acachapante.
Se há religiosos que procuram acomodar equilibradamente sua cosmovisão religiosa, há aqueles que, em nome de não importa o deus ou deuses, subjugam violentamente qualquer um que não torça para a mesma fé, ou que não reze para o mesmo time. Esses costumam digladiar-se furiosamente na defesa de suas paixões clubísticas/doutrinárias, com saldo negativo para ambos os lados.
Mas será por causa dos fundamentalistas, dos criminosos eclesiásticos, dos pastores lobistas no Congresso, das ovelhas aliciadas pelo marketing religioso, por causa disso, a religião (ou o futebol) em si mesma é um erro, uma anomalia ultrapassada? Ora, não é esse um dos arrozoados de sempre do ateísmo e que hoje faz a fama de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, apóstolos do proselitismo ateísta, o qual defendem, bem, religiosamente?
E o que Kaká tem a ver com tudo isso? É que o jovem craque eleito melhor jogador do ano é religioso e futebolista, e o é de uma forma pouco celebrada pela mídia. Kaká, no futebol, não é de cair na balada, não faz declarações de auto-promoção, não troca de namorada a cada estação, não teve uma infância pobre como a maioria, não é “maloqueiro”. Tem opiniões firmes sem ser agressivo. Em suma, mais parece um jogador europeu do que um típico boleiro brasileiro. Além disso, é boa-pinta – Maradona dizia de Beckham, “como alguém pode ser craque com essa carinha?” – e disciplinado.
Como religioso, Kaká é membro de uma denominação evangélica. Ou seja, num país de maioria católica, o craque veste a camisa de outra fé. E como a mídia põe num mesmo caldeirão toda igreja evangélica, em geral apresentada como um bando de fanáticos fundamentalistas em transe que grita nas ruas e nos templos-armazéns, Kaká também é visto com desconfiança.
Nesse aspecto, Kaká também parece diferente. Em certa entrevista, revelou sem grito que seu livro preferido é a Bíblia, lendo inclusive sua passagem preferida. Casou virgem, mas não fez disso um palanque promocional. Quer ser pastor quando encerrar a carreira de jogador, mas já adiantou que deve estudar teologia para conhecer os dogmas e doutrinas. Ele não se parece com aquele típico atleta de Cristo que se envolve em confusões dentro e fora do campo ou com aquele evangélico que só tem um assunto. Como já declarou, tem consciência do quanto é difícil ser fiel hoje em relação a princípios escritos há milênios.
Assim, como Kaká faz o estilo que os cínicos apelidam de “certinho”, o jogador não tem o perfil que as páginas sociais adoram e que muitos colunistas esportivos exaltam. Exemplos podem às vezes desapontar; talvez seja melhor seguir bons valores. Mas não seria ruim se o estilo Kaká fosse mais celebrado pela mídia.
Se o futebol é a religião, os times são as múltiplas denominações. Com a diferença de que o crente vai de uma denominação a outra, enquanto não se conhece quem troque de time com a mesma facilidade. Aliás, diz-se que o torcedor pode trocar de religião, de cônjuge e até de sexo, mas nunca trocará de time.
Assim como a maioria dos religiosos pouco se dá ao trabalho de conhecer a história de sua igreja ou estudar a fundo suas doutrinas, o torcedor (e boa parte dos jogadores também) mal conhece a história do esporte, suas regras ou seus direitos. No máximo, sabe de cor a escalação de um grande time do passado. Em geral, o torcedor fanático age como um fundamentalista religioso: ele logo esquece os erros do passado do seu time em prol das ações de sua equipe no presente, exibe sua paixão usando camisas, bonés e acessórios da equipe, seu time sempre está com a razão e, além de exigir vitórias o tempo todo, quer mais que o adversário se dê mal.
Esse último ponto é a marca do fiel torcedor (e secador): não basta ganhar do adversário. É preciso humilhá-lo, arrasá-lo, quase exterminá-lo. Digo quase, porque, no fundo, o torcedor de um time precisa do rival para que as partidas sejam épicas. É costume um time em baixa levantar-se justamente com uma vitória sobre o rival. Nesse caso, até o anoréxico 1 X 0 se torna um triunfo acachapante.
Se há religiosos que procuram acomodar equilibradamente sua cosmovisão religiosa, há aqueles que, em nome de não importa o deus ou deuses, subjugam violentamente qualquer um que não torça para a mesma fé, ou que não reze para o mesmo time. Esses costumam digladiar-se furiosamente na defesa de suas paixões clubísticas/doutrinárias, com saldo negativo para ambos os lados.
Mas será por causa dos fundamentalistas, dos criminosos eclesiásticos, dos pastores lobistas no Congresso, das ovelhas aliciadas pelo marketing religioso, por causa disso, a religião (ou o futebol) em si mesma é um erro, uma anomalia ultrapassada? Ora, não é esse um dos arrozoados de sempre do ateísmo e que hoje faz a fama de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, apóstolos do proselitismo ateísta, o qual defendem, bem, religiosamente?
E o que Kaká tem a ver com tudo isso? É que o jovem craque eleito melhor jogador do ano é religioso e futebolista, e o é de uma forma pouco celebrada pela mídia. Kaká, no futebol, não é de cair na balada, não faz declarações de auto-promoção, não troca de namorada a cada estação, não teve uma infância pobre como a maioria, não é “maloqueiro”. Tem opiniões firmes sem ser agressivo. Em suma, mais parece um jogador europeu do que um típico boleiro brasileiro. Além disso, é boa-pinta – Maradona dizia de Beckham, “como alguém pode ser craque com essa carinha?” – e disciplinado.
Como religioso, Kaká é membro de uma denominação evangélica. Ou seja, num país de maioria católica, o craque veste a camisa de outra fé. E como a mídia põe num mesmo caldeirão toda igreja evangélica, em geral apresentada como um bando de fanáticos fundamentalistas em transe que grita nas ruas e nos templos-armazéns, Kaká também é visto com desconfiança.
Nesse aspecto, Kaká também parece diferente. Em certa entrevista, revelou sem grito que seu livro preferido é a Bíblia, lendo inclusive sua passagem preferida. Casou virgem, mas não fez disso um palanque promocional. Quer ser pastor quando encerrar a carreira de jogador, mas já adiantou que deve estudar teologia para conhecer os dogmas e doutrinas. Ele não se parece com aquele típico atleta de Cristo que se envolve em confusões dentro e fora do campo ou com aquele evangélico que só tem um assunto. Como já declarou, tem consciência do quanto é difícil ser fiel hoje em relação a princípios escritos há milênios.
Assim, como Kaká faz o estilo que os cínicos apelidam de “certinho”, o jogador não tem o perfil que as páginas sociais adoram e que muitos colunistas esportivos exaltam. Exemplos podem às vezes desapontar; talvez seja melhor seguir bons valores. Mas não seria ruim se o estilo Kaká fosse mais celebrado pela mídia.
Comentários
Continue assim!
Dá uma passada lá no meu blog!
www.acaoja.com
Vou colocar o texto lá.
Abraço!