O filme Nosso Lar está sendo visto por multidões. Filmes com temática religiosa fazem milagres na bilheteria dos cinemas. Como não vi esse filme, invoco, quer dizer, convoco a pena virtual de críticos vivos e bem vivos. Como disse um escriba do site Omelete, já é difícil criticar um filme que tem fãs, imagine então os que tem devotos.
Luiz Zanin: Vê-lo [o filme Nosso Lar], em sessão de imprensa hoje de manhã, foi das experiências mais desagradáveis de um ano marcado pelos lançamentos espíritas por causa do centenário de Chico Xavier. O visual kitsch, os diálogos declamados, a falta de qualquer noção cinematográfica – tudo isso que parecia abolido do cinema brasileiro ressurge na tela como assombração.
Não vai aqui qualquer reparo à religião dos outros. Não tenho nada a ver com a crença alheia e eu, que não tenho nenhuma, respeito a todas. Essa consideração é apenas cinematográfica. Não conheço o livro, supostamente psicografado por Chico Xavier e, parece, um dos maiores sucessos da literatura espírita. Mas tenho certeza de que, como qualquer história, poderia ter sido objeto de uma adaptação cinematográfica interessante.
Inácio Araújo: o mundo de Nosso Lar é um mundo futurista que ora lembra construções de Niemeyer, ora as do [filme] Metrópolis de Fritz Lang e deixam sempre a impressão muito fortes de maquetes. Mas como estamos em outra dimensão não há mal nesse tipo de representação meio primária.
Tudo que existe é uma falação sem fim sobre como é ou deixa de ser o além, suas práticas, sua culinária, as mudanças em relação ao mundo dos vivos. Pode-se discutir tudo, inclusive a aparência dos espíritos, cujos trajes a mim, não raro, lembravam os de personagens de filmes tipo "Star Trek". Mas são arbitrariedades. Tratando-se de um mundo que ninguém conhece (a rigor), a representação é naturalmente arbitrária.
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Nota na pauta: filmes religiosos são alvo fácil de ridicularização porque são produções em que há mais preocupação com a mensagem que com a forma. Nosso Lar teve todo o apoio da Federação Espírita Brasileira, o que certamente contribui para o caráter proselitista do filme. O espiritismo segue ganhando força nas telas e na vida e parece que a crítica está interessada apenas no apelo cinematográfico.
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