Para o historiador Eric Hobsbawn, a contestação também é uma forma de patriotismo. Patriotas seriam aqueles que mostram seu amor pelo país desejando renová-lo pela reforma ou pela revolução (Nações e nacionalismos desde 1780).
Mas para a ditadura militar no Brasil, ser patriota significava ficar caladinho diante do regime opressor que não gostava de ser criticado. Era a época do lema “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”. Muitos músicos denunciavam a repressão da liberdade. Os pitbulls da Abril, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, chamam o partido do governo de Petralhas e Lula de anta com todo o afeto que se encerra. Há 40 anos, eles não diriam isso nem em pensamento. Talvez fizessem uma canção.
Em 1966, A Banda, de Chico Buarque, dividiu o primeiro prêmio no Festival de Música Popular da Record (na era pré-Edir Macedo) com Disparada, de Geraldo Vandré. Esta última dizia a que viera logo nos primeiros versos. Os generais, claro, vestiram a carapuça:
Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar/ eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar.
O recado da música não camuflava a crítica: Porque gado a gente marca / Tange, ferra, engorda e mata / Mas com gente é diferente.
Dois anos depois, Vandré seria mais explícito e o resto é história e canção: Vem, vamos embora que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora não espera acontecer.
Nas escolas, nas ruas, campos, nas construções / Somos todos soldados armados ou não.
A canção tem um verso que fala das flores vencendo os canhões. A ditadura não gostou dessa contrarrevoluçãozinha "paz e amor" e o desconforto na caserna foi publicado na revista Veja ( 9/10/1968): “Essa música é atentadora à soberania do País, um achincalhe às Forças Armadas e não deveria nem mesmo ser inscrita" [no festival de música].
O regime militar preferia (e encomendava) canções “patrióticas” parecidas com Eu te amo, meu Brasil, cantada pela dupla Dom & Ravel:
As praias do Brasil ensolaradas / O chão onde o país se elevou / A mão de Deus abençoou / Mulher que nasce aqui tem muito mais amor.
O céu do meu Brasil tem mais estrelas / O sol do meu país, mais esplendor..
O ufanismo é de uma ignorância sem tamanho: Mulher aqui tem mais amor do que na Espanha? O sol brilha mais aqui do que no Egito? Fortalecia-se o mito do Brasil que “vai pra frente”, de uma gente “guerreira”, de uma natureza abençoada. E ainda obrigavam a gente inocente cantar isso na escola. Aliás, o colégio era um criadouro de ufanistinhas.
O cantor Luiz Ayrão foi censurado porque aproveitou o 13º aniversário do golpe militar (chamado de “Revolução de 64” nos livros didáticos da época) para prestar uma “homenagem”. Teve de dizer que a música era sobre um casal em crise:
Treze anos eu te aturo e não agüento mais / Não há Cristo que suporte e eu não suporto mais / Treze anos me seguro e agora não dá mais / Se treze é minha sorte, vai, me deixa em paz
A mão de ferro da censura mandava alterar letras, suprimir partes, recolher discos e proibir a execução de certas músicas nas rádios. O compositor vivia de metáfora. Ou então não sobrevivia.
Canções de protesto podem contribuir para a politização, mas não mudam o mundo nem revolucionam o sistema político-econômico de um país. Mas parece que os governantes não pensam assim. E tremem de ódio e medo de uma canção.
O homem brandindo o violão na foto é o cantor Sérgio Ricardo nos anos 60.
Comentários
Texto bacana. Joezer.
o que eu escrevi é que o regime militar preferia (e encomendava) canções "patrióticas" como, do tipo, semelhantes aquela cantada pela dupla Dom e Ravel. Eu não quis dizer que a ditadura encomendava canções para a dupla.
Até porque outros cantores (como Benjor, Zé Kéti, Waldick Soriano) tinham canções que falavam ufanisticamente do Brasil, que de fato, vivia um período de euforia com o tricampeonato mundial de futebol e o "milagre" econômico do início dos anos 70.
calma, meu caro, não se irrite.
Sobre seu artigo "Dilma Rousseff e o time que está ganhando" publicado no Outra Leitura:
Experiência política? FHC é um estadista; Dilma (a.k.a. companheira Estella, Wanda, Marina ou Patrícia) é um botocado fantoche parido e manietado pelo Depredador-mor de Instituições e Caudatário/Usurpador do que não conseguira sabotar quando na oposição (Real, PROER, Lei de Responsabilidade Fiscal, privatizações etc).
Ministra-chefe da Casa-Civil? Em bom português: fábrica de dossiês (ou “banco de dados”, não é, dona Erenice Guerra????) Ministra das Minas e Energias? Nenhum bico-de-gás construído em sua gestão, mas 1 bilhão de reais tungados do bolso do consumidor de baixa renda de energia elétrica por leniência da... “ministra”. Ademais, sinecura pública concedida pelo PT é nódoa indelével até para reputações como as de Marcolas (preso), Bin Ladens (caçado) e Malufs (cassado – ou quase). Já Sérgio Sombra (Celso-Daniel-torturado-e-morto), Celso Amorim (oba-oba-oba!!-mais-um-genocídio-no-Sudão/Holocausto?-que-Holocausto?) e José Genuíno (cuecas-como-casa-de-câmbio) agradecem.
Dilma (a.k.a. companheira Estella, Wanda, Marina ou Patrícia) terá vitória arrasadora agora no primeiro turno? Em 1960, Henrique Teixeira Lott (aquele que desmontou o golpe militar de 1955 e possibilitou posse a JK) perdeu feio nas urnas para um dipsomaníaco histriônico e desequilibrado (o mesmo que em 1962 condecorou um psicopata argentino com a nossa mais nobre comenda) que viria a atirar o país na pior crise dos nossos 121 anos de república (abril de 1984 – velocista que fui, consegui escapulir de apanhar dos milicos, você não?).
Por falar em anos de chumbo, aaah... a doce e meiga companheira Estella (a.k.a. Wanda, Marina ou Patrícia) com seus engenhosos e bem sucedidos planos de latrocínio... (Ela jura que não! Sei...) Terrorista tem sentimentos, tem valores? Sim, os sentimentos e valores da novilíngua das esquerdas. Vide os humanistas e poetas irmãos Castros - modelos, financiadores e patronos da turma de Dilma (a.k.a. companheira Estella etc etc etc).
Ah, sim, esquecia-me: o carnê de 25 folhas das Casas Bahia, o bolsa-voto, o bolsa-diploma-de-armarinho, o bolsa-pílula-abortiva, o bolsa-invasão, o bolsa-camisinha, o bolsa-cabresto, o quieta-curral... Tá. Mas, afinal, é mesmo “a economia, estúpido?” (James Carville - 1992) Não perguntem a mim, mas a Esav, o primogênito do guisado de lentilhas. E também ao povo alemão que aclamou Adolf nos anos 30. Ou, se calhar, a Yudah d´Cariot, aquele que, por momentâneas 30 moedas, alcançou notoriedade servindo, até hoje, como modelo de boneco de malhação nos sábados de aleluia.
:-D
li e reli tuas bem-traçadas. eu não tenho medo da Dilma. Não caio na tentação de demonizar o adversário. ainda mais que a esquerda adora essa climinha aterrorizante para fazer seu principal papel: o de vítima de uma orquestração máfio-midiática.
fora que ainda vão ressuscitar o chavão "a esperança venceu o medo".
mas o certo é que o eleitor está votando com a mão no bolso.
FHC se gabava de que no seu tempo, o povo estava comendo iogurte e frango. mas como a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...
qualquer direitista bem-intencionado reconhece que o país está melhor. claro que o sábio guru aproveita pra se tomar como o marco zero das reformas sociais. coisa que é, mas em parte e não sozinho.
o que o eleitor parece notar é que não existe virgem no Congresso. o PT posava de última virgem do planeta, mas nivelando todos os partidos por baixo (do pano), o eleitor olha pra carteira e diz: o importante é que estou comprando coisas que só o bairro nobre comprava. então, não mexe no time que está ganhando economicamente, embora afundando moralmente.
estatísticas dizem que os mais ricos cresceram em uma taxa inferior à taxa de crescimento de camadas mais pobres.
se a gente elegante que mora no Batel de Curitiba ou nos Jardins em São Paulo, tivessem crescido no mesmo ritmo dos pobres, pode crer que aquela gente estava chamando Dilma de "minha mãe!"
infelizmente, o grosso dos eleitores só quer mesmo é dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender. consciência moral? eles fazem como o governo e o Jarbas Passarinho: mandam às favas.
abraço
PS: desculpe o transtorno logo na sua primeira visita a essa caixinha de comentadores (acho que é sua primeira, senão teria reconhecido pelo estilo). deletei as repetições indesejadas pra não cansar a vista e alterei o modo de postar comentários. algum vírus estava rodando o blog e inseri agora um aborrecido sistema anti-spam.
Para aqueles que estão cegos pela prepotência e incapacitade de ver de julgar os fatos e pela satisfação das das necessidades primárias posso dizer que para quem come bolo e torta , o pão "nosso" decada dia é superflúo.
abraços
zhenny rainha