"Muitas composições modernas são muito bonitas e chamativas no papel, mas pobres cantores! Colocam alterações onde querem, [...] Os atuais compositores só nos trazem mais confusão e grandes imperfeições, não de pouca importância, em vez de enriquecer, aumentar e enobrecer a música com recursos variados como fizeram tantos outros, querem transformar a música de modo que o belo não se distinguirá do bárbaro".
Quem disse isso foi o italiano Giovanni Artusi, compositor e pesquisador musical. Você concorda com ele, certo? Você está pensando na decadência da música brasileira, no declínio da música sacra, em como as pessoas hoje estão colocando o feio no lugar do belo, etc?
O detalhe é que Giovanni Maria Artusi viveu de 1540 a 1613. Ele se envolveu numa discussão quando seu professor Zarlino, defensor do estilo tradicional, foi criticado por Vicenzo Galilei, teórico musical e pai de Galileu.
Artusi criticou as inovações do compositor Claudio Monteverdi, considerado há bastante tempo uma figura central na história da música. Monteverdi respondeu publicando um livro de madrigais em 1605 em que dizia haver duas práticas musicais: a prima pratica, a prática antiga de usar a polifonia e entretecer vozes utilizando o processo do contraponto, o que dava independência a cada voz; e a seconda pratica, a prática moderna de músicas acompanhadas por instrumento que também dava maior importância ao soprano.
Artusi foi mais um a tentar deter a marcha do desenvolvimento da música. Ele chamava de bárbaro (no velho sentido de "mal-feito") o que muitos ouvidos da época já chamavam de belo. Não estou dizendo que a forma de fazer música do passado é ruim e tudo o que é novo é bom pela própria natureza. O quero dizer é que quando o apego à tradição é exagerado, vira reacionarismo cego.
Nota: Artusi, que nem pode se defender dos web-escribas, é o homem da figura acima.
O título desta postagem é uma referência ao título de um antigo livro retratado na figura mais acima ("Delle imperfezioni della moderna musica").
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