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Mostrando postagens de dezembro, 2011

as músicas de 2011

Alguns dos álbuns que ouvi esse ano, e que considero importantes e bons, eu já gostei na primeira audição, como, entre outros, os trabalhos de Fernando Iglesias, Daniel Lüdtke e Athus (este, por se tratar de músicas já consagradas e ainda com aquelas pequenas joias musicais infantis). E alguns precisaram de mais audições. Faltou escutar outras músicas e cantores, mas aí está minha lista do que consegui ouvir quando meus filhos deixam eu mudar de cd em casa ou no carro: Um CD que celebra o encontro entre a musicalidade popular e a sofisticação orquestral: Peças de Francis Hime e Nelson Ayres , gravadas pela OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) Dois gigantes da música instrumental brasileira na interpretação de dois grandes músicos: GismontiPascoal – A música de Egberto e Hermeto , de André Mehmari e Hamilton de Hollanda Um CD com obras de um gênio do Romantismo interpretadas por um gênio do recato do sentimento: Chopin – The Nocturnes , de Nelson Freire ...

os filmes de 2011

Mais lentos e reflexivos, mais ágeis e divertidos, mais recentes, mais antigos, que comovem com sinceridade, que fazem sorrir sem vulgaridade: esses são os melhores filmes que assisti em 2011.  Meia Noite em Paris , de Woody Allen – Uma fábula sobre o tempo, sobre o modo como idealizamos o passado, sobre o consumismo alienante contra a contemplação da beleza da arte e da vida. E ainda é romântico e engraçado onde as novas comédias americanas só são vulgares. O Palhaço , de Selton Mello – Que palhaços escondem sua melancolia todos sabemos. Que essa melancolia vá aos poucos dando lugar à ternura, ao amor entre pai e filho, à reconciliação consigo mesmo, tudo isso sem perder a piada (e sem deixar de ser “censura livre”) é uma proeza. Homens e Deuses , de Xavier Beauvois – A história dos monges ameaçados por terroristas islâmicos na Argélia não é contada como um filme de ação, mas de reflexão. Apesar da morte anunciada, aqueles homens não perdem a fé em Deus, buscam a f...

os livros de 2011

Tem hora que meus estudos exigem tanta bibliografia, que já não sei se estou lendo para estudar ou se estou estudando para ler. Na hora de peneirar o trigo e o joio, separei abaixo dez livros lidos em 2011: Um livro de fácil leitura de um biofísico e teólogo que desmonta um a um os argumentos de outro livro (Deus, um delírio) : O delírio de Dawkins , de Alister McGrath. Um livro de um ateu que mostra como os bestsellers ateístas promovem uma caricatura da realidade religiosa e como a ciência e a religião têm traído seus ideais: O debate sobre Deus: razão, fé e revolução , de Terry Eagleton. Um livro que abandona a história da música contada em linha reta e une estética e politicamente blues e Bach, ópera e Bob Dylan, John Cage e Kurt Cobain: Escuta Só: do clássico ao pop , de Alex Ross  Um livro que descortina uma percepção sábia da música e nos apresenta uma ideia rica e inclusiva da prática musical: A Música Desperta o Tempo , de Daniel Barenboim Um livr...

Charlie Brown e o verdadeiro sentido do natal

Em 1965, foi ao ar um dos programas especiais mais amados de todos os natais televisivos, " A Charlie Brown Christmas " (O Natal do Charlie Brown). O produtor do especial, Lee Mendelson, conta que Charles Schulz, o criador dos Peanuts (a turma do Charlie Brown), insistiu que o programa deveria ser sobre o verdadeiro significado do Natal. De outro modo, "por que se importar em fazer um especial de Natal", Schulz teria dito a Mendelson. Quando os produtores lhe perguntaram se ele realmente queria incluir um texto bíblico na animação de Natal, Schulz respondeu: "Se nós não fizermos, quem fará?"  E assim ficou a marcante cena em que Charlie Brown pergunta se alguém pode lhe explicar qual o verdadeiro sentido do Natal e Linus responde entrando num palco e recitando com inocência cativante a passagem de Lucas 2:8-14. Lee Mendelson considera que esses são "os dois minutos mais encantadores da história da animação na TV". Ao escrever sobre os P...

quando a esmola da Globo é demais, o crente desconfia

A música gospel se tornou a espinha dorsal de uma indústria cujos altos cifrões de vendagem e baixos números de pirataria chamaram a atenção da indústria musical secular.  O potencial consumidor do mercado musical evangélico chamou a atenção da Rede Globo, a partir do seu braço musical, a Som Livre. O resultado foi a produção e exibição do Festival Promessas , que contou com os nomes mais conhecidos do gospel nacional. Então, as desavenças históricas entre a Globo e os evangélicos (leia-se “entre Globo e Edir Macedo”, leia-se, Globo e Record) são coisa do passado? Não se engane. Nessa diplomacia religiosa há muito de disputa comercial. As TVs vivem de audiência e nada mais natural que a Globo veja os evangélicos não como um campo missionário, mas como seara pronta para a ceifa de lucros e dividendos. E o que faz o cristão quando se vê como um componente do jogo de mercado? Dá as costas e vai procurar sua turma? Dá uma lição nas víboras capitalistas e vai vender gele...

eu odeio música clássica

"Eu odeio música clássica: não a coisa, mas o nome. Há pelo menos um século, a música tem sido escrava de um culto elitista medíocre que tenta fabricar autoestima agarrando-se a fórmulas vazias de superioridade intelectual. Pensem nos outros nomes que lhe dão: música "erudita", música "séria", "grande" música, "boa" música.  "Os compositores foram traídos por uma gente bem-intencionada que acredita que a música deveria ser comercializada como um bem de luxo, que substitui um produto popular inferior. Esses guardiões dizem: "A música que você adora é lixo. Em vez disso, ouça nossa grande música erudita". Mas a música é um meio pessoal demais para sustentar uma hierarquia absoluta de valores. "Ao ouvir a palavra "clássica", muita gente só pensa em "morta". A música é descrita em termos de sua distância do presente, sua diferença da massa". Esse foi um resumo canhestro das primeiras du...

perdoa-me por não consumir

Logo após a II Guerra Mundial, o mundo estava falido, faminto e sem crédito. Mesmo o vigoroso parque industrial dos Estados Unidos via seu futuro ameaçado. Quem compraria os produtos fabricados pelos EUA? E onde os milhares de soldados que voltavam pra casa iriam trabalhar? A solução veio de Victor Lebow, um consultor norte-americano especializado em varejo. A saída era a aceleração do ciclo de produção e consumo: “Nossa economia enormemente produtiva requer que façamos do consumo o nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de mercadorias em rituais, que busquemos a nossa satisfação espiritual ou do nosso ego no consumo. Nós precisamos de coisas consumidas, destruídas, gastas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente” (Carta Capital, ed. 675) . E assim se fez. Houve tardes e manhãs e substituiu-se a “economia de abastecimento” pela “economia de consumo”. E o parque industrial “curtiu” muito tudo isso. A média de durabilidade de 99% dos pro...

a ética de Sócrates e o calcanhar de Aquiles

Sócrates, o filósofo grego, morreu envenenado por uma bebida feita de cicuta. Sócrates, o genial jogador, faleceu envenenado pela bebida alcoólica. Nessa óbvia e trágica conexão greco-tupiniquim, o nosso Sócrates, rei do calcanhar no futebol, tinha também seu calcanhar de Aquiles. Como ele mesmo viria a admitir nos últimos meses, ele abusou do álcool e seu corpo começou a cobrar essa dívida que, em geral, se paga com a vida. É claro que nenhuma cervejaria convidou Sócrates para protagonizar seus comerciais. Até porque em propaganda de bebida alcoólica só tem povo sarado e “guerreiro”. E Sócrates não era um guerreiro de futilidades: assim como lutou pela participação dos jogadores nas decisões importantes do clube (criou a chamada Democracia Corintiana), ele lutou também pela participação popular no processo democrático brasileiro. As Diretas Já não vieram a tempo, em 1985, mas foi só uma questão de tempo. Assim como Antonio Carlos Brasileiro Jobim, Sócrates também tinha o ...