Há algum tempo me contaram uma história sobre um homem dos tempos do Velho Testamento que era tido como fiel e temente ao Deus Jeová. Certo dia, esse homem recebeu em sua tenda um viajante cansado e idoso, como são descritos alguns homens do Livro do Gênesis. Mas, como um desses homens do Gênesis, o viajor era também um homem de fibra e vigor, o que ficou claramente demonstrado quando, numa conversa com o anfitrião, contestou a existência de Deus, o Deus ao qual o senhor da tenda era leal. Irritado com a recusa daquele ancião em acreditar no Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o anfitrião, também um homem de fibra, demonstrou claramente o seu vigor expulsando o hóspede de sua tenda e rogando-lhe uma dezena de pragas.
À noite, Deus veio em sonho até o homem que acreditava nEle e lhe disse: "Meu filho, você julgou e condenou aquele ancião em uma noite. Durante 80 anos aquele homem tem Me negado, Me vilipendiado com seus atos e palavras, mas Eu não tirei o seu direito à vida."
Após assistir o filme Todo-Poderoso, essa história me veio à mente. Durante 100 anos, os cineastas têm criado as mais diversas imagens do Deus dos cristãos, e Hollywood, por enquanto, segue intacta. O conceito que o cinema faz de Deus assume todas as formas e os mais variados propósitos. Ora evangelístico em Rei dos Reis e A Maior História de Todos os Tempos, ora kitsch em Os 10 Mandamentos, irônico em O Céu Pode Esperar, emocionalista em A Paixão de Cristo. Ou ainda ser atacado como o próprio anticristo, como foi o caso de A Última Tentação de Cristo (embora eu creia que anticristo e anticinema tenha sido Alanis Morrissette como Jeová em Dogma).
Todo-Poderoso assume um conteúdo inédito até então: Deus fazendo compreender Sua onisciência e divina providência através do arrependimento de um pecador. No caso, o pecador contumaz é vivido por Jim Carrey, um comediante segundo o coração de Hollywood, ora transgredindo em Debi e Lóide ora redimindo-se em O Show de Truman.
Roteiristas não são os melhores estudantes da Bíblia, e isso transparece no incômodo tom de paródia do início do filme. Mas essa impressão vai se desfazendo ao longo da história, seja porque os personagens abrem o coração em sinceras orações e não por meio de rezas e vãs repetições, seja porque há reconhecimento dos erros, arrependimento e mudança de atitude do personagem principal, seja porque grandes verdades podem ser reveladas também em certas alegorias cinematográficas.
O filme toca numa tentação recorrente na história do homem: a pretensão humana de achar que faria tudo melhor do que Deus. Assim, ele distribuiria em doses fartas e eqüitativas a riqueza e a saúde, pondo um fim à fome e à violência. Como se os problemas da humanidade fossem apenas de ordem econômica, esquecendo-se da falência moral dos habitantes desse planeta. No conto O santo que não acreditava em Deus, há uma frase desconcertante que diz que o ser humano sempre acha que ser Deus é fácil, “mas não acerta fazer nem uma tabela de campeonato”. E assim segue a velha toada humana: largamos tudo por conta de Deus, e O culpamos por não resolver as coisas ao nosso modo, ou tomamos Seu lugar e tentamos criar um mundo a nossa imagem e semelhança.
Quando o personagem de Jim Carrey se desespera e diz que não tem poder para solucionar os problemas, ele ouve de Deus (na voz de Morgan Freeman): “Sim, você tem poder”. A frase é dita sem afetação, sem o vozeirão tonitruante de Cid Moreira, mas com um afeto e um olhar que transmitem segurança. Quanta miséria e dor poderiam ser evitadas se as pessoas tomassem consciência de que têm nas mãos oportunidades diárias de mudar a sociedade, começando a mudança por si mesmas. Há muita gente que acredita que não tem capacidade de resolver problemas e se afunda na auto-comiseração ou no desperdício. Quando pararmos de amesquinhar nosso tempo, nosso talento e nosso tesouro e aliarmos a capacidade humana ao poder divino, veremos o quanto podemos fazer nAquele nos fortalece.
Por fim, fico com a imagem de Morgan Freeman em Todo-Poderoso: nunca o cinema conseguiu reunir em uma mesma pessoa a sabedoria clara, a soberania humilde, a simplicidade nobre, a bondade sem condescendência. É uma imagem de Deus que eu também tenho comigo.
À noite, Deus veio em sonho até o homem que acreditava nEle e lhe disse: "Meu filho, você julgou e condenou aquele ancião em uma noite. Durante 80 anos aquele homem tem Me negado, Me vilipendiado com seus atos e palavras, mas Eu não tirei o seu direito à vida."
Após assistir o filme Todo-Poderoso, essa história me veio à mente. Durante 100 anos, os cineastas têm criado as mais diversas imagens do Deus dos cristãos, e Hollywood, por enquanto, segue intacta. O conceito que o cinema faz de Deus assume todas as formas e os mais variados propósitos. Ora evangelístico em Rei dos Reis e A Maior História de Todos os Tempos, ora kitsch em Os 10 Mandamentos, irônico em O Céu Pode Esperar, emocionalista em A Paixão de Cristo. Ou ainda ser atacado como o próprio anticristo, como foi o caso de A Última Tentação de Cristo (embora eu creia que anticristo e anticinema tenha sido Alanis Morrissette como Jeová em Dogma).
Todo-Poderoso assume um conteúdo inédito até então: Deus fazendo compreender Sua onisciência e divina providência através do arrependimento de um pecador. No caso, o pecador contumaz é vivido por Jim Carrey, um comediante segundo o coração de Hollywood, ora transgredindo em Debi e Lóide ora redimindo-se em O Show de Truman.
Roteiristas não são os melhores estudantes da Bíblia, e isso transparece no incômodo tom de paródia do início do filme. Mas essa impressão vai se desfazendo ao longo da história, seja porque os personagens abrem o coração em sinceras orações e não por meio de rezas e vãs repetições, seja porque há reconhecimento dos erros, arrependimento e mudança de atitude do personagem principal, seja porque grandes verdades podem ser reveladas também em certas alegorias cinematográficas.
O filme toca numa tentação recorrente na história do homem: a pretensão humana de achar que faria tudo melhor do que Deus. Assim, ele distribuiria em doses fartas e eqüitativas a riqueza e a saúde, pondo um fim à fome e à violência. Como se os problemas da humanidade fossem apenas de ordem econômica, esquecendo-se da falência moral dos habitantes desse planeta. No conto O santo que não acreditava em Deus, há uma frase desconcertante que diz que o ser humano sempre acha que ser Deus é fácil, “mas não acerta fazer nem uma tabela de campeonato”. E assim segue a velha toada humana: largamos tudo por conta de Deus, e O culpamos por não resolver as coisas ao nosso modo, ou tomamos Seu lugar e tentamos criar um mundo a nossa imagem e semelhança.
Quando o personagem de Jim Carrey se desespera e diz que não tem poder para solucionar os problemas, ele ouve de Deus (na voz de Morgan Freeman): “Sim, você tem poder”. A frase é dita sem afetação, sem o vozeirão tonitruante de Cid Moreira, mas com um afeto e um olhar que transmitem segurança. Quanta miséria e dor poderiam ser evitadas se as pessoas tomassem consciência de que têm nas mãos oportunidades diárias de mudar a sociedade, começando a mudança por si mesmas. Há muita gente que acredita que não tem capacidade de resolver problemas e se afunda na auto-comiseração ou no desperdício. Quando pararmos de amesquinhar nosso tempo, nosso talento e nosso tesouro e aliarmos a capacidade humana ao poder divino, veremos o quanto podemos fazer nAquele nos fortalece.
Por fim, fico com a imagem de Morgan Freeman em Todo-Poderoso: nunca o cinema conseguiu reunir em uma mesma pessoa a sabedoria clara, a soberania humilde, a simplicidade nobre, a bondade sem condescendência. É uma imagem de Deus que eu também tenho comigo.
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