A foto acima é o clichê paisagístico do turismo brasileiro. E é muito provável que a função de mirante, e não a engenhosidade da construção, também tenha contribuído para a eleição da estátua do Cristo Redentor como uma das 7 novas maravilhas do mundo.
A rigidez da estátua, que reune no mesmo ato de abrir os braços tanto a benção como o sacrifício , é levemente disfarçada pelo drapeado da vestimenta, mas ainda assim, há demasiada fixidez no monumento. Vista como nessa foto, ganha em significado mas perde em beleza própria, tornando-se pequena em meio a grandiosidade do relevo natural. Na verdade, algumas canções acabaram fixando o imaginário de beleza da construção no mundo todo, principalmente o Tom Jobim de Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara ou Da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo (esta, com letra de Newton Mendonça).
Li a notícia sobre a tal "farsa das 7 maravilhas". Tudo bem que se pode desconfiar, às vezes até paranoicamente, de tudo. Mas não lhe parece um tanto estranho que a tal farsa tenha sido "descoberta" por espanhóis, franceses, gregos e alemães. Todos estes, de países que ficaram de fora da lista final das 7 maravilhas.
Ora, qualquer lista que se preze de forma alguma pode ser fidedigna. Qualquer lista representa uma opinião que nunca representará a maioria, por estranho que isso pareça. Há interesses de instituições e pessoas por trás, é claro, mas isso é o que faz uma lista ser o que é - é só lembrar da convocação oficial que apelava ao coração carioca-patriota que bate no peito desafinado do brasileiro que não desiste nunca.
E se a torre Eiffel e o castelo espanhol, as colunas gregas e o castelo alemão, todos tivessem ficado entre as 7 maravilhas eleitas? Ainda haveria denúncia de farsa, de histeria coletiva nacionalista?
A despeito da legitimidade ou não da tal lista - e podemos lembrar que a lista das 7 maravilhas do mundo antigo também é só uma lista, - o queixume das partes reclamantes deixa transparecer o velho eurocentrismo de guerra (o que no velho mundo quer dizer guerra mesmo).
Assim como eurocêntrica é a soberba alemã noticiada em jornal: "se o castelo Neuschwanstein fosse eleito, o gosto mundial estaria mais refinado". Ou seja, se mais monumentos ao "bom gosto" europeu fossem eleitos, e não essas "heresias arquitetônicas" como as ruínas de Petra, Macchu Picchu ou pirâmides maias (Valei-nos, São Cristóvão Colombo!), isso seria uma prova de que "The Civilization" e "Der Kultur" teriam prevalecido sobre a evidente ausência de pendores artísticos destes povos não-crismados. Assim, a colonização, a aculturação e o morticínio finalmente teriam valido a pena, e o arianismo contra asiáticos e latinos (pra eles somos todos chinas e cucarachas), teria vencido mais uma vez.
A rigidez da estátua, que reune no mesmo ato de abrir os braços tanto a benção como o sacrifício , é levemente disfarçada pelo drapeado da vestimenta, mas ainda assim, há demasiada fixidez no monumento. Vista como nessa foto, ganha em significado mas perde em beleza própria, tornando-se pequena em meio a grandiosidade do relevo natural. Na verdade, algumas canções acabaram fixando o imaginário de beleza da construção no mundo todo, principalmente o Tom Jobim de Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara ou Da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo (esta, com letra de Newton Mendonça).
Li a notícia sobre a tal "farsa das 7 maravilhas". Tudo bem que se pode desconfiar, às vezes até paranoicamente, de tudo. Mas não lhe parece um tanto estranho que a tal farsa tenha sido "descoberta" por espanhóis, franceses, gregos e alemães. Todos estes, de países que ficaram de fora da lista final das 7 maravilhas.
Ora, qualquer lista que se preze de forma alguma pode ser fidedigna. Qualquer lista representa uma opinião que nunca representará a maioria, por estranho que isso pareça. Há interesses de instituições e pessoas por trás, é claro, mas isso é o que faz uma lista ser o que é - é só lembrar da convocação oficial que apelava ao coração carioca-patriota que bate no peito desafinado do brasileiro que não desiste nunca.
E se a torre Eiffel e o castelo espanhol, as colunas gregas e o castelo alemão, todos tivessem ficado entre as 7 maravilhas eleitas? Ainda haveria denúncia de farsa, de histeria coletiva nacionalista?
A despeito da legitimidade ou não da tal lista - e podemos lembrar que a lista das 7 maravilhas do mundo antigo também é só uma lista, - o queixume das partes reclamantes deixa transparecer o velho eurocentrismo de guerra (o que no velho mundo quer dizer guerra mesmo).
Assim como eurocêntrica é a soberba alemã noticiada em jornal: "se o castelo Neuschwanstein fosse eleito, o gosto mundial estaria mais refinado". Ou seja, se mais monumentos ao "bom gosto" europeu fossem eleitos, e não essas "heresias arquitetônicas" como as ruínas de Petra, Macchu Picchu ou pirâmides maias (Valei-nos, São Cristóvão Colombo!), isso seria uma prova de que "The Civilization" e "Der Kultur" teriam prevalecido sobre a evidente ausência de pendores artísticos destes povos não-crismados. Assim, a colonização, a aculturação e o morticínio finalmente teriam valido a pena, e o arianismo contra asiáticos e latinos (pra eles somos todos chinas e cucarachas), teria vencido mais uma vez.
Não votei, mas minha lista seria diferente também. Mas, convenhamos, esse choro europeu só revela que, se a lista é uma farsa virtual, a dor-de-cotovelo é muito real.
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