Certo indivíduo trabalha 8 horas por dia, gasta mais duas (ou três, depende da velocidade e da distância) no deslocamento casa-trabalho-casa, faz suas refeições, abluções e higiene pessoal. Claro que no trabalho sempre sobram cinco minutinhos para passar 3 horas pendurado no MSN, mas isso já é caso para o RH de sua empresa.
O que interessa é que durante o dia ele já escutou muita música, principalmente o último refrão axé-forró-funk da moda. Em casos passíveis de cura, essa escuta foi involuntária, já que seu espaço sonoro foi invadido por seres humanóides de voz eletronificada, cabelos tingidos e uniformes de paquita – se você não notou qualquer semelhança com Joelma do Calypso e congêneres, então você já foi abduzido.
Se ainda não foi vítima dos invasores de ouvidos, você pode reconhecer alguns sinais desses alienígenas. Por exemplo, eles se comunicam muito por vogais, tipo “aê, aê, aê”, “eô, eô” e costumam obedecer cegamente a uma voz de comando mil vezes repetida em suas assembléias: “tira o pé do chão!”. Faltaram as vogais: “tira o pé do chão aí!!!”. Se você sentiu um comichão nas pernas e uma súbita vontade de gritar “Ivete, eu te amo”, então pode esquecer, já era, Deus o tenha.
Se alguém reclamar que essa música é só pra se divertir, então peça pra ele se divertir em volume mais baixo. Aliás, peça com carinho. Pensando bem, melhor não pedir nada. Os abduzidos pelos invasores de ouvidos demonstram reações adversas quando são contrariados e têm o péssimo hábito de amplificar ainda mais o som que sai das profundezas (ou fossas) do porta-malas. Se for arriscar uma queixa, verifique antes se o veículo dele possui a inscrição “Fui!”, e/ou “Sou chicleteiro” ou dizeres afins. Em caso de sim, é provável que os escutadores estejam apreciando uma marca de cerveja sem nenhuma moderação e você estará sujeito ao ridículo do risco de morte causada por uma ridícula discussão por causa de uma ridícula música.
Poderia ser pior. Você poderia ter passado o carnaval em Salvador, lugar em que todas as músicas do mundo foram cantadas em ritmo de axé; em alguma capital nordestina, onde até a junk-music da Jovem Pan vira forró eletrônico dos Aviões, Cavaleiros e qualquer outro substantivo acompanhado do termo “do forró” (procure não saber como é a versão daquele hit dos anos 80, “Forever young”); em Belém, onde tudo que os Midas das aparelhagens gigantes tocam vira tecnobrega (só a Regina Casé recomendaria a versão de “Crazy”, do Gnarls Barkley); ou no Rio, lugar onde quem não gosta de funk nem de samba-enredo, bom sujeito não é.
Você já está pensando que esse é o pior dos mundos, eu sei. Mas tem ainda o resto do ano para a cornidão sertaneja, que assim como o axé, parece feito de isopor e, portanto, não é biodegradável e vai durar mais que o Fidel. Como tudo o que está ruim sempre pode ficar pior, tem o pagode do Armandinho em ritmo de reggae - Deus pode ter desenhado a namorada dele, mas só o cão pra misturar pagode com reggae, mastruz com leite e chiclete com banana.
Não adianta dizer que prefere rock. Metade da turma que me fala isso é fã de bandas com nome de marca de celular (NXZero, CPM-22) ou de engodos como Cachorro Grande (a canção “Você me faz acreditar” é um dos objetos sonoros mais infames dos últimos milênios. Parece com rock gospel ou é o rock gospel que parece com ela?). Mas essa é a prova cabal de que a MTV também foi abduzida. Se bem que, tirando a Marina Person e a turma do Rockgol, já dava pra desconfiar. Ou você achava que Cicarelli, Penélope e Marcos Mion eram terráqueos?
Mas vai ver que os invasores de ouvidos é que são da Terra e, pra ficar nos vivos, Chico, Roberta Sá, Paulinho da Viola, Mehmari, Yamandú, Calcanhoto, Zizi, Ivan Lins, Nelson Freire, Teresa Cristina, Paulo Moura, Baleiro e Francis Hime é que são os alienígenas. Caetano e Tom Zé só podem ser resultado do único cruzamento interplanetário que deu certo.
Por fim, enquanto os antropólogos decidem se ainda existe noção de bom e ruim (alguns deles defendem que toda cultura é intrinsecamente boa), eles, que costumam estudar essa turma, podiam pedir pra que se pelo menos baixasse o volume do som.
O que interessa é que durante o dia ele já escutou muita música, principalmente o último refrão axé-forró-funk da moda. Em casos passíveis de cura, essa escuta foi involuntária, já que seu espaço sonoro foi invadido por seres humanóides de voz eletronificada, cabelos tingidos e uniformes de paquita – se você não notou qualquer semelhança com Joelma do Calypso e congêneres, então você já foi abduzido.
Se ainda não foi vítima dos invasores de ouvidos, você pode reconhecer alguns sinais desses alienígenas. Por exemplo, eles se comunicam muito por vogais, tipo “aê, aê, aê”, “eô, eô” e costumam obedecer cegamente a uma voz de comando mil vezes repetida em suas assembléias: “tira o pé do chão!”. Faltaram as vogais: “tira o pé do chão aí!!!”. Se você sentiu um comichão nas pernas e uma súbita vontade de gritar “Ivete, eu te amo”, então pode esquecer, já era, Deus o tenha.
Se alguém reclamar que essa música é só pra se divertir, então peça pra ele se divertir em volume mais baixo. Aliás, peça com carinho. Pensando bem, melhor não pedir nada. Os abduzidos pelos invasores de ouvidos demonstram reações adversas quando são contrariados e têm o péssimo hábito de amplificar ainda mais o som que sai das profundezas (ou fossas) do porta-malas. Se for arriscar uma queixa, verifique antes se o veículo dele possui a inscrição “Fui!”, e/ou “Sou chicleteiro” ou dizeres afins. Em caso de sim, é provável que os escutadores estejam apreciando uma marca de cerveja sem nenhuma moderação e você estará sujeito ao ridículo do risco de morte causada por uma ridícula discussão por causa de uma ridícula música.
Poderia ser pior. Você poderia ter passado o carnaval em Salvador, lugar em que todas as músicas do mundo foram cantadas em ritmo de axé; em alguma capital nordestina, onde até a junk-music da Jovem Pan vira forró eletrônico dos Aviões, Cavaleiros e qualquer outro substantivo acompanhado do termo “do forró” (procure não saber como é a versão daquele hit dos anos 80, “Forever young”); em Belém, onde tudo que os Midas das aparelhagens gigantes tocam vira tecnobrega (só a Regina Casé recomendaria a versão de “Crazy”, do Gnarls Barkley); ou no Rio, lugar onde quem não gosta de funk nem de samba-enredo, bom sujeito não é.
Você já está pensando que esse é o pior dos mundos, eu sei. Mas tem ainda o resto do ano para a cornidão sertaneja, que assim como o axé, parece feito de isopor e, portanto, não é biodegradável e vai durar mais que o Fidel. Como tudo o que está ruim sempre pode ficar pior, tem o pagode do Armandinho em ritmo de reggae - Deus pode ter desenhado a namorada dele, mas só o cão pra misturar pagode com reggae, mastruz com leite e chiclete com banana.
Não adianta dizer que prefere rock. Metade da turma que me fala isso é fã de bandas com nome de marca de celular (NXZero, CPM-22) ou de engodos como Cachorro Grande (a canção “Você me faz acreditar” é um dos objetos sonoros mais infames dos últimos milênios. Parece com rock gospel ou é o rock gospel que parece com ela?). Mas essa é a prova cabal de que a MTV também foi abduzida. Se bem que, tirando a Marina Person e a turma do Rockgol, já dava pra desconfiar. Ou você achava que Cicarelli, Penélope e Marcos Mion eram terráqueos?
Mas vai ver que os invasores de ouvidos é que são da Terra e, pra ficar nos vivos, Chico, Roberta Sá, Paulinho da Viola, Mehmari, Yamandú, Calcanhoto, Zizi, Ivan Lins, Nelson Freire, Teresa Cristina, Paulo Moura, Baleiro e Francis Hime é que são os alienígenas. Caetano e Tom Zé só podem ser resultado do único cruzamento interplanetário que deu certo.
Por fim, enquanto os antropólogos decidem se ainda existe noção de bom e ruim (alguns deles defendem que toda cultura é intrinsecamente boa), eles, que costumam estudar essa turma, podiam pedir pra que se pelo menos baixasse o volume do som.
Comentários
aqui dentro? Cachorro Grande, babado Novo e Calypso. Não é preconceito, lhe garanto. Mas a coisa tá simplesmente muito ruim, decadente e simplória.
abraços, meu velho