Pular para o conteúdo principal

Música na escola

A votação do projeto de lei 2732/2008 que trata da educação musical na escola foi adiada para o dia 28 de maio, no plenário 10 na Comissão de Educação e Cultura da Câmara.
Apesar do apoio que o projeto tem recebido de vários setores da sociedade, a população não parece bem informada das propostas do projeto que traz a educação musical de volta para a sala de aula. Há pessoas que desconhecem o caráter do projeto em pauta e acabam desvalorizando ou superestimando essa iniciativa pedagógico-musical.

Os que superestimam crêem que a musicalização dos estudantes brasileiros resolverá problemas estéticos, afetivos e psico-motores das crianças e adolescentes, como uma panacéia que sarará a terra brasilis da indigência cultural e falência moral. As notas dos alunos subiriam vertiginosamente devido aos benefícios para a inteligência e para a memória, revelando mozarts e jobins tupiniquins à rodo.

Os que desvalorizam esse projeto chegam ao cúmulo da ignorância, como certo articulista da revista Rolling Stone nacional, o qual, mesmo admitindo não conhecer o teor do projeto, já saiu dizendo que este deveria ser aborrecido, pois os músicos que ele conhece teriam pulado o muro da escola exatamente para formar bandas. Como se a educação musical coletiva e a prática musical extra-escolar excluíssem uma a outra. Esse falso romantismo e desatento anti-intelectualismo diz muito sobre a qualidade de certa crítica musical no Brasil.

Nem tanto ao mar, nem tanto ao rio. Nem a música na escola pode salvar o mundo e nem sua presença na escola inibe ou limita o talento musical do adolescente. A volta da música à sala de aula não prevê a formação de músicos assim como a disciplina de biologia não pretende formar biólogos ou a de educação física quer formar esportistas. As matérias escolares trabalham com a oferta de conhecimento sobre o mundo em que vivemos e a pedagogia musical não poderá nunca limitar-se ao ensino de notas e escalas, mas também terá que auxiliar na contextualização e interpretação do universo musical das sociedades humanas antigas e contemporâneas, daqui ou d'além mar. A educação musical pode contribuir para a sensibilização da criança às sonoridades diversas, ao ritmo e à prática vocal, mas também pode ajudar o adolescente a compreender o mundo musical-midiático em que está inserido e a descobrir outras formas de se fazer música, outras culturas musicais afastadas de seu ouvido.

Conhecer outras práticas musicais, interpretá-las e ter a possibilidade de reproduzí-las no espaço escolar. As músicas indígenas e folclóricas, as músicas de outras nações latino-americanas, africanas e asiáticas colaboram para o reconhecimento e o respeito às práticas culturais diferentes daquelas que o aluno vivencia no seu dia-a-dia. E ainda, desde que não haja uma celebração acrítica dos gêneros populares e dos estilos pop, se o aluno é levado a entender a música das mídias, sua história e seu contexto extra-musical, ele pode aprender a escutar, pode desenvolver um "ouvido pensante".

Para ler mais sobre o projeto, clique aqui.

Para participar do abaixo-assinado "Quero educação musical na escola", aqui.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

o mito da música que transforma a água

" Música bonita gera cristais de gelo bonitos e música feia gera cristais de gelo feios ". E que tal essa frase? " Palavras boas e positivas geram cristais de gelo bonitos e simétricos ". O autor dessa teoria é o fotógrafo japonês Masaru Emoto (falecido em 2014). Parece difícil alguém com o ensino médio completo acreditar nisso, mas não só existe gente grande acreditando como tem gente usando essas conclusões em palestras sobre música sacra! O experimento de Masaru Emoto consistiu em tocar várias músicas próximo a recipientes com água. Em seguida, a água foi congelada e, com um microscópio, Emoto analisou as moléculas de água. Os cristais de água que "ouviram" música clássica ficaram bonitos e simétricos, ao passo que os cristais de água que "ouviram" música pop eram feios. Não bastasse, Emoto também testou a água falando com ela durante um mês. Ele dizia palavras amorosas e positivas para um recipiente e palavras de ódio e negativas par

paula fernandes e os espíritos compositores

A cantora Paula Fernandes disse em um recente programa de TV que seu processo de composição é, segundo suas palavras, “altamente intuitivo, pra não dizer mediúnico”. Foi a senha para o desapontamento de alguns admiradores da cantora.  Embora suas músicas falem de um amor casto e monogâmico, muitos fãs evangélicos já estão providenciando o tradicional "vou jogar fora no lixo" dos CDs de Paula Fernandes. Parece que a apologia do amor fiel só é bem-vinda quando dita por um conselheiro cristão. Paula foi ao programa Show Business , de João Dória Jr., e se declarou espírita.  Falou ainda que não tem preconceito religioso, “mesmo porque Deus é um só”. Em seguida, ela disse que não compõe sozinha, que às vezes, nas letras de suas canções, ela lê “palavras que não sabe o significado”. O que a cantora quis dizer com "palavras que não sei o significado"? Fiz uma breve varredura nas suas letras e, verificando que o nível léxico dos versos não é de nenhu

Bob Dylan e a religião

O cantor e compositor Bob Dylan completou 80 anos de idade e está recebendo as devidas lembranças. O cantor não é admirado pela sua voz ou pelos seus solos de guitarra. Suas músicas não falam dos temas românticos rotineiros, seu show não tem coreografias esfuziantes e é capaz de este que vos escreve ter um ataque de sonolência ao ouvi-lo por mais de 20 minutos. Mas Bob Dylan é um dos compositores mais celebrados por pessoas que valorizam poesia - o que motivou a Academia Sueca a lhe outorgar um prêmio Nobel de Literatura. De fato, sem entrar na velha discussão "letra de música é poesia?", as letras das canções de Dylan possuem lirismo e força, fugindo do tratamento comum/vulgar dos temas políticos, sociais e existenciais. No início de sua carreira musical, Dylan era visto pelos fãs e pela crítica como o substituto do cantor Woody Guthrie, célebre pelo seu ativismo social e pela simplicidade de sua música. Assim como Guthrie, o jovem Bob Dylan empunhava apenas seu violão e ent