Em 1998, Alex Klein consolidava uma brilhante carreira como o primeiro oboísta da Sinfônica de Chicago. Junto com o pianista Nelson Freire e o violoncelista Antonio Meneses, forma uma tríade de músicos brasileiros com livre trânsito nas grandes salas de música do mundo. Mas também foi há 10 anos, que ele percebeu os primeiros sinais da distonia, doença que viria a mudar por completo seus planos musicais.
A distonia focal é uma doença neurológica que provoca contrações involuntárias dos músculos, ocasionando deformações na postura e nos movimentos musculares. Segundo o próprio Klein, "para tocar oboé surgiu uma dificuldade que não existia antes. Danificou-se a linha de conhecimento que montei durante 30 anos para tocar de forma precisa e afinada, para soprar da maneira correta. Já a linha de conhecimento para tocar corne inglês não foi afetada. Parece misterioso, mas a neurologia explica".
Klein revela que "quando o diagnóstico se confirmou, comecei a pensar em outras opções, como ir para a Finlândia estudar regência. Ao mesmo tempo, recebi o convite para dirigir a Oficina de Música de Curitiba e comecei lá em janeiro de 2002". O músico também diz que entre 2003 e 2004 chegou "ao fundo do poço", enfrentado um divórcio, sofrendo com tendinite, depressão e altos custos do tratamento. Ele conta que, "sem emprego, tive que voltar para o Brasil. Estava gastando 3.500 dólares por mês em tratamentos médicos. Voltei para a casa dos meus pais. Em 2004, no que seria o ponto alto da minha carreira, eu estava no fundo do poço. Fiquei no sofá da sala três meses vendo televisão. Tentava estudar, mas logo vinha a tendinite. Eu ainda conseguia tocar alguma coisa de oboé e precisava fazer a transição de carreira para a regência".
Alex Klein começou a participar de um festival no Panamá e de outro na China. Este último chama-se "Festival de Oboé Alex Klein" e reúne estudantes que chegam a viajar três dias de trem para conhecê-lo, como diz em outra reportagem. Como regente, apresenta-se no Festival de Música Saint Barts, no Caribe, além de ser o principal regente convidado do Festival Sunflower no Kansas (EUA), que reúne músicos das grandes orquestra americanas. Desde 2006, está a frente do Festival de Música de Santa Catarina e em 2007 tornou-se professor de oboé do Conservatório Oberlin, em Ohio (EUA), onde ele mesmo se graduou nos anos 1980.
Como João Carlos Martins, Klein precisou redirecionar sua carreira musical, lutando para manter-se ativo no mundo da música. Se seus planos eram de aposentar-se após 30 ou 40 anos como oboísta, paradoxalmente alguns sonhos viraram realidade após sua dolorosa saída de Chicago. Ele não é mais um instrumentista. O também grande detentor de prêmios com o oboé(como os Grammys na categoria erudita) agora está tendo chances de realizar projetos acalentados anteriormente, como dar aulas para jovens músicos e reger orquestras. "Quanto à distonia", diz ele, "as coisas estão melhorando. Lancei recentemente um CD de [música de]câmara" .
Lições de vida nem sempre são bem-vindas em nosso mundinho da crítica da razão cínica, mas Alex Klein tem superado o que poderia ter sido o fim de uma carreira com o surgimento de outra: inesperada, traumática, mas extremamente recompensadora depois que se chega al otro lado del río. Agora, de um novo ponto de vista, ele já pode dizer: "aprendi que para ultrapassar problemas precisamos saber quem somos e para que somos. São poucas as coisas que importam. A vida, na verdade, é bem simples".
Leia aqui a entrevista completa que Alex Klein concedeu à revista VivaMúsica!
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