Edmundo, vulgo Animal, perdeu a senha quando estava na fila dos predestinados à glória dos estádios lotados. Como penalidade, não poderia pisar jamais o gramado prometido dos heróis do futebol. Relembremos sua trajetória de proezas tão espetaculares quanto funestas.
Após a conquista de um bicampeonato brasileiro e no auge da fama, a apaixonada torcida do Palmeiras via tudo e a tudo perdoava: o Animal era um insensato dentro e fora do campo, mas resolvia todas as duras paradas da equipe. Porém, Edmundo é seduzido por times italianos, resolve trocar as aventuras tupis do Maracanã pelos triunfos eternos do Coliseu e deixa a torcida gritando à toa: “Fica Edmundo / Você vai ser campeão do mundo”. Ingênuo Animal. Chega à terra dos Césares e nem late nem morde. Uma frustração só.
Em 1997, ninguém jogou mais do que Edmundo. Um dia, ele tem a chance de bater o recorde de gols numa mesma partida do campeonato. Só há um problema: esta chance é um pênalti. Como aluno formado na Academia Roberto Baggio de pênaltis decisivos, Edmundo não decepciona e perde o pênalti. Mesmo assim, é campeão e, como prêmio, convocação para a seleção canarinho que chega à final da Copa do Mundo de 98. Ronaldo desmaia e Edmundo é escalado contra a França de Zidane. Na hora de entrar em campo, Zagallo opta por um Ronaldo alquebrado e Edmundo, mais uma vez, sofre a penalidade máxima de quase poder mudar a história.
Dois anos depois, o animal renegado está na final do primeiro Mundial de Clubes da FIFA. Hora do pênalti. Como em outras vezes, o animal se desconcentra, se apequena, vê onze goleiros debaixo da trave, cada um com o rosto daqueles em que deu uma cotovelada, parece possuído por um chutador de futebol americano e deixa escapar a vitória. Condenado a carregar o peso de todos os pênaltis perdidos, ele é o único ser humano a ser atingido pelo bug do milênio. No ano 2000, ele veste as brancas túnicas do Santos e nem assim está longe das trevas: erra dois pênaltis contra o Vasco. Na mesma partida. Se os santos não ajudam, ele vai para o Cruzeiro e perde outro pênalti. Contra o Vasco.
Depois de cometer todas as barbaridades possíveis fora do campo, de atropelamento à empréstimo pro Luxemburgo, e dentro do campo, perdendo de novo aquilo que ele quer esquecer em decisões contra o Flamengo e o Sport, o animal está cansado, injuriado, abatido. Raspa a cabeça como que para não ter que olhar no espelho e encarar um anti-herói, um perdedor que tem o drible de manés, o chute de pelés, o fôlego de cafus e a cabeça dos edmundos. Ao ser perguntado se confirma a aposentadoria, ele responde, resignado: “Se Deus quiser”.
Mas deus, digo, Eurico, não quis: “Não aceito. E quando digo que não aceito, não se fala mais nisso”, vocifera sem um pingo de espiritualidade, a não ser aquela com a qual comanda o Clube de Regatas Vasco Miranda.
Após a conquista de um bicampeonato brasileiro e no auge da fama, a apaixonada torcida do Palmeiras via tudo e a tudo perdoava: o Animal era um insensato dentro e fora do campo, mas resolvia todas as duras paradas da equipe. Porém, Edmundo é seduzido por times italianos, resolve trocar as aventuras tupis do Maracanã pelos triunfos eternos do Coliseu e deixa a torcida gritando à toa: “Fica Edmundo / Você vai ser campeão do mundo”. Ingênuo Animal. Chega à terra dos Césares e nem late nem morde. Uma frustração só.
Em 1997, ninguém jogou mais do que Edmundo. Um dia, ele tem a chance de bater o recorde de gols numa mesma partida do campeonato. Só há um problema: esta chance é um pênalti. Como aluno formado na Academia Roberto Baggio de pênaltis decisivos, Edmundo não decepciona e perde o pênalti. Mesmo assim, é campeão e, como prêmio, convocação para a seleção canarinho que chega à final da Copa do Mundo de 98. Ronaldo desmaia e Edmundo é escalado contra a França de Zidane. Na hora de entrar em campo, Zagallo opta por um Ronaldo alquebrado e Edmundo, mais uma vez, sofre a penalidade máxima de quase poder mudar a história.
Dois anos depois, o animal renegado está na final do primeiro Mundial de Clubes da FIFA. Hora do pênalti. Como em outras vezes, o animal se desconcentra, se apequena, vê onze goleiros debaixo da trave, cada um com o rosto daqueles em que deu uma cotovelada, parece possuído por um chutador de futebol americano e deixa escapar a vitória. Condenado a carregar o peso de todos os pênaltis perdidos, ele é o único ser humano a ser atingido pelo bug do milênio. No ano 2000, ele veste as brancas túnicas do Santos e nem assim está longe das trevas: erra dois pênaltis contra o Vasco. Na mesma partida. Se os santos não ajudam, ele vai para o Cruzeiro e perde outro pênalti. Contra o Vasco.
Depois de cometer todas as barbaridades possíveis fora do campo, de atropelamento à empréstimo pro Luxemburgo, e dentro do campo, perdendo de novo aquilo que ele quer esquecer em decisões contra o Flamengo e o Sport, o animal está cansado, injuriado, abatido. Raspa a cabeça como que para não ter que olhar no espelho e encarar um anti-herói, um perdedor que tem o drible de manés, o chute de pelés, o fôlego de cafus e a cabeça dos edmundos. Ao ser perguntado se confirma a aposentadoria, ele responde, resignado: “Se Deus quiser”.
Mas deus, digo, Eurico, não quis: “Não aceito. E quando digo que não aceito, não se fala mais nisso”, vocifera sem um pingo de espiritualidade, a não ser aquela com a qual comanda o Clube de Regatas Vasco Miranda.
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Pobre Animal. Nem direito a um deus de verdade ele tem. Já é tarde, ele dorme, ele sonha. Sonha que Zagallo tira Ronaldo na final da Copa da França. Sonha que ele entra e com três lances geniais, chamados pela imprensa francesa de “le carnaval des animaux”, empata a peleja. E se a final está empatada, a decisão só pode ser com cobrança de... Na cama, Edmundo prende a respiração, o animal agoniza, mas por misericórdia, agora sim, divina, ele acorda antes de ser relacionado para a marca do pênalti.
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