Pular para o conteúdo principal

fábulas menores - opus 6

Das notícias que correm o mundo, há aquelas que nos surpreendem. Jornalistas iraquianos, desportistas brasileiros, cantores de volta à fama via YouTube. Nossa seção "fábulas menores de moral mínima" pega carona no noticiário-mentira e humor-verdade, afinal, certas notícias parecem fábulas. E se não são, nos encarregamos de torná-las fábulas. Mas a moral mínima é por conta dos protagonistas reais dessas histórias.

O santo sapateiro

Lembra quando Bush ganhou (mas não levou) duas sapatadas de um jornalista iraquiano? O atirador ruim de mira acabou de sair da prisão e foi presenteado com uma casa maior para morar, um carro novo, uma homenagem da cidade natal em forma de sapato-estátua, mais plano de saúde, mais uma bela quantia enviada por admiradores, mais propostas de casamento. Sinais dos tempos: já vão longe os dias em que as celebridades iraquianas eram mortíferos homens-bomba que não sobreviviam para ajuntar tesouros que a traça corrói.

Nelsinho Piquet, o kamikase

Depois de Nelsinho Piquet revelar que agiu como um bravo piloto no cumprimento do desonroso dever ao obedecer ordens da Renault para bater o carro na pista, o que, coincidentemente, levou o companheiro de equipe Fernando Alonso a ganhar o Grande Prêmio de Cingapura no ano passado; depois do chefe acusado, Flavio Briatore, duvidar da masculinidade de Nelsinho Piquet; depois da Renault demitir Briatore mas não contestar as acusações de armação, agora todo mundo vai entender o que queriam dizer com “o circo da Fórmula 1”.

Eles são os caras!

Dunga no comando vitorioso da seleção, Barrichello no volante vitorioso de seu carro: falta quanto tempo para aprontarem um comercial de cerveja com esses brasileiros guerreiros ou para ouvirmos o Lula dizer que o brasileiro é como o Dunga e o Rubinho que não desistem nunca? Em alta na cotação da torcida, Dunga cogita até voltar a vestir aquelas camisas Sidney Magal de seus primeiros meses como técnico. No caso de Rubinho, que corre (sim, agora corre) o sério risco de ser campeão, já tem humorista preocupado com a falta de assunto em 2010.

Biafra encontra Ícaro

Quando Byafra gravou seu maior sucesso, “Sonho de Ícaro”, dos inesquecíveis versos “Voar, voar, subir, subir / Ir por onde for”, não imaginava que a parte da letra que diz “Descer até o céu cair” iria se cumprir profeticamente pela graça de um saltador de parapente que despencou sobre ele como um Ícaro desgovernado. O reaparecimento de cantores na mídia por obra de uma videocacetada ainda vai tirar do ostracismo velhos ídolos: se Byafra foi atingido pela própria metáfora, se Vanusa remixou o Hino Nacional, não quero nem imaginar como será o retorno de Gretchen?

A volta dos que não foram

Depois da busca, apreensão e entrevista do cantor Belchior, desaparecido há dois anos pelas contas do Fantástico, desaparecido há mais de vinte pelas contas dos brasileiros, a Globo já inicia os contatos para ir atrás de Baltazar, o "artilheiro de Deus" e do campeonato brasileiro nos anos 80. Se encontrarem Gasparzinho, a festa natalina desse ano promete ser a maior de todos os tempos. Afinal, não é em todo milênio que se pode contar com os três reis magos da tradição católica: Gaspar, Baltazar e Belchior.

Comentários

Unknown disse…
Este comentário foi removido pelo autor.

Postagens mais visitadas deste blog

o mito da música que transforma a água

" Música bonita gera cristais de gelo bonitos e música feia gera cristais de gelo feios ". E que tal essa frase? " Palavras boas e positivas geram cristais de gelo bonitos e simétricos ". O autor dessa teoria é o fotógrafo japonês Masaru Emoto (falecido em 2014). Parece difícil alguém com o ensino médio completo acreditar nisso, mas não só existe gente grande acreditando como tem gente usando essas conclusões em palestras sobre música sacra! O experimento de Masaru Emoto consistiu em tocar várias músicas próximo a recipientes com água. Em seguida, a água foi congelada e, com um microscópio, Emoto analisou as moléculas de água. Os cristais de água que "ouviram" música clássica ficaram bonitos e simétricos, ao passo que os cristais de água que "ouviram" música pop eram feios. Não bastasse, Emoto também testou a água falando com ela durante um mês. Ele dizia palavras amorosas e positivas para um recipiente e palavras de ódio e negativas par

paula fernandes e os espíritos compositores

A cantora Paula Fernandes disse em um recente programa de TV que seu processo de composição é, segundo suas palavras, “altamente intuitivo, pra não dizer mediúnico”. Foi a senha para o desapontamento de alguns admiradores da cantora.  Embora suas músicas falem de um amor casto e monogâmico, muitos fãs evangélicos já estão providenciando o tradicional "vou jogar fora no lixo" dos CDs de Paula Fernandes. Parece que a apologia do amor fiel só é bem-vinda quando dita por um conselheiro cristão. Paula foi ao programa Show Business , de João Dória Jr., e se declarou espírita.  Falou ainda que não tem preconceito religioso, “mesmo porque Deus é um só”. Em seguida, ela disse que não compõe sozinha, que às vezes, nas letras de suas canções, ela lê “palavras que não sabe o significado”. O que a cantora quis dizer com "palavras que não sei o significado"? Fiz uma breve varredura nas suas letras e, verificando que o nível léxico dos versos não é de nenhu

Nabucodonosor e a música da Babilônia

Quando visitei o museu arqueológico Paulo Bork (Unasp - EC), vi um tijolo datado de 600 a.C. cuja inscrição em escrita cuneiforme diz: “Eu sou Nabucodonosor, rei de Babilônia, provedor dos templos de Ezágila e Égila e primogênito de Nebupolasar, rei de Babilônia”. Lembrei, então, que nas minhas aulas de história da música costumo mostrar a foto de uma lira de Ur (Ur era uma cidade da região da Mesopotâmia, onde se localizava Babilônia e onde atualmente se localiza o Iraque). Certamente, a lira integrava o corpo de instrumentos da música dos templos durante o reinado de Nabucodonosor. Fig 1: a lira de Ur No sítio arqueológico de Ur (a mesma Ur dos Caldeus citada em textos bíblicos) foram encontradas nove liras e duas harpas, entre as quais, a lira sumeriana, cuja caixa de ressonância é adornada com uma escultura em forma de cabeça bovina. As liras são citadas em um dos cultos oferecidos ao rei Nabucodonosor, conforme relato no livro bíblico de Daniel, capítulo 3. Aliás, n