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Haiti : um caso de esperança e profecia?

O Time.com noticia uma história sobre Junon Brutus, uma mulher haitiana adventista do sétimo dia, que teria avisado o presidente do Haiti sobre tragédia iminente. A seguir um resumo da reportagem [Os trechos entre aspas e em itálico são tradução direta]:

“Pessoas em Port-au-Prince chamam Junon Brutus de Soeur Junon (Irmã Junon), e descrevem-na como profetisa e mensageira de Deus”. Hoje com 42 anos de idade, Junon Brutus deixou o Haiti aos 11 anos e mora atualmente em Orlando, na Flórida, onde trabalha como corretora especializada em investimentos em imóveis comerciais.

“Ela disse que retornou ao Haiti para entregar a mensagem de Deus. Em janeiro de 2007, ela disse que ouviu a voz de Deus revelar-lhe que um desastre atingiria o Haiti”, (...). Ela tentou falar com o presidente haitiano René Préval, mas não foi recebida. “Ele não ia me ver, diz Junon, Ninguém acreditou em mim, e eles pensaram que eu era uma maluca”.

Após a tragédia, “o governo e o povo do Haiti estão lhe tratando mais seriamente. Para marcar o aniversário do terremoto de um mês, ela pediu três dias de jejum, dizendo que Deus queria que os haitianos encerrassem esse período com uma oferta de arrependimento. O governo haitiano aceitou o pedido e decidiu acrescentar um dia extra de férias durante uma época [o Carnaval] cheia da típica música Kompa”.

Junon Brutus participou de cerimônia oficial ao lado do presidente Préval, em que o discurso “de Préval para o povo foi seguido por uma oração de Brutus. É o tipo de bênção que o presidente precisa durante um tempo em que pequenos protestos contra o governo estão brotando nas ruas com gritos de ‘Abaixo Préval’”.

“Mas a política não é o que interessa a Brutus, casada e mãe de três filhos. Ela (...) espera que desta vez o governo ouça o que ela chama de ‘plano de Deus para o Haiti’. Ela tem um caderno cheio de planos e desenhos do novo Haiti, todos criados através do que ela chama de ‘design inteligente’”. Diz a irmã Junon: “O Haiti será uma luz no mundo. O que precisa ser feito, nenhum ser humano pode fazer. Haverá sete anos de abundância e o Haiti será uma maravilha do mundo”.

“Claro, há céticos que dizem que Brutus é uma fraude. Mas ela nega ter ambições mundanas, insistindo que não está associada a uma determinada organização ou partido político, mas é apenas uma serva de Deus. A julgar pelo crescente reconhecimento do seu nome nas ruas de Port-au-Prince, as massas haitianas estão sendo atraídas para a sua mensagem. ‘Irmã Junon é uma profeta. Quando ela diz alguma coisa, você sente’, diz Damis Yves, 28 anos”.

Junon continua no Haiti “realizando sua ronda diária de confortar os sobreviventes”. Para o pastor evangélico Enesse Joseph, apresentador de um programa religioso na Rádio Lumiere, a irmã Junon oferece esperança: “Ela está trazendo uma mensagem que eu não tenho que verificar”, diz Joseph. Ela veio com a palavra de Deus. Então, por que eu não deveria acreditar?”

“Mesmo autoproclamados não-religiosos como Wudeluene Voltaire, 25 anos, tem demonstrado fervor. Voltaire diz que decidiu participar nos três dias de jejum porque queria o perdão de Deus. Ela conta: ‘Eu acredito que Deus lhe enviou em missão. O Haiti vai ficar melhor com o seu plano’”.

* * * * *

Meus comentários: A história tem elementos dúbios: apresenta sobrenomes de duplo sentido (“Brutus” para uma vidente prestativa, “Voltaire” para uma suposta ex-cética), menciona que os novos planos para o Haiti teriam sido traçados por meio do “design inteligente” (parece deboche da grande mídia a essa teoria), e fala em “sete anos de abundância” (sete anos de fartura?) para o país.

No entanto, a colaboração de Junon Brutus em trabalhos sociais já foi citada em reportagens (de 25/02/2008), como se lê no site WPTV.com. Nunca foi fácil acreditar em predições e profetas. Por isso, cumpre-nos examinar os frutos, cuidar com o engano: deveres de qualquer pessoa, cristã ou não.

De acordo com o site da igreja adventista no Haiti (www.haitiansda.com), "líderes adventistas não têm tanta certeza se Junon Brutus merece crédito público por dom profético. Alguns se sentem desconfortáveis com sua publicidade e com as demonstrações sobre como Deus lhe deu instruções para que o "povo haitiano cumprisse três dias de jejum". O site afirma ainda:

“Enquanto o resto do país é receptivo à inspiração divina de Junon, alguns líderes adventistas declaram-na inapta para ser um mensageiro de Deus (...). Por outro lado, enquanto os sacerdotes da religião vodu também estão receptivos à iniciativa de Junon, pois querem desempenhar um papel no programa. O fato de que os sacerdotes vodu querem uma parte da ação é compreensível. Eles querem que o país os reconheça como uma religião legítima.

O que é preocupante é a reação negativa de alguns líderes da igreja. Pede-se a esses líderes que recuem e deixem que Deus faça o seu trabalho em um país que foi devastado por malfeitores. O fato de que os líderes de todas as religiões podem se unir e reconhecer Deus é em si um milagre sem precedentes no Haiti”.

Veja também:

Matéria (em inglês) do site Time.com, aqui.

Declaração completa do site Haitiansda.com (em inglês) sobre as implicações das ações de Junon Brutus, aqui [desça a página até a seção "New Updates 02/11/10". O site pode apresentar instabilidade].

A foto acima mostra Junon Brutus em encontro de oração em Champ Mars (em 12/02/10).

Comentários

André Reis disse…
É interessante que essas 'profecias' quase sempre vêm à tona APÓS o evento que prediziam ocorrer...

Como o sonho de um adventista americano tido supostamente nos anos 80 de que Jesus voltaria quando os EUA tivesssem um presidente negro. Por décadas o sonho ficou secreto e só foi revelado após as eleições.

Obviamente não devemos ser céticos, porém a metodologia desses "profetas modernos" sem dúvida não ajuda nossa "falta de fé".
joêzer disse…
tentei descobrir se ela de fato tentou avisar o presidente do Haiti, mas não descobri nada. embora duvido que alguma providência fosse tomada (tirar o povo do país inteiro?).

tem um livro do Monteiro Lobato (não me recordo agora o título), dos anos 1920 ou 30, em que um negro disputa a eleição contra uma mulher e chega à presidência dos EUA!

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