Uma paulada no falso profeta que se mete em negociatas e
outra no negociante que prediz falsamente que a riqueza do petróleo será de
todos. Isto é Sangue Negro, a história de um homem movendo montanhas pra encontrar petróleo e de um
religioso atrás de almas e dólares.
O império do automóvel, do petróleo e dos computadores foi construído
por empreendedores que, sem eira nem beira, e por seus próprios méritos
espalharam a riqueza mundo afora. Eles seriam os self-made-men, um mito do capitalismo norte-americano. O mito está menos na
impressionante persistência do empreendedorismo e mais na distribuição da
riqueza. As megaempresas foram erguidas à custa de muita exploração de
mão-de-obra, de chantagens, subornos e acordos espúrios entre governos e
indústrias. Um enriquece muito, alguns enriquecem bastante e muitos não enriquecem nada.
Como eu disse, trata-se de um mito, mas não tem nada de
conto de fadas. Muito sangue correu. Aliás, o título original do filme Sangue
Negro é There Will Be Blood (“Haverá sangue”, em bom português, “vai ter sangue”).
O grande embate na história se dá entre o caçador de
petróleo Daniel Plainview e um caçador de almas, o pastor Eli Sunday.
Daniel Plainview, visionário e perfeccionista como todo
mítico empreendedor, compra a baixo custo a terra (onde há petróleo não explorado)
de pequenos proprietários com falsas promessas de prosperidade. Eli Sunday,
manipulador como todo falso profeta, mantém sua congregação à base de
encenações de milagres e exorcismos.
Plainview precisa da confiança da congregação do pastor; o pastor negocia porcentagens e comissões em troca do batismo do empreendedor. O perfurador Plainview tem na indústria a sua religião, sua transcendência perdida. O pregador Eli Sunday faz da religião a sua indústria. O capitalismo “social” passa longe da visão de Plainview. O cristianismo “puro e simples” não faz parte do trabalho de Sunday.
Plainview precisa da confiança da congregação do pastor; o pastor negocia porcentagens e comissões em troca do batismo do empreendedor. O perfurador Plainview tem na indústria a sua religião, sua transcendência perdida. O pregador Eli Sunday faz da religião a sua indústria. O capitalismo “social” passa longe da visão de Plainview. O cristianismo “puro e simples” não faz parte do trabalho de Sunday.
O pacto simbólico entre capital e religião tem como
consequência o derramamento de sangue. Mas nesse caso, o sangue não serve
como remissão de crimes e pecados. De fato, o sangue é negro como o petróleo
cobiçado. Por causa de falsos profetas, mais interessados em comissões do que
em conversões, a religião é a maior perdedora.
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